Refletindo o cenário de entressafra, após duas colheitas menores em 2021 e 2022, as exportações brasileiras de café continuam apresentando queda. Em março, o volume remetido ao exterior pelo país somou 3,088 milhões de sacas de 60 kg, volume que implica recuo de 19% ante mesmo mês do ano passado. Em receita, o declínio foi de 26,4% na mesma comparação, com o valor saindo de US$ 909,2 milhões para os atuais US$ 669,5 milhões. Os dados são do relatório estatístico mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Com o desempenho, os embarques no acumulado do ano safra 2022/23 chegaram a 27,756 milhões de sacas, gerando ingressos de US$ 6,384 bilhões. Em relação à performance registrada entre julho de 2021 e março do ano passado, o volume é 9% inferior, mas a receita ainda segue 7,2% maior graças aos elevados preços do produto no intervalo recente, comercializado a uma média de US$ 230 por saca contra US$ 195,34 por saca nos nove primeiros meses da temporada 2021/22.
Ano civil
De janeiro ao fim de março de 2023, o Brasil embarcou 8,358 milhões de sacas, montante 22,8% inferior aos 10,824 milhões de sacas registrados no primeiro trimestre do ano passado. A atual receita cambial é de US$ 1,796 bilhão, o que representa baixa de 27,5% frente aos US$ 2,478 bilhões nos três primeiros meses de 2022.
“Como já observado no fechamento de fevereiro deste ano, a queda nos volumes exportados na comparação com o mesmo mês do ano anterior se dá principalmente por já não dispormos de remanescentes significativos da safra recorde de 2020, que, eventualmente, compensariam a perda das colheitas 2021 e 2022, afetadas substancialmente pela longa estiagem, seguida da maior geada dos últimos 27 anos”, explica Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Não obstante a esse declínio, o diretor-geral do Conselho, Marcos Matos, observa como positivo o crescimento visto em relação aos desempenhos apurados nos dois primeiros meses deste ano. “O volume embarcado em março representa aumentos de 9% sobre janeiro e de 27% sobre fevereiro”, aponta.
Ele completa que a justificativa pode estar na estrutura de mercado, que, praticando diferenciais bem mais estreitos contra a Bolsa de Nova York para a safra atual, incentiva players e produtores a acelerarem a comercialização do café remanescente.
“É possível que esse fator minimize a queda de volumes embarcados neste último trimestre da safra corrente (abril, maio e junho). A B3, por exemplo, que reflete o mercado interno no Brasil, fechou, ontem (11 de abril), no vencimento maio/23, a US$ 245,00 por saca, enquanto o vencimento setembro/23, já vinculado à nova safra, encerrou a US$ 225,65, ou seja, um ‘prêmio’ de US$ 19,35 por saca sobre a safra futura”, analisa o presidente do Cecafé.
Márcio Ferreira anota ainda que, em relação aos cafés canéforas (conilon + robusta), a bolsa internacional vem apresentando comportamento favorável, com constantes movimentos de alta, o que tem permitido, apesar de o dólar mais desvalorizado em relação ao real, que os diferenciais do Brasil estejam menos desalinhados no mercado.
“Diante da conduta do mercado global do robusta, há possibilidade para a realização de mais negócios, o que é bom, tendo em vista que, proporcionalmente, os estoques de passagem desta variedade são bem superiores ao que se vê no arábica, uma vez que nenhum acidente climático relevante, na magnitude dos registrados com o arábica, ocorreu com os canéforas”, conclui.
Principais destinos
No primeiro trimestre de 2023, os Estados Unidos seguem como principal comprador dos cafés do Brasil, adquirindo 1,553 milhão de sacas, volume 26,6% inferior ao registrado no mesmo período de 2022. Esse montante equivale a 18,6% dos embarques totais brasileiros no intervalo.
A Alemanha, com representatividade de 13,1%, importou 1,099 milhão de sacas (-44,1%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vêm Itália, com a compra de 644.001 sacas (-35,1%); Japão, com 471.307 sacas (-2,79%); e Bélgica, com a aquisição de 449.319 sacas (-60,9%).
Do ponto de vista positivo, destaca-se o desempenho das remessas dos cafés do Brasil para a China, que apresentaram significativo crescimento de 108,7% no primeiro trimestre. Os chineses adquiriram 185.308 sacas, volume que representa 2,2% do total exportado e que faz com que essa nação salte para o 14º lugar no ranking dos principais destinos.
Segundo o diretor-geral do Cecafé, esse movimento reflete uma maior aceitação do produto na China, com consumidores jovens, dispostos a experimentar a bebida, ampliando o consumo local. “O mercado chinês vem crescendo ao longo dos anos e o Brasil vem ocupando espaços. Temos realizado diversas ações de promoção dos nossos cafés em parceria com redes de cafeterias e agentes locais, o que contribui para esse avanço que observamos no mercado sino", destaca Matos.
Ferreira também contextualiza o cenário com o atual momento do governo brasileiro, lembrando que uma das principais agendas atuais é aumentar a relação comercial entre Brasil e China. “O café tem uma ótima oportunidade de incrementar muito mais este crescimento, com qualidade, sustentabilidade e competitividade, tendo em vista o potencial cada vez maior do mercado sino e a tendência de mudanças de hábitos de consumo, principalmente por parte dos milhões de jovens chineses”, finaliza.
Portos
O complexo marítimo de Santos (SP) permanece como principal exportador dos cafés do Brasil no primeiro trimestre de 2023, com a remessa de 6,614 milhões de sacas ao exterior, o que equivale a 79,1% do total. Na sequência, aparecem os portos do Rio de Janeiro, que respondem por 15,9% dos embarques ao enviarem 1,326 milhão de sacas, e Paranaguá (PR), com a exportação de 119.624 sacas e representatividade de 1,4%.
Tipos de café
O café arábica foi o mais exportado entre janeiro e março deste ano, com o despacho de 7,167 milhões de sacas ao exterior, o que corresponde a 85,8% do total. O segmento do solúvel teve 910.547 sacas embarcadas, com representatividade de 10,9%, seguido pela variedade canéfora (robusta + conilon), com 270.486 sacas (3,2%) e pelo produto torrado e torrado e moído, com 10.141 sacas (0,1%).
Cafés diferenciados
Os cafés que possuem qualidade superior ou certificados de práticas sustentáveis responderam por 19,9% das exportações totais brasileiras do produto no primeiro trimestre de 2023, com o envio de 1,665 milhão de sacas ao exterior. Esse volume representa alta de 3,3% na comparação com o mesmo período do ano antecedente.
O preço médio desse produto foi de US$ 248,70 por saca, proporcionando uma receita de US$ 414 milhões nos três meses, o que corresponde a 23% do obtido com os embarques totais. No comparativo anual, o valor é 16,8% menor do que o aferido no primeiro trimestre de 2022.
No ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados nos três primeiros meses deste ano, os Estados Unidos estão na ponta, com a aquisição de 477.371 sacas, o equivalente a 28,7% do total desse tipo de produto exportado. Na sequência, vêm Alemanha, com 243.879 sacas e representatividade de 14,7%; Bélgica, com 173.737 sacas (10,4%); Itália, com 86.645 sacas (5,2%); e Holanda (Países Baixos), com 80.368 sacas (4,8%).
O relatório completo das exportações dos cafés do Brasil, até o fim de março de 2023, está disponível no site do Cecafé.