Em linha com a dinâmica que vem ocorrendo nas últimas semanas, as cotações do café voltaram a responder aos marcadores técnicos, indica a hEDGEpoint Global Markets em relatório divulgado esta semana. Agora com a média móvel de 14 dias cruzando acima da MM de 7 dias e ambas falhando em cruzar a MM de 200 dias, dois pontos baixistas (Figura #1).
As declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, também pressionaram o café, segundo a companhia especializada em commodities, com uma postura mais agressiva do que o previsto anteriormente - dando força ao índice do dólar e, consequentemente, atuando como um ponto de baixa para as commodities.
Além disso, temos dois dados fundamentais importantes que precisam ser considerados. Primeiro, esta semana, a Colômbia divulgou sua produção e exportação de café de fevereiro. Embora a produção tenha registrado um aumento mensal de 10%, no acumulado, a produção ainda está 9% abaixo do último ciclo e 750 mil sacas abaixo do ritmo esperado, em 3,80M scs (vs. 4,55M estimadas - Figura #2).
Mesmo que o país apresente um crescimento melhor para a mitaca, que é a safra secundária de café da Colômbia que começa em abril - o que é nossa expectativa, já que o segundo período de cultivo foi menos afetado por problemas climáticos do que o primeiro - a produção total ainda ficaria limitada sob a marca de 12M scs. Isso significa que, embora o aumento possa parecer baixista a princípio, não teríamos nenhuma alteração em nosso balanço de O&D, permanecendo deficitário, atualmente em -1,9M de sacas para o ciclo 22/23.
O segundo ponto vem dos estoques certificados de arábica. Novos cafés estão sendo classificados, de origem africana e centro-americana. Esta semana, os estoques da ICE viram até origens retornando: El Salvador adicionou 250 sacas, depois de ter zerado em setembro de 2022. Ruanda adicionou 1.338 sacas, Burundi 960 e Honduras 1.822 sacas. O Brasil registrou um aumento líquido de 1.330 sacas.
O valor atualmente é insignificante quando comparado ao total, mas pode ser indicativo de uma tendência maior. Até então, as adições eram somente de recertificações - motivo da taxa de reprovação ter sido tão alta. Então, com essas novas origens e volumes chegando, pode ser o café da nova safra?
Os diferenciais diminuíram em várias origens de suaves, mas ainda não estão em paridade certificável - portanto, as chances são baixas. Surgiram rumores no mercado de menor demanda por esses cafés, o que coloca em perspectiva a dinâmica dos estoques certificados.
Os dados do lado do consumidor final também são mistos, com os dados de receita das principais marcas dos EUA e da Europa sugerindo um crescimento nas receitas impulsionado apenas pelo preço - enquanto os volumes mostraram uma queda. O consumo, no entanto, estaria mudando, à medida que os consumidores optam por opções mais baratas. Ainda assim, a dinâmica é incipiente e precisa de tempo para amadurecer, pois pode ser mais uma ocorrência conjuntural do que estrutural.