Antigamente dizia-se que o café ia atrás do “pio do macuco”, significando que as lavouras de café iam sempre procurando novas terras de mata, férteis, onde vivia esse pássaro. Mas, nas últimas décadas, isso já não foi possível.
Com a renovação de cafezais promovida a partir de 1970, a cafeicultura passou a ocupar, em grande escala, áreas nos Cerrados, na época terras pobres e improdutivas. Assim, atualmente, cerca de 850 mil ha, ou cerca de 40% do parque cafeeiro no País, ocupa áreas antes de cerrado, gerando renda e empregos. Essas áreas de café são mais representativas nas regiões em Minas Gerais, em parte de São Paulo, no Oeste da Bahia e até em Goiás, estimando-se sua capacidade de produzir safras médias de 25-28 milhões de sacas de café por ano.
Exemplar do pássaro Seriema, também chamado de Siriema ou Sariema, no toco da porteira de fazenda de café, no Sul de Minas
Para sustentar essa nova cafeicultura, foi preciso desenvolver tecnologias apropriadas nos setores de correção de solo e de nutrição das plantas, no uso de variedades mais vigorosas e produtivas, no emprego de espaçamentos adequados, em combinação com a mecanização dos tratos e da colheita. Pode-se observar como eram pobres os solos de Cerrado, com o exemplo da pesquisa pioneira, cujos resultados estão colocados na figura 1. Na média de dez safras computadas, a testemunha, sem adubação, praticamente não produziu, e a produtividade foi aumentando na medida em que a nutrição foi sendo mais completa, abrangendo o suprimento de NPK, depois mais calagem e mais os micro-nutrientes.
Figura 1 - Resultado pioneiro de resposta do cafeeiro à adubação NPK, à calagem e à aplicação de micronutrientes em solos de campo-cerrado – Batatais (SP), 1956. Média de dez safras
Hoje em dia, as lavouras cafeeiras nos Cerrados tem sido as mais produtivas, além de propiciarem, pelo seu clima mais seco no inverno, boa qualidade de bebida dos cafés ali produzidos.
A Siriema continua presente, continuando a povoar as agora fazendas de café, sendo ali protegidas. Até uma nova variedade de café tem o nome em sua homenagem. Seu canto pode ser ouvido e, como diz a crença popular, chama chuva – esta é importante para os cafeeiros –, se bem que agora é ajudada pelas novas tecnologias de irrigação, que tem suprido áreas menos chuvosas ou com períodos críticos de stress nos Cerrados.
Nos Cerrados, antes pobres e improdutivos, a cafeicultura melhora os solos, traz renda, empregos e desenvolvimento econômico-social