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Corrida acelerada pelo cultivo de eucalipto no Estado de São Paulo

WAGNER PIMENTEL

EM 15/06/2010

4 MIN DE LEITURA

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Corrida acelerada pelo cultivo de eucalipto no Estado de São Paulo

A quase 900 metros de altitude, no topo do Morro Grande, na estrada das Rosas,
em Salesópolis (SP), o aposentado José Renó do Prado se divide entre mostrar a
sua área mais recente de cultivo de eucalipto, no cume da montanha, e o telhado
da sua casa de campo, lá embaixo, no pé do morro.
De cima, é possível avistar também uma imensidão de eucaliptos que ocupam
praticamente 80% das áreas com alguma atividade produtiva no município, que se
notabilizou por abrigar a nascente do rio Tietê onde as águas permanecem ainda
límpidas, enquanto na capital paulista, distante apenas 100 quilômetros, jazem
em meio aos detritos urbanos.
Com exceção de um sítio ou outro, já não há mais terra disponível em
Salesópolis para expansões. O município já foi o maior produtor de eucalipto do
Estado de São Paulo, mas há alguns anos perdeu espaço nas estatísticas oficiais
para outras regiões novas, para onde a floresta plantada avançou.
Economistas asseguram que, juntamente com a cana-de-açúcar, a cultura do
eucalipto desponta como uma das mais dinâmicas do Estado, com rentabilidade
igual e até superior à da cana-de-açúcar. Ocupa mais de 800 mil hectares e
avança rapidamente nas áreas de pastagens.
Com baixo investimento inicial e pouca necessidade de manejo, a floresta
plantada vem se disseminando nas mãos de pequenos e médios agricultores que,
além de vender parte da produção para o mercado tradicional de papel e
celulose, têm sido atraídos também pelo crescimento dos mercados de energia e
de construção civil.
Estar em áreas montanhosas e com baixa fertilidade ajuda a explicar o porquê de
a atividade estar crescendo expressivamente entre pequenos e médios
produtores. As áreas são mais baratas e menos disputadas pela agricultura
tradicional. As propriedades acidentadas são pouco atrativas até mesmo aos
grandes projetos de cultivo de eucalipto das gigantes de papel e celulose, que
precisam de terras planas para mecanizar plantio, manejo e colheita, e obterem
mais ganhos de eficiência.
Em média, essas áreas acidentadas chegam a ter preços equivalentes a 40% dos
valores de terras planas em uma mesma região, segundo levantamento da NAI
Commercial Properties, especializada em mercado imobiliário.
Os pequenos e médios já detêm 20% da área total cultivada com eucalipto no
Estado, confirmam os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão
ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo. Levantamento do órgão feito em
1995 mostrou que haviam 30 mil produtores de eucalipto no Estado - em 2008, já
eram 44 mil. A diferença é basicamente explicada pelo avanço dos pequenos e
médios, segundo Eduardo Pires Castanho Filho, pesquisador do IEA.
Para produzir eucalipto não é preciso ter na bagagem uma larga experiência em
agricultura. Na realidade, quase nenhuma. Renó, diretor-executivo de uma
associação que reúne 140 produtores ativos de eucalipto em Salesópolis, a
Camat, explica que entre os integrantes do grupo estão profissionais liberais,
como médicos, advogados e uma boa parte de aposentados, que veem no pouco
investimento e na baixa complexidade do manejo atrativos da atividade.
O próprio Renó, hoje com 67 anos, é militar aposentado. Antes do eucalipto sua
maior experiência no campo foi com a criação de suínos e frangos em seu
sítio, na época, de 6,5 mil alqueires. Dezessete anos se passaram desde que ele
se aposentou. Nesse período, sua área rural cresceu dez vezes, para 70 mil
alqueires, principalmente graças à renda do eucalipto. Alguma sorte na venda do
primeiro sítio, que lhe rendeu preços acima do esperado, também ajudou.
Suínos, galinhas e um pouco de gado também marcaram a experiência anterior no
campo do português da Ilha da Madeira, Francisco Cândido da Silva, de 75 anos.
Em sua terra natal, Cândido também compartilhou a experiência da família que
produzia banana e açúcar na década de 50. Aos 18 anos, ele se mudou para o
Brasil, a alternativa que lhe restou a servir o exército e lutar nas batalhas
da guerra colonial portuguesa.
Hoje com 100 alqueires de eucalipto em sociedade com os filhos, área que há 15
anos era cinco vezes menor, Cândido diz que a cultura tem manejo simples e
baixa demanda por capital. Segundo ele, o investimento inicial é de R$ 2 por
árvore ou R$ 6 para três árvores, que equivalem a um metro estéreo (medida de
volume para lenha). O valor inclui a muda, duas aplicações de adubo e uma de
herbicida ao longo dos seis primeiros meses, quando a área também passa por
limpeza.
O maior investimento é realizado apenas na colheita, cinco a seis anos depois
do plantio, quando o custo de produção de três árvores sobe para, em média, R$
22. "Para colher, é preciso fazer estrada, contratar trabalhadores para cortar,
transportar até a encosta e até o local de entrega. Mas é investimento que se
faz no corte, ou seja, quando a venda da madeira será feita e a receita
internalizada. Não há imobilização de muito capital enquanto a árvore se
desenvolve", complementa o português.
Na hora da venda, o valor mínimo que se consegue hoje por um metro estéreo é R$
50. Ou seja, um custo de R$ 22 distribuído em seis anos para uma receita de R$
50 - líquido de R$ 28 em seis anos, segundo o produtor.

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