Boletim semanal Escritório Carvalhaes - ano 85 - n° 7
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Santos, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Nas últimas semanas, o debate no mercado de café está focado no tamanho da próxima safra brasileira. Ontem, mais uma trading divulgou sua estimativa: 59,15 milhões de sacas. A precisão dos números levantados chama a atenção. Em um país de dimensões continentais como o nosso, maior produtor e exportador do mundo, que produz café do Paraná até Pernambuco, é necessária uma grande equipe de técnicos para se chegar a um número minimamente confiável. Desconhecemos o tamanho da equipe mobilizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para fazer seus quatro levantamentos anuais da safra brasileira de café.
Todos os anos, devido a essa dificuldade, os levantamentos privados acabam girando ao redor dos números levantados pela Conab, ficando sempre um pouco abaixo ou um pouco acima. Este ano, o debate está centrado entre 55 e 60 milhões de sacas e em nossa opinião, precisamos comemorar. Se a safra não ultrapassar os 55 milhões, a situação ficará difícil para abastecermos nosso consumo interno e cumprirmos com os compromissos de exportação em uma safra de ciclo alto.
No ano 2018/2019, que se inicia em primeiro de julho próximo, nossas exportações provavelmente retornarão para o patamar ao redor dos 33 milhões de sacas, e nosso consumo interno utilizará 22 milhões de sacas ou um pouco mais. Portanto, desaparecerão entre 55 e 56 milhões de sacas, restando o necessário para o ano safra seguinte, de ciclo baixo. Isso se não tivermos algum problema climático mais sério até lá.
Estamos começando a segunda quinzena de fevereiro, e com o que resta da atual safra 2017/2018, teremos de cumprir os embarques deste mês, além de março, abril, maio e junho. Se considerarmos que na média desses meses os embarques fiquem no mesmo patamar dos de janeiro (2,5 milhões de sacas por mês), precisaremos de 12,5 milhões de sacas. O consumo interno brasileiro industrializa cerca de 1,8 milhão de sacas por mês, mais 9 milhões nesses 5 meses. Portanto, até o final de junho, desaparecerão ao redor de 21,5 milhões de sacas.
Sempre existe o argumento de que a partir do final de abril já entra conilon da safra nova nos “blends” do consumo interno e nas exportações de café verde. Isso será compensado pelo fato de que nas exportações e consumo interno, em julho e agosto, parte do café utilizado ainda será da safra anterior, 2017.
Nesse quadro, até o final de agosto próximo, certamente esgotaremos o que resta de nossa safra atual. Em 2018, pela primeira vez em mais de cem anos, os estoques oficiais de café não existem, zeramos em 2017. Mesmo que nossa safra 2018 atinja 60 milhões de sacas – o que não acreditamos – a situação continuará apertada. Toda essa “guerra” de números ajuda a alimentar os algoritmos e dar a impressão de excesso de produção no Brasil, derrubando as cotações na ICE, em Nova Iorque. Precisam convencer o cafeicultor brasileiro a vender sua produção 2017 nas bases oferecidas agora pelo mercado e assim cumprir, sem prejuízos, os compromissos de exportação.
Em nossa opinião, sem estoques governamentais e com um estoque de passagem praticamente zerado no final de junho, as dificuldades para comprar café no mercado físico brasileiro continuarão no novo ano safra. Os números de produção estimados para nossa nova safra brasileira 2018/2019 não são altos, baixistas, como muitos imaginam.
Os juros no Brasil estão recuando para patamares historicamente baixos e o jornal Valor Econômico informa em sua edição de hoje (página B 10) que os desembolsos de crédito rural estão em forte alta. Informa ainda que em tempos de juros mais baixos no Brasil, o comportamento dos preços agrícolas, que estão relativamente menores que em períodos anteriores, induz o produtor a fazer estoque à espera de preços melhores.
A Green Coffee Association divulgou que os estoques americanos de café verde totalizaram 6.613.480 em 31 de janeiro de 2018. Uma baixa de 18.021 sacas em relação às 6.631.501 sacas existentes em 31 de dezembro de 2017.
Até dia 15, os embarques de fevereiro estavam em 460.587 sacas de café arábica, mais 38.047 sacas de café solúvel, totalizando 498.634 sacas embarcadas, contra 292.582 sacas no mesmo dia de janeiro. Até o mesmo dia 15, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em fevereiro totalizavam 1.198.660 sacas, contra 742.749 sacas no mesmo dia do mês anterior.
A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 9, sexta-feira, até o fechamento de hoje, sexta-feira, dia 16, caiu nos contratos para entrega, em março próximo, 390 pontos ou US$ 5,15 (R$ 16,61) por saca. Em reais, as cotações para entrega em março próximo na ICE fecharam, no dia 9, a R$ 532,98 por saca, e hoje, dia 16, a R$ 501,97 por saca. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em março, a bolsa de Nova Iorque fechou com baixa de 380 pontos.