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Análise do risco de preço na cafeicultura do Cerrado

JOSÉ LUIS DOS SANTOS RUFINO

EM 08/11/2011

5 MIN DE LEITURA

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As flutuações do preço de café, ao lado dos acontecimentos fortuitos no processo de produção, são os principais riscos que a atividade cafeeira comporta. O primeiro deriva das variações que ocorrem no período compreendido entre a decisão de se efetivar o empreendimento e a comercialização do produto final. Geralmente, são originados por fatores externos à atividade e, por isso, não se tem controle e conhecimento suficientes para evitá-los antecipadamente. No caso da cafeicultura ele é bastante conhecido, haja vista que a colheita dura algumas semanas e a sua comercialização pode ser feita ao longo de longo período de tempo, onde as flutuações são a regra geral.

Não obstante a relevância do risco de preços na atividade cafeeira, raramente se observa o questionamento sobre a influência da produtividade sobre ele, ao longo do tempo. Embora, sejam relativamente comuns as reflexões quanto ao impacto da produtividade da lavoura cafeeira no seu custo de produção. Essa preocupação, às vezes, se expande para tecer considerações entre a produtividade e o lucro do empreendimento.

Nosso objetivo neste artigo é ampliar a análise usualmente efetuada e observar, também, como, ao longo dos últimos 10 anos (2002/11), a produtividade da lavoura cafeeira esteve associada ao risco de preço ou de mercado. Para tal, vamos pautar nossa análise nos dados de custo gerados em 148 propriedades cafeeiras localizadas no Cerrado Mineiro e acompanhadas pelo Projeto Educampo Café, coordenado pelo Sebrae –MG.

Inicialmente, para observar a relação entre a produtividade da lavoura e os respectivos custos de produção, dividimos as 148 propriedades em quatro estratos, conforme apresentados no Quadro 1. Mais uma vez, constata-se que, com o aumento da produtividade (observado quando se passa do estrato 1 para o 4) há acréscimo do custo total de produção por área e, simultaneamente, há uma redução no custo total por saca produzida. Curiosamente, para este conjunto de propriedades, as duas variações opostas têm magnitudes semelhantes, da ordem de 42%.

QUADRO 1 – Valores médios do custo total de produção da lavoura cafeeira, por hectare colhido e por saca produzida, em quatro estratos de produtividade, no Cerrado Mineiro, em duas safras consecutivas, 2008/09 e 2009/10.


Fonte: CPD-Projeto Educampo Café

Os custos totais, considerados como constantes ao longo dos anos, foram cotejados com série mensal de preços de janeiro de 2002 até agosto de 2011, todos corrigidos pelo IGP-DI para agosto de 2011. Essa simulação significa que, café produzido com aquela mesma estrutura de custos, poderia ser vendido em qualquer um dos meses considerados. A partir dessa comparação, obteve-se os dados mostrados no Quadro 2. Por esse, se verifica que a propriedade cafeeira que obteve menos de 25 sacas por hectare nesse período, quando comercializasse seu café, poderia ter um lucro de, no máximo, R$ 2.178,75 por hectare, se efetuasse a venda no período de preço mais favorável. Ao contrário, se efetuasse a venda no período menos favorável, seu prejuízo seria de R$ 4.271,00 por hectare. A possiblidade de venda, considerando os preços de todos os meses, indica que as propriedades com esse nível de produtividade incorreria em um prejuízo médio de R$ 1.017,10 por hectare de lavoura. A probabilidade de que essas propriedades de menor produtividade tivessem prejuízo, foi da ordem de 77,6% ao longo do período considerado. Igual exercício pode ser feito para os demais estratos de produtividade.

QUADRO 2 – Simulação das possibilidades de lucro e da probabilidade de prejuízo das propriedades cafeeiras, considerando quatro diferentes estratos de produtividade, no Cerrado Mineiro, e no período de 2002 a 2011.


Fonte: Calculado a partir de dados do CPD-Projeto Educampo Café

Uma observação geral do quadro mostra que as propriedades de maiores produtividades tiveram possibilidade de obter maior lucro e, simultaneamente, tiveram valores menores de lucratividade negativa, caso vendessem em meses de preços mais adversos. Em termos de média, quando se considera a possiblidade de venda em todos os meses, a propriedades que produziram mais de 45 sacos no período considerado, podem ter alcançado um lucro de R$ 4.844,83 por hectare. Em termos da probabilidade de prejuízo, observa-se uma queda abrupta quando há aumento na faixa de produtividade. A probabilidade de prejuízo da cafeicultura que produziu entre 25 e 35 sacas (estrato 2) foi de, aproximadamente, um quarto daquela que produziram menos de 25 sacas por hectare. E mais, nesse período que abrange uma forte crise de preço do café, quem produziu 45 sacas ou mais por hectare, teve uma probabilidade de prejuízo menor que 4%.

Com base nesses dados para a cafeicultura do Cerrado, conclui-se, em princípio, que a cafeicultura de maior produtividade, além de apresentar menor custo e maior lucro por saca produzida, também está sujeita a um menor nível de risco de mercado. Contudo, essa não é uma relação contínua. Para verificar se isso é verdade quando se trata de maiores produtividades, separou-se, no estrato 4, apenas aquelas propriedades com produtividade igual ou superior a 50 sacas por hectare. A análise do risco dessas propriedades mostrou uma taxa de risco de 6,8%, portanto, bem superior àquela encontrada para o estrato com produtividade igual ou superior a 45 sacas por hectare. Por conseguinte, a conclusão um pouco modificada é: o risco de preço diminui com sucessivos aumentos de produtividade até determinado limite, acima do que, o risco de preços volta a crescer. Ou seja, os dados indicam que a propriedades que produziram, em média, no período analisado, em torno de 45 sacas de café por hectare, correram um pequeno risco de ter prejuízo. Aquelas que produziram, em média, fora dessa faixa, tiveram seus riscos ampliados à medida que se afastaram desse limite.

José Luis Rufino - Superintendente do Centro de Excelência do Café das Matas de Minas e Consultor Temático do Projeto Educampo Café

Luiz Gustavo Rabelo - Engenheiro Agrônomo, Supervisor Técnico do Projeto Educampo Café

Leandro da Silva Almeida - Engenheiro Agrônomo, Supervisor Técnico do Projeto Educampo Café



 

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/11/2011

Prezado Rufino e equipe
Formidável retorno. O análise é precisa ainda que não tenha contemplado a eventualidade do risco climático na simulação de captura de lucro.
Seja bem vindo...
Vamos fermentar a massa!!
Abçs
Celso Vegro
NATÁLIA SAMPAIO FERNANDES

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

EM 14/11/2011

Parabéns pela análise. Muito interessante os resultados apresentados.

Um motivo a mais para que os produtores invistam nas lavouras a fim de aumentar a produtividade.

Abraços
Natália Fernandes

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