Pesquisa, publicada na revista PLOS Climate, aponta que as condições climáticas que reduzem a produção de café tornaram-se mais frequentes nas últimas quatro décadas, com o aumento das temperaturas pelo aquecimento global provavelmente levando a “choques sistêmicos contínuos” na produção cafeeira.
Os pesquisadores analisaram os impactos de fatores climáticos como temperatura, precipitação e umidade nos 12 principais países produtores de café do mundo entre 1980 e 2020.
O estudo descobriu que a frequência de “riscos climáticos” – condições de crescimento abaixo do ideal devido a extremos como altas temperaturas – aumentou em todas as regiões durante esse período.
As temperaturas de cultivo para as duas principais variedades de café, arábica e canéfora, são de 18 a 22°C e de 22 a 28°C. Os pesquisadores descobriram que, entre 1980 e 2020, as regiões produtoras eram mais propensas a experimentar temperaturas muito baixas. “O clima atual, no entanto, é caracterizado por condições muito quentes em todas as regiões”, descobriram, acrescentando que “a grande maioria das regiões cafeeiras nunca experimenta temperaturas muito frias na estação de cultivo”.
O principal autor do estudo, Doug Richardson, que concluiu a pesquisa enquanto estava no CSIRO, disse que a mudança de condições frias e úmidas para quentes e secas “estamos bastante confiantes de que é resultado da mudança climática”.
Os pesquisadores escreveram: “Com as projeções de mudanças climáticas mostrando que é provável um aumento contínuo das temperaturas nos trópicos, sugerimos que a produção de café pode esperar choques sistêmicos contínuos”.
Pesquisas anteriores mostraram que a quantidade de terra adequada para o cultivo de café em todo o mundo pode cair pela metade até 2050 devido às mudanças climáticas.
Richardson destaca: “Se você tiver um choque na oferta de café em um determinado ano, se não houver café suficiente armazenado de anos anteriores, poderá esperar que o preço aumente”.
Os pesquisadores também analisaram os impactos de seis fatores climáticos diferentes na produção de café, incluindo o El Niño-Oscilação Sul (Enso), a flutuação climática anual mais significativa do planeta.
“Durante os eventos do El Niño, vemos uma chance maior de as condições serem muito quentes ou muito secas, e é praticamente o contrário para o La Niña”, disse Richardson.
Embora o El Niño tenha efeitos globais, parece ter menos impacto no sul do Brasil, o maior produtor mundial de grãos arábica.“As principais regiões de arábica no extremo sudeste do Brasil e sudoeste da Etiópia estão entre as regiões menos suscetíveis aos riscos climáticos”.
Os 12 maiores cafeicultores respondem por cerca de 90% da produção global. Estes incluem Brasil, Peru e México nas Américas; Uganda e Etiópia na África; e Vietnã e Indonésia no sudeste da Ásia.
As informações são do The Guardian. Tradução Juliana Santin