As associações de cafeicultores que representam mais de 30 países da América Latina, África e Ásia recentemente enviaram uma carta conjunta aos principais compradores de café, fazendo um alerta sobre a atual crise de preços e a urgência de encontrar soluções conjuntas imediatamente. Entre os destinatários da carta estão empresas como Starbucks, Nestlé, Joh Johannson, Gustav Paulig, Folgers, Keurig e JDE.
"Como líderes das associações que representam os cafeicultores de mais de 30 países, escrevemos a você para expressar nossa profunda preocupação com a situação atual do mercado de café que está gerando uma grave crise econômica, social e potencialmente política, bem como uma preocupação entre os produtores de café em todo o mundo", escreveram.
A carta lembra que desde 1990 os preços do café vêm se comportando de tal forma que todos os dias são cada vez mais prejudiciais aos cafeicultores, a ponto de em muitos países não conseguirem sequer cobrir seus custos de produção e muito menos obter lucros para ganhar um meio de vida decente para si e suas famílias. Outros efeitos dessa situação são imigrantes indocumentados da África e da América Latina que cruzam ilegalmente as fronteiras para encontrar um futuro melhor, bem como o aumento de cultivos ilícitos em alguns países.
"Alguns podem argumentar que 'o mercado é o mercado e que faz o que tem que fazer'. Para alguns produtos, esse pode ser o caso. No entanto, no caso do café, onde estão em jogo os meios de subsistência de mais de 25 milhões de famílias - muitos dos quais enfrentam um processo de empobrecimento que os conduz a uma situação de miséria - isso não é menos que desumano. Mas há também o risco de deixar as fazendas de café e uma redução na oferta, o que é desvantajoso para o consumidor final", afirma a carta.
Durante a reunião do Primeiro Fórum Global de Produtores de Café na Colômbia, em julho de 2017, com a participação de quase 1.500 produtores de café de 42 países da África, Ásia e América Latina e alguns representantes da indústria, ficou muito claro que a cadeia de valor do café e seus resultados são muito positivos como um todo. No entanto, um olhar mais atento também deixa claro que alguns dos elos são extremamente lucrativos, enquanto outros, particularmente os produtores de café, o fazem com prejuízo.
A conclusão é óbvia: esse desequilíbrio precisa ser corrigido e todos os elos da cadeia precisam ser lucrativos se quisermos ter uma indústria de café saudável e sustentável. "Somos todos corresponsáveis pela sustentabilidade do setor cafeeiro, não apenas no nível ambiental e social, mas no nível econômico, ou seja, na subsistência dos cafeicultores", ressalta.
Os consumidores também são parte fundamental da cadeia de valor. Eles não conhecem a situação atual porque não foram informados, então é hora de envolvê-los globalmente para explicar por que o café está em risco, não apenas por ameaças como a mudança climática, mas, mais imediatamente, pela falta de sustentabilidade econômica de milhões de cafeicultores que recebem menos de um terço do preço de 1982. "A pobreza é o grande predador do meio ambiente e do tecido social", observa.
Na carta, as associações de produtores reconhecem que o setor fez alguns esforços concentrados para abordar questões como sustentabilidade ambiental, mudança climática e investimentos sociais. "No entanto, não podemos adiar mais ações para melhorar a renda dos cafeicultores", eles sugerem.
Os produtores expressam sua confiança de que a carta é o primeiro passo de uma discussão séria e de tomadas de ações conjuntas com a indústria para encontrar meios de garantir a sustentabilidade econômica dos cafeicultores, aumentar suas rendas e evitar a expansão da catástrofe social que está se formando em muitos países produtores de café.
Para este fim, uma delegação de líderes de associações de café estava planejando se reunir com os diretores dessas grandes empresas de compras para explorar as melhores formas de cooperação.
As principais associações de produtores de café que assinaram a carta incluem a Agência Robusta de Café da África e Madagascar, a Associação Africana de Café Fino (AFCA), a Associação de Cafés Especiais do Brasil (BSCA), o Conselho Nacional do Café (Brasil). Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia (FNC), Organização Interafricana do Café (IACO), Índia Coffee Trust e Promecafé (México, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Jamaica).
As informações são da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia / Tradução Juliana Santin