Uganda, na África Oriental, tem planos de triplicar suas exportações de café até 2030, mas essas esperanças vêm acompanhadas de advertências de que o país deve adotar padrões rígidos de segurança alimentar se quiser acessar os mercados ocidentais.
Segundo a Autoridade de Desenvolvimento do Café de Uganda (UCDA), órgão governamental que regula a produção cafeeira do país, foram exportadas 6,26 milhões de sacas de café de 60 kg avaliadas em US$ 862 milhões (US$ 3,19 trilhões) entre agosto de 2021 e julho de 2022, em comparação com seis milhões de sacas avaliadas em US$ 559 milhões no mesmo período dos 12 meses anteriores. O valor de 2021–22 foi o mais alto que o país já ganhou com o café em um único ano, mas o governo ainda gostaria de aumentar as vendas de café em US$ 300 milhões por ano, ou US$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos.
As autoridades do país destacam que planejam aumentar a produção para 20 milhões de sacas até 2030 e ganhar até US$ 2,2 bilhões por ano em exportações de café até aquele ano. Até 1,5 milhão de famílias ugandenses poderiam se beneficiar de rendas melhores se isso acontecer. Atualmente, 17 a 19% das divisas estrangeiras de Uganda vêm das exportações de café.
“Chegamos às nossas novas metas conversando com o pessoal do café por dois dias”, disse Odrek Rwabwogo, presidente do Comitê Consultivo Presidencial para Exportações e Desenvolvimento Industrial. “Tem que ter uma meta de trabalho de quanto precisa vender por ano porque, sem ela, a gente fica falando ‘produz, produz’ mas produz e vende o quê? Quando? Quanto?”
O governo gostaria de atingir suas novas metas aprimorando suas relações comerciais com países específicos, incluindo a China. O país quer desenvolver a marca de café de Uganda para que o valor do café aumente em até 15%. Também quer fortalecer organizações de agricultores e cooperativas de produtores para melhorar a comercialização para pequenos agricultores e facilitar o financiamento de insumos.
Os EUA são um destino popular para o café arábica de Uganda, enquanto a Europa é o maior importador de robusta. O café também é vendido no Japão e no Oriente Médio e há uma demanda crescente de outros países africanos.
Uganda pode cumprir as condições fitossanitárias dos países ocidentais?
Um dos maiores obstáculos ao acesso a novos mercados de café em todo o mundo é a necessidade de cumprir as barreiras técnicas ao comércio e as condições fitossanitárias estabelecidas pelos parceiros comerciais. Esses padrões garantem que uma planta esteja "limpa" e livre de pragas e doenças. Uma das principais prioridades do governo de Uganda é melhorar a rastreabilidade e segurança alimentar e introduzir novas medidas sanitárias e fitossanitárias no país.
“Nós nos concentramos na agricultura orgânica e liderada por mulheres, embora também tenhamos muitos homens envolvidos”, disse Cody Lorance, co- diretor executivo da Endiro Coffee, uma produtora de café especial de Uganda que exporta para o mercado dos EUA. A principal ênfase agora – para nossa empresa e também para o café arábica especial no país – é a sustentabilidade para os agricultores, a terra e a diferenciação, tornando o café de Uganda importante no mercado. Um terceiro componente é a criação de valor. Estamos tentando encorajar todos em nossa cadeia a serem mais criativos na forma como o valor é gerado e a riqueza é construída a partir da agricultura.”
Um debate é se Uganda deve seguir o Vietnã – o segundo maior produtor de café do mundo depois do Brasil – ou a Etiópia. O Vietnã produz robusta de baixa qualidade, que pode ser comercializada em grandes volumes. No entanto, a Etiópia tem a reputação de produzir alguns dos cafés de alta qualidade. Em novembro de 2022, a receita de exportação do café vietnamita foi de cerca de US$ 99 por saca de 60 kg, enquanto a do café etíope foi de US$ 199. Uganda deve decidir se o modelo vietnamita ou etíope oferece melhor valor aos agricultores.
Além disso, em seu esforço para melhorar sua produção de café, os especialistas também dizem que é importante que Uganda – que tem uma economia de US$ 48 bilhões e 43,7 milhões de habitantes – preserve suas florestas tropicais.
“Fico triste que a mecanização do café esteja causando tanta destruição florestal no Brasil”, disse Lorance. “Espero que Uganda aceite o desafio e busque estratégias de agricultura regenerativa que preservam, crescem e utilizam as florestas de forma responsável. Não há razão para que Uganda não possa ser um líder mundial nisso.”
Café robusta originado em Uganda
A UCDA construiu um laboratório para garantir que Uganda continue a exportar café de alta qualidade para compradores em todo o mundo. O café robusta teve origem no país e protocolos ugandenses para avaliação do tipo de café foram desenvolvidos neste laboratório. A agência conta com 25 fiscais que fazem a classificação física, torrefação e análise sensorial das amostras de café antes do embarque para o destino final.
Em 2018, os ugandenses consumiram apenas 3-4% do café produzido no país. Masira e Buyaga no distrito de Bulambuli são importantes para a produção de café arábica, enquanto Sekanyonyi no distrito de Mityana é importante para a produção de café robusta.
A UCDA tem um programa para promover a cafeicultura no norte de Uganda. A organização quer incentivar a produção de café em regiões não tradicionais de cultivo – incluindo a sub-região de Lango, no norte do país – para ajudar os agricultores a mudar da agricultura de subsistência para a comercial.
Emmanuel Iyamulemye, diretor administrativo da UCDA, disse que o tempo seco em 2022 afetou negativamente a produção e a produtividade do setor. “Os padrões climáticos erráticos exigem maior investimento em medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, acrescenta. “Incentivo os agricultores a praticar boas práticas agrícolas, plantar árvores de sombra e cobrir as plantações de café para compensar o impacto das mudanças climáticas.”
Ele instou os agricultores a realizarem o corte, a prática de rejuvenescer os cafeeiros mais velhos, cortando todos os caules principais para estimular um novo crescimento vigoroso. Isso aumenta em até três vezes a quantidade de café produzida por uma árvore.
“Nesta temporada, nosso café obteve 85,25, que é o café de maior qualidade”, disse Nangoli Martin, diretor executivo da Kikobero Coffee, uma produtora de cafés especiais de Uganda. “Nossa fazenda está localizada a 2.300m acima do nível do mar e produzimos o melhor café. Fazemos café da do cafezal à xícara. Treinamos e documentamos 420 agricultores – em 20 de setembro de 2022, 97 deles foram certificados como orgânicos pela EcoCert, uma organização de certificação orgânica.”
Em maio de 2022, os países produtores de café da África pertencentes à Organização Interafricana do Café assinaram a Declaração de Nairóbi para incluir o café como um bem estratégico na Agenda 63 da União Africana, uma estrutura estratégica para a região com o objetivo de uma economia inclusiva e sustentável desenvolvimento.
A Declaração de Nairóbi deve ajudar os países produtores de café, como Uganda, a enfrentar uma série de desafios que o setor enfrenta, incluindo acesso a mercados, novas tecnologias, agregação de valor e pesquisa. A segunda Cúpula Africana do Café do G25 será realizada em Kampala, capital de Uganda, em 2023.
A demanda por cafés especiais de alta qualidade está aumentando em todo o mundo, e Uganda tem uma grande oportunidade de exportar esse tipo de café se puder garantir que possui os padrões sanitários e fitossanitários corretos.
As informações são do Investment Monitor. Tradução Juliana Santin