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Café: uma história chamada Espírito Santo

WAGNER PIMENTEL

EM 17/05/2010

6 MIN DE LEITURA

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Café: uma história chamada Espírito Santo
A Gazeta ES
16/05/2010

Café: uma história chamada espírito santo

Uma trajetória que se mistura com a história do Espírito Santo e de muitos capixabas. O café trouxe famílias para cá, fez crescer cidades e, até hoje, é o sustento de milhares de trabalhadores no Estado. E, como em todos os anos, o ciclo de produção chegou a seu auge, esta semana, com o início da colheita do conilon, que já está aquecendo a economia e o mercado de trabalho na maioria dos municípios locais.

Este ano, estima-se que 300 mil pessoas trabalhem na fase de colheita, que vai de maio a julho. O café, mesmo com preços não tão atrativos, deve gerar renda próxima de R$ 1,8 bilhão somente para os cafeicultores.

A colheita do conilon, cultivado nas regiões de clima mais quente, destacadamente no Norte e no Noroeste do Estado, já começou e vai até junho. A colheita do arábica, que predomina nas regiões de clima mais frio, como a do Caparaó e a Centro Serrana, vai se estender até o mês de julho. E para os produtores das duas variedades de café, a palavra de ordem é: produto de qualidade.

“Estamos buscando e queremos a excelência dos cafés produzidos no Estado”, diz o coordenador Estadual de Cafeicultura, Romário Gava Ferrão. Na última sexta-feira, foi lançada, em São Gabriel da Palha, a campanha de melhoria da qualidade do café conilon. Na próxima semana será feito o lançamento da campanha para a excelência de qualidade do café arábica.

No mercado globalizado e exigente, a preferência é pelos produtos de qualidade. E para os cafeicultores, um alerta do presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Evair Vieira de Melo: “Só vão sobreviver os produtores que fizerem investimento em tecnologia, em qualidade e também em mercados futuros”.

O município de Vila Valério, no Norte, é um dos bons exemplos de investimento em tecnologia. Além do salto em qualidade, os produtores do município aumentaram a produtividade. Agora, Vila Valério é o maior produtor estadual de café conilon. A performance da cafeicultura de Vila Valério é resultado do investimento em tecnologia. A irrigação das lavouras é uma delas, atesta o chefe do escritório local do Incaper, Joventino Vieira de Souza.

Para a obtenção de café de qualidade, o produtor precisa manter os cuidados em todas as fases, que vão desde o preparo do solo, passando pela boa procedência das mudas e pelos tratos com as lavouras. Mas o produtor que faz tudo isso e não segue as orientações técnicas para a colheita abre mão de parte do seu lucro, lembra Ferrão.

A colheita de café verde, pode ser um exemplo para demonstrar as perdas para o produtor. Aquele que não tem paciência de esperar que o café amadureça, e começa a colheita com 50% dos grãos verdes, tem perda de 18% a 20% no peso. Traduzindo isso em números, o produtor que fizer isso perde cerca de R$ 2,7 mil por hectare.

O dinheiro seria suficiente para comprar 60 sacos de adubo, volume suficiente para adubar a lavoura durante todo o ano, explica Ferrão. Para evitar o prejuízo e garantir a qualidade do café, outros cuidados devem ser adotados. As orientações estão na cartilha que o Incaper está distribuindo aos produtores de todo o Estado, no período da colheita dos cafés conilon e arábica.

Cultivo de qualidade já une três gerações
A lavoura de café do produtor Geraldo Antônio Mação ocupa 15 hectares. É uma área pequena, mas a produção é de qualidade. A mulher, Rosângela, e o filho Alexandre o ajudam a cuidar da lavoura, que tem boa produtividade, 85 sacas por hectare, em média. O pai de Geraldo, José Mação, de 80 anos, começou a atividade na localidade de Córrego São Bento. Ele, que já gostava de diversificar a produção, passou os ensinamentos para o filho. Hoje, Geraldo, também cultiva coco. Com os preços do café não tão compensadores, a venda do coco verde, explica, ajuda no rendimento da família. E experiência pode ser uma das alternativas para reduzir os efeitos da elevada temperatura. O coco é consorciado com o café e, segundo Geraldo, os pés de café que ficaram protegidos pela sombra dos coqueiros produziram grãos de melhor qualidade.

“Enquanto tiver vida, quero meu café comigo”
Um dos maiores produtores de Vila Valério é, simplesmente, apaixonado por café. E ao ouvi-lo falar de sua forte ligação com o produto fica a impressão de que o café circula em suas veias, misturado ao seu sangue. “O café é minha vida. Passar três dias longe de minhas lavouras é um sacrifício”, confessa Paulo Roberto Alves Roberti. Junto com os filhos Roberto e Raul, ele gerencia os negócios do café, que incluem 105 hectares de área plantada, área para secagem e área de armazenagem, inclusive para terceiros. Roberti acompanha o dia a dia dos negócios da família, mas o que ele mais gosta é estar nas lavouras e acompanhar todas as etapas da colheita. Ele chegou na região em 1951, ainda criança, levado pelo pai, Benedito Alves, que levou a família de Cachoeiro de Itapemirim para a Região Norte, pois lhe parecia mais promissora. As lavouras de café começaram a ser plantadas em 1976. Antes disso, a pecuária era a atividade principal, mas não agradava a Roberti, que sonhava com a cafeicultura. “Enquanto eu cuidava do gado, sonhava com minha máquina pilando café”, recorda Roberti. Até o neto, Raulzinho, de cinco anos, acompanha o avô nas lavouras. “Outro dia, ele ajudou a plantar uns pés de café”, conta, orgulhoso.

Vila Valério é o maior produtor
Maior produtor de café conilon do Estado, o município de Vila Valério tem 21,9 mil hectares (ha) de área plantada. A safra está estimada em 642 mil sacas, e a produtividade média é de 30 sacas por hectare. Ainda é baixa, mas muito superior à de 1998, que era de 9 sacas por hectare.

O salto na produtividade, conseguido em 11 anos, é resultado da adoção de tecnologias, garante o chefe do escritório local do Incaper, Joventino Vieira de Souza. Foram muitos anos de intenso trabalho junto aos produtores.

Todo o trabalho realizado foi importante para que o município conquistasse a posição de maior produtor, explica. Entretanto o grande salto veio mesmo com a irrigação das lavouras. Hoje, 100% das lavouras no município são irrigadas. Produzir café de qualidade sem irrigação é uma ideia que não vinga mesmo.

O fortalecimento das parcerias entre o setor público, o setor privado e as entidades que representam os cafeicultores também foi importante para a consolidação da atividade no município, destaca Souza. O crédito é outro ponto positivo. De acordo com dados do Bandes, nos últimos cinco anos, os financiamentos aos cafeicultores somaram R$ 35 milhões.

Para o secretário estadual de Agricultura, Enio Bergoli, “a busca incessante pela qualidade dos cafés se justifica pela exigência cada vez maior dos consumidores e nem tanto como vantagens adicionais de preços do produto, mas como uma premissa à permanência dos cafeicultores num mercado cada vez mais competitivo”.

O presidente da Federação da Agricultura no Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, reclama dos preços pagos ao produtor. Segundo ele, as lavouras mais tecnificadas responderam melhor à estiagem e conseguem produzir com menor custo. Mas a situação não é a mesma em todo o Estado. Os produtores que não conseguiram investir em tecnologia ainda produzem com custo elevado.

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