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Real desaba em dia de pânico

WAGNER PIMENTEL

EM 07/05/2010

3 MIN DE LEITURA

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 Real desaba em dia de pânico

A decisão do Banco Central Europeu de não comprar títulos da Grécia no mercado
secundário desagradou os investidores e serviu de estopim para um tombo sem
precedentes recentes nas bolsas americanas e de fuga do risco. O dólar e os
títulos do Tesouro dos Estados Unidos, considerados o investimento mais seguro
do mundo, tiveram forte valorização. Bancos e fundos correram para desmontar
posições de forma a tentar conter suas perdas e as bolsas americanas chegaram a
cair mais de 9% no pior momento do dia. O dólar chegou a subir quase 6% em
relação ao real.
Foi um movimento de pânico, mas ainda restrito aos investidores, fundos e
tesourarias de bancos. O mercado de crédito internacional, no entanto, esteve
longe do que aconteceu no fatídico dia 15 de setembro de 2008, quando o Lehman
Brothers quebrou. A liquidez se reduziu no mercado de bônus, mas o crédito
interbancário continuou fluindo, embora com prêmios maiores. "Em 2008, a quebra
já havia acontecido", lembra Alexei Remizov, responsável pelo mercado de
capitais do HSBC Securities, em Nova York. "Agora, há o temor de uma moratória
que ainda não aconteceu", diz.
Pouco mais de um ano e meio depois, a crise do Lehman ainda está na memória e o
sistema de financiamento internacional não saiu da UTI. Um novo evento de não
pagamento poderia agravar ainda mais a saúde do doente.
Não foi à toa que todas moedas perderam valor em relação ao dólar, com exceção
do iene japonês. O real esteve entre as maiores perdas. A razão: animados com a
alta dos juros básicos Selic, os investidores externos vinham montando posições
compradas no mercado futuro de juros e adquirindo em grande quantidade títulos
do Tesouro brasileiro. Diante das perspectivas de crescimento forte no país,
estão também comprados na bolsa.
Segundo os números de custódia da Anbima (Associação Brasileira das Entidades
dos Mercados Financeiro e de Capitais), o total de ativos - ações e títulos de
renda fixa - no país de estrangeiros que entraram por meio da resolução 2689
era de R$ 528 bilhões em março, cerca de R$ 140 bilhões a mais do que em
setembro do ano passado e acima do total de R$ 370 bilhões de antes da crise da
Lehman Brothers, em janeiro de 2008.
No mês passado, houve tanto ingresso de dólar no país que o Banco Central pôde
comprar um total de US$ 3 bilhões, elevando o total de reservas internacionais
pelo conceito de caixa a US$ 247 bilhões. O valor poderá ser usado para venda e
para evitar uma volatilidade maior no câmbio, quando e se o BC achar que deve.
Além disso, os exportadores têm US$ 16 bilhões no exterior (diferença entre o
câmbio contratado para exportação e o total efetivamente exportado), segundo os
dados do BC, e podem ingressar com os recursos a qualquer momento, ajudando a
amortecer os impactos no mercado.
Ontem, o BC fez novamente um leilão de compra no fim do dia. O dólar fechou a
R$ 1,849, em alta de 2,84%, a maior variação diária em 14 meses. No ano, a alta
é de 6,08% e no dia, de 6,39%. "A ordem foi sair vendendo. E, como muita gente
tem reais, o efeito foi forte no mercado de câmbio brasileiro", explica o
economista da CM Capital Markets, Luciano Rostagno.
"Não há solução fácil para essa crise", diz Remizov. Há um problema político de
fundo, pois há vários países na União Europeia e nem todos pensam da mesma
forma, e isso se reflete no Banco Central Europeu, diz. "A dificuldade política
de implantar as reformas necessárias na Grécia continua, apesar da aprovação do
Parlamento", diz Paulo César Souza, diretor comercial do Société Générale. A
própria existência do euro está sendo questionada, lembram eles. "O euro não é
mais viável, porque os países não terão como efetivar o ajuste fiscal sem
desvalorizar o câmbio", diz Luciana Rostagno.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também vê a desvalorização
como alternativa a países que enfrentam uma crise dessa magnitude. Foi o que
fez o Brasil em 1999. "O problema é que eles não têm por onde mexer no câmbio,
enquanto adotarem o euro", explica. "Assim, o mercado está em pânico porque tem
medo de que o euro desapareça."
Outra preocupação que investidores enxergam é que, com a possibilidade de a
Europa ingressar em um período de recessão profunda, pode crescer o volume de
remessas de lucros e dividendos de companhias dessas nacionalidades, com o
objetivo de cobrir o prejuízo das matrizes. E isso pressionaria o real. A
Espanha respondeu, no primeiro trimestre deste ano, por 4% do Investimento
Estrangeiro Direto no Brasil e Portugal participou com 3,1%

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