Nas últimas semanas, as condições de calor e secura têm permanecido na região mais central do Brasil. Deve-se lembrar que é comum períodos de calor mais intenso ocorrerem antes da chegada da estação das chuvas. As poucas chuvas associadas ao calor acima da média no início da primavera surpreenderam a todos em Minas Gerais. O período coincidiu com a florada do café, dificultando, assim, o início do ciclo dessa cultura.
Confira o prognóstico para os próximos meses, preparado pelos pesquisadores da Empresa de Pesquisa de Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Williams Ferreira* (Epamig/Embrapa Café) e Marcelo Ribeiro**.
Condições ENSO (El Niño-Southern Oscillation)
As partes central e leste da região equatorial do Oceano Pacífico têm mantido as temperaturas da superfície abaixo da média, e a circulação atmosférica da região tropical tem sido consistente com a que normalmente ocorre em condições de La Niña. Logo, considera-se que as condições La Niña estão presentes naquele Oceano e podem permanecer durante o próximo verão. O principal efeito, quando esse fenômeno ocorre nessa época do ano, é a grande variabilidade nos eventos de chuva no Sul do Brasil e temperaturas mais amenas na região Sudeste.
A chuva nos próximos dias e para o trimestre
Apesar do volume de chuvas ser maior no mês de outubro em relação a setembro, neste ano, o mês deverá ser mais seco do que o normal em grande parte do Brasil. Nos próximos dias (15 a 21 de outubro), a probabilidade é de que as chuvas ocorram principalmente na região central de Minas Gerais e, posteriormente, se estendam para os estados de São Paulo, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre e para o sudoeste do Amazonas.
Para o próximo trimestre, novembro e dezembro de 2020 e janeiro de 2021, a probabilidade é de que as chuvas ocorram dentro da média, ou pouco abaixo desta, na região central do País. Chuvas abaixo da média são esperadas principalmente no Rio Grande do Sul e chuvas acima da média nos estados do Amazonas e de Roraima.
A chuva em novembro
O volume de chuvas no mês de novembro já é normalmente maior do que em outubro, porém neste mês as chuvas ocorrerão só um pouco acima da média e de modo irregular em todo o Brasil. É esperado que em novembro as chuvas ocorram acima da média em todo o estado de Minas Gerais, principalmente na região das Matas de Minas (Zona da Mata e Vale do Rio Doce) e no noroeste do estado. Existe maior probabilidade de que as chuvas fiquem acima da média também no norte do Mato Grosso e no norte e no leste de Goiás. No sul do Brasil, as chuvas deverão ocorrer abaixo da média do período, principalmente no Rio Grande do Sul.
A chuva em dezembro
Apesar do volume de chuvas em dezembro ser, em grande parte do Brasil, bem superior ao de outubro, é esperado que as chuvas fiquem abaixo da média do mês, principalmente no Norte de Minas e na região metropolitana de Belo Horizonte. Os estados da Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul também poderão apresentar chuvas abaixo da média para este mês. Há pequena probabilidade de chuva acima da média para a região das Matas de Minas e do Noroeste de Minas. É esperado que as chuvas também fiquem acima da média no Paraná e em toda a metade sul do estado de São Paulo.
A chuva em janeiro de 2021
É esperado que as chuvas ocorram abaixo da média na maior parte da região central do País. Em janeiro, as chuvas poderão ficar um pouco acima da média desde o litoral do Rio Grande do Sul até São Paulo e na região central paulista.
As temperaturas
Nos meses de novembro e dezembro a probabilidade é de que as temperaturas fiquem pouco acima da média em São Paulo e no Mato Grosso do Sul. Em janeiro o calor pode ser acima da média no Rio Grande do Sul. Nas demais regiões do Brasil, são esperadas temperaturas dentro da média, ou pouco acima desta. De modo geral, é esperado que no próximo trimestre (novembro e dezembro de 2020 e em janeiro de 2021) as temperaturas ocorram dentro da média no Sul e no Sudeste do Brasil. Em Rondônia, na porção norte da Bahia, em todo o nordeste e no Tocantins, bem como no leste do Pará, é esperado que as temperaturas fiquem acima da média.
O café
As poucas chuvas ocorridas no início da primavera, associadas ao calor acima da média, podem comprometer a produtividade da safra seguinte em função da perda no vingamento de parte das primeiras floradas, além de alta mortalidade de raízes que pode ter ocorrido, principalmente, nas lavouras mais novas. Após um ano de safra alta, ferrugem tardia e clima favorável ao ataque de pragas, como o bicho-mineiro, muitas lavouras encontravam-se depauperadas, fazendo com que os produtores optassem pela realização, principalmente, da poda de esqueletamento. As brotações que ocorrem após este tipo de poda normalmente apresentam deficiência de boro e zinco, sendo importante realizar pulverizações para a correção destes nutrientes.
Considerando a maior probabilidade de ocorrência de chuvas nos próximos dias (15 a 21 de outubro), principalmente na região central de Minas, deve-se aproveitar a oportunidade para realizar a primeira adubação nas regiões em que os solos já apresentam umidade. Deve-se lembrar que lavouras com boa conservação dos solos, maior percentual de matéria orgânica, boas condições nutricionais e bom manejo das plantas espontâneas estão mais bem preparadas para passar por períodos de poucas chuvas, nos quais normalmente pode ocorrer o déficit hídrico.
Prognóstico
A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade (IRI), Met Office Hadley Centre, Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo (ECMWF), Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET (5º DISME)/CPTEC-INPE.
O prognóstico climático faz referência aos fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a Epamig e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e/ou prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira - Pesquisador da Embrapa Café/Epamig Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. williams.ferreira@embrapa.br
**Marcelo Ribeiro - Pesquisador da Epamig na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br