Um novo estudo da planta que produz café canéfora (robusta) sugere que sua tolerância ao calor foi constantemente superestimada. Pior ainda, quando as temperaturas cruzam levemente esse ponto, produz uma queda de rendimento.
Cientistas da Alliance of Bioversity International e CIAT, da University of Southern Queensland (USQ) e da ECOM Agroindustrial, conduziram a pesquisa em fazendas no Vietnã e na Indonésia, que fornecem cerca de metade dos grãos robusta do mundo.
O estudo, publicado na Global Change Biology, foi realizado durante 10 anos de observações de produtividade em quase 800 fazendas no sudeste da Ásia. A análise sugere que a faixa ideal de temperatura para robusta é 20,5°C, que é notavelmente mais baixa do que as temperaturas atualmente consideradas ótimas. Para cada aumento de 1°C nesta nova faixa ideal, os rendimentos diminuem 14%.
"Nossos resultados sugerem que o canéfora é muito mais sensível à temperatura do que se pensava", afirmam os autores da pesquisa. "Seu potencial de produção pode diminuir consideravelmente à medida que as temperaturas aumentam sob as mudanças climáticas, comprometendo uma indústria de café de bilhões de dólares e os meios de subsistência de milhões de agricultores".
Os resultados do estudo contrastam com as estimativas atuais, baseadas em explorações botânicas históricas na África Central, que sugeriram que a espécie tinha uma tolerância mais alta à temperatura.
"Isso deve nos fazer reavaliar a viabilidade de algumas de nossas opções atuais, como mudar do café arábica para o café canéfora, à medida que o clima esquenta para adaptar a produção às mudanças climáticas", afirmou Jarrod Kath, principal autor do estudo do USQ.
Segundo a pesquisa, o café arábica é ainda mais sensível à mudança de temperatura. Os cafeicultores em altitudes mais baixas nos trópicos vêm trocando seus cafeeiros arábicas por canéforas, enquanto os cafeicultores têm procurado altitudes mais altas e temperaturas mais baixas para manter a produção.
"Essas descobertas fornecem informações básicas para os cafeicultores, investidores do setor privado e governos para adaptar seus planos de produção de café às mudanças climáticas", aponta Alessandro Craparo, co-autor da Aliança.
Os pesquisadores afirmam que isso destaca a importância de testar suposições sobre a sensibilidade da produção agrícola à variabilidade climática com grandes conjuntos de dados baseados em campo.
"As mudanças de precipitação são uma preocupação da indústria cafeeira há muito tempo", disse o co-autor Laurent Bossolasco, da ECOM. "Agora está claro que precisamos de uma análise mais aprofundada das variações de temperatura na região de robusta", finaliza.
As informações são do Global Coffee Report / Tradução Juliana Santin