O café já subiu 28% nas gôndolas ao longo do ano, em decorrência, principalmente, da alta da matéria-prima, e novos reajustes virão até dezembro. A projeção para o ano de 2021 é de aumento de preços da ordem de 50%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), com base em pesquisa recente.
A alta do grão tem sido repassada de forma paulatina ao longo da cadeia. Segundo Celírio Inácio, diretor executivo da Abic, atacados e distribuidoras trabalhavam com estoques de cafés adquiridos a melhores preços, sem perder de vista o limite do poder de compra do consumidor, que já vem enfrentando altas de alimentos. “Mas esses estoques estão chegando ao fim. Até dezembro deve haver novo repasse, em um intervalo entre 25% e 30%”, avalia.
Variações constantes
Para as torrefadoras, o grão verde corresponde a cerca de 60% dos custos, e com a escalada da matéria-prima em 2021, as indústrias têm buscado renegociar repasses para ajustar as planilhas. No mercado de grão verde, os preços têm sofrido variações constantes. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apenas em setembro a alta do café arábica foi de quase 5% (R$ 53 por saca), e o indicador da instituição para o produto chegou a R$ 1,1 mil a saca.
Uma estratégia utilizada pelas indústrias tem sido a troca de café arábica por canéfora (conilon) nos blends. Mesmo que as duas variedades registrem alta de preços, o arábica pode ser R$ 300 mais caro por saca. A mistura de arábica e conilon pelas torrefadoras já não é mais de 70% (arábica) e 30% (conilon), afirma Inácio.
Segundo informação recente de Márcio Ferreira, presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), as principais marcas têm usado 65% conilon e 35% arábica. O cenário resulta, sobretudo, da quebra da safra do café arábica, da ordem de 30%, em decorrência das estiagens que ocorreram desde o ano passado.
A estratégia de alteração de blends tem um limite, visto que as marcas correm riscos de perder clientes caso alterem demais o paladar do café. “O ponto chave a observar não é apenas o financeiro”, acrescenta Inácio.
"Tempestade perfeita"
Para o executivo, o ano é de ‘tempestade perfeita’ para o setor e há mais perguntas do que respostas, o que dificulta traçar cenários. Os números da próxima safra (afetada por seca e estiagem) são incertos, o mesmo ocorre com os estoques privados de café em armazéns (neste ano a Conab ainda não divulgou a estimativa), é preciso observar estoques globais, o consumo, e, ainda, como ficarão os cenários de câmbio e o logístico.
Uma boa notícia, acrescentou, tem relação com o clima, já que finalmente chove nas principais regiões produtoras. “Se as chuvas seguirem, nas próximas semanas os preços podem estabilizar um pouco, reduzindo especulações”, finaliza o executivo da Abic.
As informações são do Valor Econômico.