A proporção da infraestrutura no Cerrado Mineiro impressionou produtores de países acostumados a cafeicultura familiar ou em pequena escala. “Só não faço um armazém como este lá na Guatemala porque não gostei muito da cor”, brinca o produtor Pedro Echeverria, se referindo ao novo investimento da Expocaccer - Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado Ltda. O novo armazém, que entrou em funcionamento neste ano, tem capacidade para receber 10 mil sacas de café por dia.
Os olhares mais curiosos na visita feita às instalações de Patrocínio (MG) são de cafeicultores da Guatemala, Honduras e Costa Rica, que vieram ao Brasil a convite da Fazenda Daterra, entre os dias 7 e 12 de agosto. Mas não foi só o tamanho da Cooperativa e da propriedade anfitriã que fizeram brilhar os olhos dos produtores. A oportunidade de compartilhar conhecimentos de diferentes vivências marcou o “Como é o seu país?”, um dos questionamentos mais feitos, em diferentes línguas e sotaques ao longo da semana passada no Brasil.
Entre visitas a outras fazendas próximas, como a Congonhas, e à própria sede da Expocaccer, os produtores realizaram debates e apresentaram suas próprias realidades uns aos outros.
A Daterra compartilhou suas próprias experiências enquanto pioneira na busca pela sustentabilidade no café do Brasil. Hoje, a propriedade é referência no setor e segundo Gabriel Agrelli Moreira, coordenador de Marketing Internacional da Daterra, que recebeu os produtores, a Fazenda conseguiu demonstrar seu potencial para o mercado exportador. “O início foi de investimento e contato com os compradores para explicar sobre a necessidade de manter preços que fossem condizentes com o produto. Hoje, já conseguimos atingir um bom nível de confiança com nossos clientes”.
Para tratar também do relacionamento entre os produtores compradores de café, a Daterra convidou o casal Beatriz Cristina Castro e Maurício Carbonell, da Colômbia, compradores e vendedores do grão, que acompanharam a viagem e colocaram seu ponto de vista durante os debates.
Para complementar as informações de mercado, Chad Trewick, consultor da SCAA, também esteve na comitiva. “Precisamos estar em contato e criar esse relacionamento de mais confiança com os produtores”, pontuou em sua apresentação, que instigou questionamentos dos representantes do agronegócio.
Entre os participantes convidados, Ludwin Aguilar, Merlin Ramirez, Roberto Salazar e Bernard Ornilla, apresentaram sua Cooperativa Cocafelol, de Honduras. O quarteto falou sobre um de seus projetos mais ousados e que diz respeito justamente a sustentabilidade. “Queremos ter uma cafeicultura 100% orgânica”. Para atingir o objetivo, a Cooperativa está investindo em fabricar seus próprios produtos, de maneira a utilizar a própria mucilagem do café como fertilizantes e para proteção foliar.
A iniciativa foi uma das que despertou interesse dos demais produtores. “Nossas produções são mais suscetíveis à umidade e como estamos iniciando o ciclo da La Niña poderemos ter mais ataques de fungos”, apontou o produtor Ricardo Gurdian, da Fazenda Miramonte, de Costa Rica. Ele faz parte da 4ª geração de cafeicultores da família e tem esperança de levar a cultura adiante através da filha, que já inicia aproximação com os negócios da fazenda.
Entre cuppings de cafés exóticos oferecidos na Daterra e a visita ao Instituto Agronômico de Campinas, a curiosidade pela realidade de outros países produtores deve gerar bons frutos. “Já estamos conversando para marcar um próximo encontro entre nós”, contou Pedro, que administra na Guatemala a Volcanic Coffee Farms, conjunto de seis fazendas da família.