No mês de setembro ocorrerá a Cúpula de Sistemas Alimentares (FSS, sigla em inglês), realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O evento acontecerá durante a semana de Alto Nível de sua Assembleia Geral.
O governo brasileiro, sob coordenação do Ministério das Relações Exteriores (MRE), vem promovendo diálogos com órgãos da administração pública federal e do setor privado sobre os sistemas alimentares domésticos para definir propostas a serem submetidas ao organismo internacional.
Para auxiliar o país a formar sua posição para a cúpula, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) representou a cadeia produtiva cafeeira nacional na rodada de debates que ocorreu na última sexta-feira (14), que teve como foco o tema “Construindo Sistemas Alimentares Resilientes”, e na quarta-feira (12), quando foi abordada a temática “Incentivando a Produção e o Consumo Saudável e Sustentável de Alimentos”.
O diretor geral da entidade, Marcos Matos, apresentou o case de sucesso da resiliência dos cafés do Brasil, centrado em organização, sinergia e eficiência dos segmentos da cafeicultura nacional, o qual gera agregação de valor e maior transferência do preço Free On Board (FOB) da exportação ao cafeicultor.
Segundo ele, o que sustenta a resiliência da atividade cafeeira é a existência da sustentabilidade em seu tripé socioeconômico ambiental. Do lado econômico, há oferta do crédito oficial rural, crescente investimento de recursos próprios dos principais bancos, além do diferencial do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que dispõe R$ 6 bilhões anualmente para atender a todos os segmentos.
“Esse arcabouço financeiro apoia cafeicultores, industriais e exportadores, permitindo equilíbrio na cadeia, que faz com que o Brasil negocie rapidamente suas safras, aproveitando os picos de preço no mercado, por meio de travas futuras e barter. Além disso, no país, o Índice de Preço Externo ao Produtor (IPEP) oscila entre 80% e 91% há 15 anos, muito acima da média das demais nações cafeeiras, que repassam de 40% a 60% do preço FOB. Ou seja, quando agregamos valor ao produto, quem mais ganha é o cafeicultor brasileiro”, explica.
A solidez financeira da cafeicultura nacional também permitiu que o país realizasse investimentos em pesquisa, inovação e tecnologia, resultando em importante preservação do meio ambiente. “O Brasil elevou sua produtividade de seis sacas por hectare, na década de 60, para 33 sacas na safra 2020/21, reduzindo, assim, a área destinada à cultura, a qual saiu de mais de 5 milhões de hectares para pouco mais de 2 milhões de ha, abrindo espaço a outros cultivos e, principalmente, preservando o meio ambiente”, aponta o diretor do Cecafé.
Marcos Matos aponta que o país também demonstra proatividade para ampliar sua sustentabilidade ambiental no agro, com trabalhos focados na otimização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), no Programa de Regularização Ambiental (PRA) e na consolidação do Código Florestal.
“Especificamente sobre o café, ainda existem diversos trabalhos para manejo integrado de pragas, controle biológico, balanço de carbono, rastreabilidade e preservação de recursos naturais, como a água, e de matas nativas nas áreas rurais, que são diferenciais únicos do Brasil, devem ser atrativos para programas internacionais de pagamento e, principalmente, são muito positivos para a imagem externa do país”, relata.
O diretor completa que o respeito ambiental é superior à realidade de outras nações cafeeiras e que a entidade vem intensificando ações para otimizar ainda mais no processo produtivo. “Temos diversas ações que o Cecafé desenvolve para fomentar as boas práticas agrícolas e mitigar e evitar ilicitudes no campo. Refletindo esses esforços e pontuando a relevância social da cafeicultura, majoritariamente exercida por agricultores familiares, que respondem por 72% da atividade no Brasil, estudos da Embrapa comprovam que o Índice de Desenvolvimento Humano é mais elevado onde a cafeicultura está instalada”, conclui.
Consumo saudável e sustentável
Na quarta-feira (12), o gestor de Sustentabilidade do Cecafé, Thiago Masson, contribuiu com os debates a respeito de incentivos à produção e ao consumo saudável e sustentável de alimentos. Ele destaca a inserção global como certificado de qualidade e segurança da cafeicultura brasileira, com as exportações sendo realizadas a mais de 120 países, de todos os continentes, market share de 40% e geração de receita de US$ 5,6 bilhões. “Esses números revelam a capacidade de nossa atividade cafeeira em atender a consumidores que buscam diferentes características da bebida mundo afora”, considera.
Em relação à importância socioeconômica e à responsabilidade socioambiental, Masson relata que a cultura está presente em mais de 250 mil propriedades rurais, com caráter estritamente de agricultura familiar, com cerca de 72% desses estabelecimentos tendo, no máximo, 20 hectares. Ele também salienta o crescimento das exportações nacionais de cafés diferenciados, que saltaram de 5,9 milhões de sacas, em 2016, para 7,9 milhões no ano passado, das quais 20% se referem a frutos com certificações socioambientais.
Para contribuir com esse desempenho, o gestor do Cecafé expõe que, além da legislação ambiental para sistemas agrícolas no país, o segmento agroindustrial do café também conta com referências e normativos específicos nos pilares sociais, ambientais e econômicos, como, por exemplo, o Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC) e a Produção Integrada de Café (PIC-Café).
Segundo ele, os avanços conquistados pelo Brasil em pesquisa, inovação, assistência técnica e extensão rural fizeram com que a produtividade média do setor crescesse 416% entre 1960 e 2020, a área destinada à cultura diminuísse 51% e também ajudaram o Brasil a se posicionar como maior produtor e exportador e segundo principal consumidor mundial.
“Quando pensamos em agricultura regenerativa, é notório que as propriedades cafeeiras no país avançam em sistemas agroflorestais e manejo integrado de pragas, existindo estudos científicos que comprovam a eficiência das práticas sustentáveis para o sequestro de carbono e ao aumento da produtividade, bem como na conservação de matas nativas, ativos que poderão atrair os chamados pagamentos por serviços ambientais”, ressalta.
Ao citar que o mundo precisa avançar em marcos regulatórios que incentivem o mercado internacional de compensação de carbono, por exemplo, Masson conclui que a Cúpula dos Sistemas Alimentares pode ser a coordenação internacional que contribuirá para o combate à pobreza e à insegurança alimentar global no pós-pandemia.
As informações são da Comunicação – Cecafé.