Na primavera/verão é comum a ocorrência de chuva de granizo ou chuva de pedra atingindo as lavouras de café. Neste ano, o fenômeno aconteceu em várias regiões, em algumas de forma bastante severa. Os danos provocados pela chuva de granizo são de ordem mecânica, ou seja, ocorrem pelo impacto das pedras de gelo sobre as diferentes partes do cafeeiro, provocando machucaduras nas folhas, ramos e tronco, e sobre os frutos, machucando ou derrubando os mesmos.
Em seguida os cafeicultores, abalados pelos prejuízos, logo procuram o que fazer para promoverem a recuperação das lavouras afetadas. Certas medidas, de curtíssimo prazo, podem sim ser realizadas. Outras, ao contrário, demandam mais tempo, necessário pra verificação dos efeitos reais ocorridos sobre as plantas de café, para, assim, definir melhor se haverá ou não necessidade de algum tipo de poda.
No curto prazo, para as áreas de altitude elevada, sujeitas a doenças como Phoma e Pseudomonas, é indicada uma aplicação imediata e protetiva, utilizando uma combinação de fungicida à base de cobre, com um específico, como Cantus, mais uma estrobilurina. Ainda, caso haja necessidade e se houver algo de enfolhamento capaz de absorção, pode-se agregar zinco e boro para aproveitar a aplicação e projetando que com as novas brotações esses micro-nutrientes vão ser muito úteis.
Nas práticas de recuperação das lavouras atingidas, usando podas, deve-se ter bastante cuidado, buscando orientação técnica adequada, sempre observando o que aconteceu em cada área. Na maioria dos casos, a poda não vai ser necessária, pois o efeito do granizo atinge mais a ramagem fina, a parte externa dos ramos e, muitas vezes, só de um lado da planta. Assim, como na poda comum, deve-se aproveitar ao máximo a estrutura da ramagem das plantas, talvez um desponte, mesmo assim podendo ser feito só de um lado, especialmente para o pequeno produtor, para que se possa aproveitar a produção de frutos remanescente do lado bom da planta. Recepa só em último caso. Veja-se que a ação do granizo já faz efeito semelhante a um desponte. É indicado aguardar um pouco para definir as podas, pois assim pode-se ver a capacidade de brotação da ramagem. A execução de desbrotas de brotos ladrões que saem do tronco, esta sim, quase sempre é necessária.
A ocorrência de granizo também pode antecipar práticas que já estejam na mira do produtor. Por exemplo, uma lavoura muito velha, com espaçamento muito largo, uma vez atingida por granizo, vai dar mais motivo para ser substituída por uma lavoura nova em vez de ser recuperada.
Uma situação que tem gerado muitas dúvidas aos produtores e técnicos sobre o que fazer é aquela sobre o efeito do granizo e as práticas de recuperação de uma lavoura nova, em formação. No geral, as pessoas pensam logo em recepar, quando o normal é esperar e observar como vem a brotação. A não ser em cafeeiros muito novos, nos primeiros meses de campo, o granizo não chega a matar muitas plantas. Assim, deve-se conduzir a brotação apical, quando da rebrota e, se necessário, replantar eventuais falhas. Veja que as pequenas lesões, provocadas na casca dos ramos saram rapidamente e logo desaparecem.
No mais, é aproveitar áreas de terreno que ficam mais livres e usar para plantio de culturas intercalares, como feijão, milho, etc, assim, especialmente para o pequeno produtor, garantir receita complementar, importante na ausência/redução da produção na lavoura de café.
Uma equipe de técnicos da Fundação esteve recentemente visitando as áreas afetadas por granizo na região de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais. Lá puderam ver os estragos das chuvas de granizo. Observaram práticas corretas, mas muitas erradas, por excesso no uso de podas muito drásticas. Orientaram o que aqui colocamos.
Aspecto geral e detalhe do efeito da chuva de granizo sobre lavouras de café em Santa Rita do Sapucaí (MG) - nov/19.
Detalhe do efeito do granizo que afetou mais um lado da linha de cafeeiros, podendo-se manter o lado menos atingido para aproveitamento da produção pendente do ano.
Lavoura muito velha e muito espaçada atingida por granizo. Ao invés de recepar, vale mais a pena antecipar sua substituição por uma nova lavoura, com variedade melhor e com mais plantas por área.
Cafeeiros jovens, em formação, no geral não precisam ser recepados. Basta conduzir a brotação apical e eliminar excesso de ramos ladrões. Na foto, em Santa Rita do Sapucaí (MG), conforme orientado no texto, já houve aproveitamento para plantio intercalar de feijão e milho.