Embora as chuvas de setembro tenham ajudado o florescimento para o início da nova temporada de colheita, os cafeicultores estão preocupados com o que viram até agora. Alguns pés de café estão perdendo as folhas, enquanto outros produziram flores de forma atípica, e frutos caíram no chão antes de terem a chance de crescer.
“A planta tem boa memória. Ela anota no caderninho tudo o que sofreu nas últimas duas temporadas e agora vem cobrar a conta”, disse Éder Ribeiro dos Santos, agrônomo da Cooxupé, maior cooperativa de café do Brasil.
Maior produtor de café do mundo, o Brasil acaba de concluir uma colheita fraca, que deve levar os estoques a uma mínima histórica. É uma má notícia para os que dependem de uma dose de cafeína para começar o dia. A escassez global de oferta impulsiona os contratos futuros de café e contribui para a inflação dos alimentos. Condições climáticas adversas em diversos países também pressionam os estoques totais, enquanto o fenômeno La Niña ameaça a produção na Colômbia, o segundo maior produtor de café do mundo.
Na lavoura, os cafeeiros em florada mostravam tantos sinais de danos que especialistas não quiseram fazer uma previsão da produção nesta temporada. “Os agrônomos nem querem me dar uma estimativa da minha produção, simplesmente porque tem muita coisa que a gente não consegue saber”, disse Sergio Castejon, produtor de Monte Santo de Minas, em Minas Gerais.
E o cenário não deve mudar tão cedo. Segundo Cláudio Pagotto Ronchi, professor da Universidade de Viçosa e especialista em fisiologia vegetal, os efeitos prolongados da seca e da geada são esperados ao longo da temporada de 2023, porque os cafeeiros precisam de tempo para se recuperar.
Mas chuvas frequentes já são esperadas para os próximos meses, uma preocupação a menos para os cafeicultores, de acordo com Marco Antonio dos Santos, meteorologista da Rural Clima. Diante do fim da estiagem, o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, está otimista de que, mesmo com os problemas relatados até agora, a próxima safra será melhor do que as duas anteriores.
Ao finalizar a safra de 2022, a cooperativa conseguiu colher cerca de 6 milhões de sacas de 60 kg, tanto de membros quanto de terceiros, patamar semelhante ao de 2021, mas inferior aos 8 milhões registrados na boa safra de 2020. A temporada recém-concluída deveria ser um ciclo de alta produtividade, mas a produção foi reduzida pela forte seca.
Apesar da chegada das necessárias chuvas, os cafeicultores ainda podem esperar desafios relacionados ao clima. Temperaturas mais altas e maiores extremos entre a máxima e a mínima se tornam um desafio permanente devido à mudança climática. As incertezas exigem monitoramento e investimentos constantes em um momento no qual agricultores enfrentam dificuldades para gastar.
As informações são da Exame Agro.