Por Marcelo Fraga Moreira*
Na segunda-feira (07), setembro/2021 já iniciou com a mínima da semana 121,50 centavos de dólar por libra-peso. Na sexta-feira (11) chegou a negociar novamente nos 128,00 centavos de dólar por libra-peso, fechando em 126.35 centavos de dólar por libra-peso. A amplitude na semana foi de 660 pontos.
Novamente o volume diário foi baixo, negociando aproximadamente 30.000 lotes por dia. Mercado, a nosso ver, já se preparando para dar o “bote”. Fundos continuam comprados/long +22.796 lotes (reduzindo a última posição em apenas -941 lotes). Próxima resistência importante no setembro/2021 segue sendo 129,00 centavos de dólar por libra-peso, e depois 135 e 150 centavos de dólar por libra-peso (high do mercado negociado ano passado justamente nas últimas sessões do mês de dezembro/2020).
Como já falamos aqui, muitos produtores já comprometeram e fixaram grande parte da próxima safra 2021/2022 quando os preços em Nova York no setembro/2021 negociaram entre 130-138 centavos de dólar por libra-peso! Em maio tivemos o Real negociando nos “highs” do ano (chegando a negociar 5,97 R$/US$) e durante os meses entre setembro/novembro o Real seguiu negociando entre 5,60-5,80 R$/US$.
Nessa última semana o Real valorizou +3,66% chegando a tocar nos 5,00 R$/US$. Bancos seguem apostando na valorização do Real para os próximos meses, com alguns “otimistas” já falando do Real voltar a negociar abaixo dos 4,00 R$/US$ até final de 2021.
Considerando o R$/US$ saindo de 5,75 R$/US$ para 4,25 R$/US$ (valorizando +26%) e considerando uma correlação entre “R$/US$ x cotações em Nova Iorque” em 60%, os preços em Nova Iorque deveriam corrigir pelo menos 15%, ou seja, o setembro/2021 deveria sair de 121,50 centavos de dólar por libra-peso para 139,70 centavos de dólar por libra-peso.
Utilizando o mesmo raciocínio, considerando apenas o “efeito cambio”, aumentando a correlação para 80% então Nova York deveria corrigir +21% e o preço base setembro/2021 já deveria subir para 147,00 centavos de dólar por libra-peso.
Seguimos altistas com o setembro/2021 podendo atingir/romper os 200 centavos de dólar por libra-peso pois os fatores “altistas e as incertezas” serão os protagonistas dessa eventual alta, tais como: período da seca entre setembro/novembro; quebra estimada entre -20%/-30%; produtores já tendo comercializado grande parte da próxima safra e com receio para realizar novas vendas; eventual risco de ocorrer geadas no próximo ano no período 15-Junho-15-Agosto-21; e finalmente a posição dos fundos comprados ainda estar baixo. Quando alguns “stops” de compra forem acionados o mercado não terá dificuldades para subir 1-2-5.000 pontos (os fundos já chegaram a estar +45.000 lotes comprados). Com essa liquidez internacional abundante com os fundos procurando mercados para investir/gerar retorno para seus acionistas até onde os fundos seguirão comprando? 50-60-70 mil lotes?
Se esse cenário acontecer os produtores ainda poderão ser remunerados com a saca podendo negociar acima dos 800 R$/saca. Será a alegria de alguns e a tristeza de muitos. Claro que não estamos “torcendo” para o produtor “quebrar”, mas chamando a atenção para serem cautelosos pois essa próxima safra será muito complexa.
Se houver quebras e geadas muitos produtores não vão conseguir honrar seus compromissos e serão obrigados a recomprar a posição no mercado e/ou renegociar com as tradings rolando a posição para a safra 2022/2023 (para isso as tradings não vão fazer de graça pois existem custos de hedge, financeiros, compromissos assumidos com compradores/torrefadoras no destino final, e claro o efeito “lucro”).
Sugerimos aos produtores a não comprometer mais do que 75% da sua produção até junho/julho-2021. Quem já fez isso, não deixe de comprar proteção. Compre as famosas “Call-Spreads” (seguros que provavelmente ano que vem serão utilizados). Sugerimos a compra do “Call-Spread” 150-200 centavos de dólar por libra-peso para o setembro/2021. Na sexta-feira esse seguro fechou custando aproximadamente 5,00 centavos de dólar por libra-peso, ou aproximadamente 30 R$/saca. Caso o mercado negocie acima dos 200,00 centavos de dólar por libra peso esse seguro irá proteger o produtor em aproximadamente 300 r$/saca!
Aproveitem esses próximos dias para recomprar as “Calls” que foram vendidas a 130-150 centavos de dólar por libra peso (deixando assim o “upside” aberto para novas fixações)!
Na semana tivemos chuvas em praticamente todas as áreas produtoras e a previsão para os próximos 10 dias continua com chuvas. A grande questão (e só saberemos no final de janeir/2021), continua sendo se as lavouras vão conseguir se recuperar e se os grãos vão conseguir se desenvolver. Até lá o mercado seguirá estimando o tamanho da quebra (conforme os últimos relatórios a próxima safra deverá ficar entre 50-55 milhões de sacas. Contra uma safra 20/21 estimada em 70 milhões de sacas estamos falando em uma quebra entre -21% a -29%).
No mês de novembro os embarques atingiram 4,3 milhões de sacas (segundo dados publicados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - Cecafé), quantidade +32% se comparado com novembro de 2019. Todo esse café está indo para vários destinos. Considerando que a Europa e os Estados Unidos estão novamente com restrições em função da pandemia, ainda não sabemos como vai ser a demanda pelo consumidor final e como será o estoque de passagem da safra 20/21 para a safra 21/22.
Negócios no spot seguem devagar com os preços oscilando entre 530-630 R$/saca dependendo da qualidade do produto que está sendo negociado e o local de entrega. Para safra 2021/2022 mercado praticamente parado sem negócios reportados. Justificativa tem sido a valorização do Real frente o US$ e os compromissos já assumidos.
Do lado macro, colheitas seguem acontecendo na América Central, África, Vietnam, Indonésia. E chuvas seguem favorecendo o estágio final das lavouras na Índia. Como sempre, cuidado com as “operações estruturadas” nos livros (os famosos acumuladores que podem dobrar, aparecer se o mercado negociar a X nível).
Não coloquem riscos desnecessários nos livros. Façam suas contas, levantamento das suas lavouras, projeção de “eventuais quebras”, e aproveitem as oportunidades.
Boa semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
As informações são do Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda