A necessidade, como em tantos casos, gerou a tecnologia hoje utilizada na colheita do café canéfora (conilon ou robusta). “A mão de obra tem sido um dos maiores gargalos da agricultura brasileira. Ao longo do tempo houve um êxodo rural no estado de Rondônia e em outras áreas”. A partir do problema, surgiu a busca por máquinas adequadas, primeiro no Espírito Santo e depois em Rondônia.
A colheita semimecanizada veio a partir da adaptação da máquina utilizada na cultura do feijão. As máquinas recolhedoras e trilhadoras do café são baseadas no sistema de podas e renovação anual e/ou periódicas das lavouras. O aprimoramento veio quando um produtor capixaba colaborou com os testes e ajudou a fazer mais uma adaptação: o recolhimento da lona. “É um processo sem volta”, dispara o pesquisador responsável por este processo na Embrapa Rondônia, Enrique Alves, que explica as duas etapas necessárias hoje:
Manual - o produtor deve esticar a lona ao longo da rua. Três a quatro trabalhadores realizam a poda, retirando os galhos ainda com os frutos e depositando-os sobre a lona.
Mecanizado - o maquinário fica no final da rua onde a lona foi espalhada – se possível onde exista uma área de manobra. A própria máquina recolhe a lona, com os galhos. Após o recolhimento, o equipamento faz a chamada ‘trilhagem’ onde os frutos do café são separados dos galhos.
Custos e tempo
A técnica permite, em primeiro plano, ultrapassar a barreira da mão de obra escassa. “O que antes precisava de 20 a 25 pessoas para ser feito, agora necessita de um tratorista e três ou quatro pessoas para dar suporte na poda - e com a lona”, explica Alves, que vê hoje muitos produtores preferindo manter apenas trabalhadores regulares durante todo ano.
Além da economia com mão de obra, a técnica pode potencializar o rendimento da lavoura. “Existem modelos que fazem 6 mil litros por hora. A perda daquele café que caía no chão durante a colheita manual, agora é bem menor”. A redução de custo, segundo Enrique, pode variar de 40 a 70%.
“Outra vantagem do processo é que a poda ser feita simultaneamente a colheita”, explica o pesquisador. Em geral, a poda precisa ser feita logo após a colheita, mas no caso do processo manual muitos produtores postergam o trato, prolongando também o tempo de trabalho, que é sintetizado com o uso das máquinas. “Tivemos relato de lavouras que precisariam de 30 dias e, agora, estão sendo colhidas em uma semana”.
Segundo Enrique, os galhos podados, já sem os frutos, podem retornar ao campo. Junto à palha do café, formando compostagem, ou mesmo apenas o material triturado pela máquina pode ser jogado diretamente na área escolhida.
Maquinário acessível
Em Rondônia, a cafeicultura é de base familiar. Segundo a Embrapa, são cerca de 22 mil pequenos produtores. Para esse setor, as máquinas recolhedoras e trilhadoras representam uma oportunidade, pelo custo de aquisição ser razoavelmente baixo.
Além de poder recorrer às linhas de crédito para adquirir o equipamento, a compra e o uso comunitário tem se tornado prática comum. Colher o café de todos os envolvidos se torna possível escalonando e organizando a colheita. Assim, os cafeicultores fazem um cronograma e conseguem colher seus cafés, de diferentes maturações, no ponto correto, com 80% do café maduro.
No estado de Rondônia, o pesquisador explica que já há duas empresas com as máquinas voltadas para o conilon, a Miac e a Palini. Já no Espírito Santo, explica Alves, há outras empresas que trabalham com a comercialização.
Instalando a lavoura para tecnificação
Outro ponto positivo é que o sistema não exige adaptação da lavoura para funcionar. Mas, se você está se preparando para instalar uma lavoura de cafeeiros conilon, o pesquisador aponta sugestões de medidas que são ideais:
Comprimento das linhas: de 60 até 80 metros para espalhar a lona
Largura das linhas: 3 metros
Espaçamento entre linhas: 3,30 metros
Carreadores: nas linhas principais, utilizadas para chegar aos talhões, deixar uma área de recuo, que servirá para espaço de manobra do trator.