Durante os dias 22 e 26 de março, vem sendo realizada a Semana Internacional da Agricultura Tropical – AgriTrop 2021. Na sessão da última quarta-feira (24), foram debatidos temas como: aumentar e regular o financiamento verde, incentivar sistemas nacionais de pesquisa agropecuária, promover a digitalização inclusiva do campo, investir em inovações para atender ao crescente aumento da demanda por proteínas e cooperar para adaptar as formas de produção para se preparar para os fortes impactos climáticos, sob o título Desafios e inovações institucionais para uma nova etapa do desenvolvimento da Agricultura Tropical no Mundo.
Desde segunda-feira (22), especialistas de vários países da Europa, África e América Latina estão reunidos para compartilhar expertises sobre sistemas alimentares, convergência das agendas agrícola e ambiental, além de desafios e inovações relacionados ao futuro da alimentação mundial. O evento, realizado pela Embrapa e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), vai até essa sexta-feira (26) e também tem o objetivo de colher contribuições para a Cúpula Mundial de Sistemas Alimentares, das Nações Unidas, marcada para setembro.
Pedro Martel, chefe da divisão de Economia, Meio Ambiente e Desenvolvimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), destacou dois avanços institucionais que considera importantes: melhorar os sistemas nacionais de pesquisas e a disponibilidade de marcos regulatórios para os financiamentos verdes.
“O Brasil, por exemplo, destina 1,82% do PIB agrícola, enquanto a Guatemala destina 0,14% e, na maior parte dos países, são destinados menos de 1%. Os investimentos em capacidades humanas, em doutores e pesquisadores, estão concentrados no Brasil, na Argentina e no México. Os demais países da região têm poucos pesquisadores. Este é o ponto central e mais importante com relação a mudanças institucionais”, pontuou.
De acordo com Pedro, os volumes de financiamento verde são pequenos em comparação com os financiamentos ordinários. “Austrália, Nova Zelândia e Canadá são exemplos positivos que têm mais 50% dos seus ativos financeiros nesta modalidade. A América Latina tem pouca participação do setor financeiro e poucos instrumentos de apoio, além de faltar definições claras sobre o que são fundos de financiamento verde”, disse, ressaltando que há, ainda, uma preocupação com fundos que passam por verdes, mas não são. “Este é um debate e um tema regulatório importantíssimo”, disse .
Desperdício
Para Gustavo Chianca, representante-adjunto da FAO no Brasil, a agricultura tropical é uma das chaves para reequilibrar a segurança alimentar no mundo e, para isso, a digitalização no campo deve ser priorizada. Ele também apontou a bioeconomia como parte da solução, especialmente no aproveitamento de resíduos de culturas agrícolas na alimentação. “Dessa forma, além de contribuir para a segurança alimentar, agregamos valor aos produtos agrícolas”, pontuou.
Ele afirmou que, até o início dos anos 2000, houve crescimento da produção alimentar, mas a partir de 2014, o cenário mundial começou a piorar especialmente na região subsaariana, em grande parte devido a conflitos, mudanças climáticas e a pandemia de Covid-19, que agravou ainda mais a situação a partir de 2020.
No entanto, ele afirmou que um dos maiores problemas é o desperdício e as perdas de alimentos que ocorrem desde a colheita até a distribuição. “O total de alimentos perdidos e desperdiçados hoje no mundo é de 220 milhões de toneladas por ano, ou seja, 330 kg per capita. O impacto econômico no PIB global é de aproximadamente 150 bilhões de dólares”, revelou.
Ele avalia que os países do cinturão tropical devem investir em novas culturas agrícolas e em proteínas alternativas, pois a produção mundial gira em torno de cinco commodities. “Precisamos diversificar essa gama de produtos para beneficiar especialmente a população à margem do desenvolvimento. Muito se fala no futuro, que precisaremos aumentar a produção de alimentos para atender ao aumento populacional, que deve chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050. Mas, hoje, temos 800 milhões de pessoas com fome no mundo. Portanto, o problema é atual e premente”, frisou.
Clima, infraestrutura e desafio demográfico
Alguns dos desafios do continente africano, apresentados por John Purchase, do AgBiz, são semelhantes aos da Índia, como clima e infraestrutura. Segundo ele, o continente é o mais afetado pelas mudanças climáticas. “Hoje já enfrentamos sérios problemas com secas e inundações em vários países”, ressaltou. É também o que apresenta o pior cenário em termos de insegurança alimentar.
Entre os fatores que levam a esse cenário, Purchase destacou o alto crescimento demográfico. A previsão é de que a população do continente chegue a dois bilhões em 2050 e dobre até 2100, alcançando quatro bilhões. Outro desafio é o crescimento das importações na África Subsaariana. “A África precisa melhorar sua produção agrícola para explorar seu potencial comercial”, afirmou Purchase, lembrando que o clima da região subsaariana é muito similar ao do Brasil.
Segundo ele, o continente tem enorme potencial de crescimento agrícola no que se refere a recursos naturais, subutilizados, especialmente em relação à terra e à água. Outras limitações apontadas por Purchase são de ordem logística de infraestrutura de transportes, que prejudicam embarques para a Europa e Oriente Médio, além da conquista de novos mercados. “A África tem produtos nativos importantes, como coco e café, entre outros, que poderiam ser mais exportados, além de ajudar a alimentar outros países que enfrentam problemas de aumento populacional, mas é premente investir em infraestrutura e logística”, ponderou.
Como soluções potenciais, ele ressalta a necessidade de uma política de gestão ambiental eficiente, incluindo questões ligadas à posse da terra, acesso a financiamento, tecnologia, capacitação, informação e mercados, fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis
Os links de transmissão estão disponíveis na programação no hotsite do evento.
As informações são da Embrapa.