Uma experiência de uso de um substrato misto, na produção de mudas de café em maior escala, mostrou boa viabilidade, técnica e econômica.
O sistema mais usado na produção de mudas de café tem sido através do emprego de sacolinhas plásticas como recipientes, cheias com um substrato composto por terra + esterco + adubo químico. As mudas, assim produzidas, apresentam a vantagem de poder contar com insumos mais facilmente disponíveis nas propriedades.
Uma desvantagem das mudas de sacola, que se tornou crítica nos últimos anos, é o maior risco de contaminação por nematóides. Isso porque não se dispõe mais, como no passado, de um produto para desinfestar o substrato, como o que era usado, o eficiente Brometo de Metila. Assim, a crescente infestação das áreas cafeeiras pelos nematóides do gênero Meloidogyne, e, ainda, a problemática com o Pratylenchus, tem feito com que regulamentações oficiais indiquem a proibição de uso de terra no substrato para o preparo de mudas de café.
A utilização de substratos artificiais, onde não entra terra, por sua vez, leva à produção de mudas em outros recipientes, como tubetes, bandejas, ou em sacolas de TNT, os quais exigem mais conhecimentos e cuidados, especialmente sobre o tipo do substrato e sua composição. São necessárias definições sobre aspectos técnicos como – nutrição das mudas, retenção de água, facilidades de manejo etc. Além disso, deve-se levar em conta o custo do substrato.
No presente estudo, foi feita uma experiência, em escala comercial, com a produção de mudas de café em bandejas, em viveiro com 100 mil mudas, usando um substrato misto. As bandejas foram as de 32 células, quadradas, da empresa Agro Bandejas, tendo o formato de 6 cm na largura (boca), 12 cm de altura e volume de 220 cc. O substrato artificial usado foi o Carolina Soil. Para reduzir o custo e melhorar a característica nutricional foi utilizada uma mistura, a seco, de 50% de esterco de curral peneirado, resultando no que se chamou de substrato misto. As bandejas foram arrumadas sobre suporte longitudinal de 6 arames, esticados sobre armação de madeira, formando uma espécie de canteiro, com largura de duas bandejas lado a lado, ficando, assim, com 1,10 m e comprimento variável. Elas ficaram suspensas a 80 cm do solo (figura 2). O substrato Carolina soil é composto de turfa de sphagnum (de musgo), vermiculita, fibra de coco e de madeira. O esterco de curral, pela sua passagem no rumem dos animais e pela fermentação, é submetido a temperaturas altas, letais a eventuais nematóides (poucos) que possam vir junto com a pastagem ingerida.
As mudas foram germinadas em leito de areia, com esterco na parte superior (2-3 cm), este para acelerar a germinação (figura 1 A). O transplante foi iniciado na fase palito de fósforo e encerrado na fase de orelha de onça (figura 1B). A condução do viveiro ocorreu de modo usual, com irrigação conforme a necessidade, cuidando para evitar excesso, pois o substrato misto tem capacidade de reter muita umidade. A nutrição das plantas foi suprida em parte pelo esterco e complementada por regas de fórmula 20-05-20 e Iara irriga, mais aplicações foliares de zinco, cobre e boro. A proteção das mudas foi feita com a combinação de fungicida cúprico e Mancozeb.
Os resultados mostraram um bom desenvolvimento das mudas, que ficaram em ponto de plantio, com 4-5 pares de folhas, cinco meses depois do transplante, considerado um crescimento normal, não sendo mais rápido por serem formadas em período de inverno e em altitude de cerca de 600 m, portanto, em condições de mais frio.
No aspecto econômico, verificou-se que o custo unitário, por muda produzida, ficou em R$ 0,465, sendo R$ 0,12 pelas bandejas, R$ 0,065 pelo substrato, R$ 0,03 pelas sementes, R$ 0,10 pela estrutura do viveiro e R$ 0,15 pela mão de obra. Considerando que as bandejas e a infraestrutura podem ser utilizadas por, pelo menos, três vezes, o custo da muda fica em cerca de R$ 0,45, valor equivalente à metade do preço normal de comercialização de mudas na região. Além do custo viável das mudas, acrescenta-se as economias, que serão possíveis, com maior rendimento, no transporte e plantio das mudas no campo.
Figura 1- Sementes germinando em germinador de areia/esterco (esq.) e bandejas cheias com o substrato misto e já com transplante das mudinhas, no estágio de palito-de-fóforo (dir.) - Mutum (MG), 9 de maio/2023
Figura 2- Aspecto do viveiro, com as bandejas suspensas, com as mudas já em desenvolvimento
Figura 3- Em final de junho/23, dois meses após o transplante, as mudinhas já se desenvolvendo e, pelo excesso de água, apresentavam leve deficiência de ferro, sendo corrigida pelo uso foliar e pela redução da rega
Detalhe das mudas já prontas, com bom desenvolvimento, da parte aérea e do sistema radicular e algumas delas já plantadas