O cooperativismo tem sido mola mestre do Brasil e do mundo há séculos. Segundo a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), hoje, uma em cada sete pessoas do planeta está ligada, direta ou indiretamente, a alguma cooperativa. Inicialmente denominada como “Dia da Cooperação” e, posteriormente, chamada de “Dia do Cooperativismo”, a data 2 de julho atualmente é conhecida como “Dia Internacional do Cooperativismo”.
Primeiros passos
Tudo começou em 1844, na cidade de Rochdale-Manchester, no interior da Inglaterra. Sem conseguir comprar o básico para sobreviver nos mercadinhos da região, um grupo de 28 trabalhadores (27 homens e uma mulher) se uniram para montar seu próprio armazém. A proposta era simples, mas engenhosa: comprar alimentos em grande quantidade, para conseguir preços melhores. Tudo o que fosse adquirido seria dividido igualitariamente entre o grupo. Nascia, então, a “Sociedade dos Probos de Rochdale” — primeira cooperativa moderna, que abriu as portas pautada por valores e princípios morais considerados, até hoje, a base do cooperativismo. Entre eles a honestidade, a solidariedade, a equidade e a transparência.
A ideia dos 28 pioneiros prosperou. Quatro anos após sua criação, a cooperativa já contava com 140 membros. Doze anos depois, em 1856, chegou a 3.450 sócios, com um capital social que pulou de 28 libras para 152 mil libras.
Brasileira
No Brasil, a cultura da cooperação é observada desde a época da colonização portuguesa, estimulada por funcionários públicos, militares, profissionais liberais, operários e imigrantes europeus. Oficialmente, o movimento teve início em 1889, em Minas Gerais, com a fundação da Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto — cujo foco era o consumo de produtos agrícolas. Depois dela, surgiram outras cooperativas em Minas e também nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A mais antiga, ainda em atividade
Em 1902, o padre suíço Theodor Amstad fundou a primeira cooperativa de crédito do Brasil: a Sicredi Pioneira, que continua até hoje em atividade. Com sede em Nova Petrópolis (RS), a cooperativa foi a solução encontrada por Amstad para melhorar as vidas dos moradores do município, que até então não contava com nenhum banco.
A partir de 1906, foi a vez de surgirem as cooperativas agropecuárias, idealizadas por produtores rurais e por imigrantes, especialmente de origem alemã e italiana. Esses “brasileiros de coração” trouxeram de seus países de origem a bagagem cultural, o trabalho associativo e a experiência de atividades familiares comunitárias, que os motivaram a se organizar em cooperativas.
Primeiro ciclo
Com a propagação da doutrina cooperativista, as cooperativas tiveram sua expansão num modelo autônomo, voltado para suprir as necessidades dos próprios membros, livrando-se da dependência dos especuladores. Embora houvesse um movimento de difusão do cooperativismo, poucas eram as pessoas informadas sobre o assunto. Faltava de tudo um pouco, desde material apropriado à criação de uma entidade de representação que congregasse e defendesse todas cooperativas.
Marco histórico
Em 2 de dezembro de 1969, o cooperativismo ganhou sua própria entidade de representação. Naquele dia foi criada a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e, no ano seguinte, a entidade foi registrada em cartório. Nascia formalmente aquela que é a única representante e defensora dos interesses do cooperativismo nacional. Sociedade civil e sem fins lucrativos, com neutralidade política e religiosa.
Dois anos depois, a Lei 5.764/71 disciplinou a criação de cooperativas com a instituição de um regime jurídico próprio, destacando o papel de representação da OCB, mas trazendo ainda alguns pontos que restringiam, em parte, a autonomia dos associados. Essa limitação foi superada pela Constituição de 1988, que proibiu a interferência do Estado nas associações, dando início efetivamente à autogestão do cooperativismo.
Reconhecimento internacional
Em 1995, o cooperativismo brasileiro ganhou reconhecimento internacional. Roberto Rodrigues, ex-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, foi eleito o primeiro não europeu a presidir a Aliança Cooperativista Internacional (ACI). Este fato contribuiu também para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras.
Reforço para a educação cooperativista
No ano de 1998 foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). A mais nova instituição do Sistema “S” veio somar à OCB com o viés da educação cooperativista. O Sescoop é responsável pelo ensino, formação, profissional, organização e promoção social dos trabalhadores, associados e funcionários das cooperativas brasileiras.
Representação sindical para as cooperativas
Sete anos depois, em 2005, a formação do Sistema OCB se completa com a criação da entidade que iria responder pela representação sindical das cooperativas. Em atuação há 11 anos, a Confederação Nacional das Cooperativas (CNCoop) defende os interesses da categoria econômica, coordenando o Sistema Sindical Cooperativista. E, nessa missão, ela conta também com federações e sindicatos de cooperativas.
Cooperativismo na cafeicultura
Na cafeicultura, de modo especial, as cooperativas de café são atores-chave na geração de renda no campo, promoção da resiliência dos produtores a choques externos e consecução de todas as dimensões da sustentabilidade. A organização dos produtores em cooperativas permite que pequenos e grandes cafeicultores tenham as mesmas condições de acesso ao mercado e à tecnologia. Hoje, uma das principais representações das cooperativas de produção cafeeira é o Conselho Nacional do Café (CNC), que atua como braço operacional da OCB.
Segundo o presidente do CNC, Silas Brasileiro, aproximadamente um terço da produção brasileira de café passa por cooperativas. Os produtores cooperados têm acesso a serviços integrados que ajudam a aumentar sua resiliência contra choques externos e contribuem para a transparência do mercado.
“Os cafés produzidos e comercializados pelas cooperativas brasileiras são sustentáveis, principalmente porque os serviços oferecidos aos produtores cooperados são ações práticas alinhadas aos objetivos que a OCB busca alcançar: renda e bem estar; transparência de mercado; inclusão de jovens e mulheres e uma produção sustentável de café como um todo”.
Entre esses serviços, o CNC destaca a existência de: (i) equipe de agrônomos e técnicos que oferecem orientação para o uso de novas tecnologias e uma produção de café mais sustentável;(ii) condições mais vantajosas de acesso a insumos e tecnologias devido ao maior volume de compras e oferta de barter;(iii) serviços pós-colheita (secagem, limpeza, classificação e armazenamento);(iv) acesso a financiamento;(v) acesso facilitado aos mercados nacionais e internacionais e instrumentos de gestão de risco (hedge e barter); e(vi) agregação de valor à produção de café através da industrialização e do estímulo à produção de cafés especiais.
Silas Brasileiro fez questão de destacar o trabalho do Presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, frente à Organização que agrega todas as cooperativas nacionais. “Nosso presidente Márcio Lopes tem feito a grande diferença no comando de uma das instituições mais importantes do país. Sua dedicação e capacidade o credenciaram a ser o segundo brasileiro eleito para uma cadeira na Aliança Cooperativa Internacional (ACI), seguindo os passos do Ministro Roberto Rodrigues. Se somos hoje, no século XXI, fortes como entidades representativas, devemos a esses homens abnegados que não param de lutar pela manutenção das raízes cooperativas”, finalizou.