Observações em campo, em regiões de cafeicultura de montanha, mostram que o parasitismo de Beauveria em frutos de café com broca ocorre de forma natural, com maior intensidade em condições de sombra e umidade.
No Brasil, a cafeicultura de montanha se concentra nas regiões da Zona da Mata de Minas Gerais e no Sul do Espírito Santo. Nessas regiões, são cultivados cerca de 530 mil ha de lavouras de cafeeiros arábica.
A broca dos frutos de café tem sido a principal praga das lavouras nessas regiões de montanha e o seu controle químico é dificultado, seja pela declividade do terreno, que impede o trânsito de maquinário tratorizado para as pulverizações, seja pelas aplicações manuais onerosas e com risco de contaminação dos trabalhadores. Resta a pulverização com canhões atomizadores, usados em propriedades maiores, porém, como são aplicadas por cima da copa dos cafeeiros, as gotas atingem pouco os frutos, onde a praga ocorre, pois se encontram mais no interior das plantas.
Uma opção de controle seria através do uso de inimigos naturais, parasitas. Estes também encontram dificuldades pela necessidade de manter uma população de micro-vespas (vespa de Uganda e vespa do Togo) ou do fungo Beauveria no campo, em períodos de entressafra, quando tem ausência da praga. Além disso, o uso de fungicidas ou inseticidas, para controle de outras doenças ou pragas, interfere no equilíbrio desses parasitas. Deste modo, é importante o estudo de condições que favorecem a permanência de parasitas de forma natural.
O objetivo desta nota técnica é relatar as condições encontradas em campo onde prevalece o parasitismo por Beauveria, para auxiliar na indicação de aplicações desse parasita de forma a ser mais efetiva. Para isso, foram conduzidas visitas e avaliações, em propriedades na região de montanha, em lavouras de diferentes sistemas de condução. As verificações efetuadas mostraram que o parasitismo de Beauveria ocorre naturalmente, sem a aplicação de produtos com o fungo. Essa ocorrência se dá, com maior intensidade, em lavouras mais adensadas e em regiões mais sombreadas e com mais umidade. Este comportamento deve estar ligado à menor incidência de sol, visto que os raios ultravioleta são danosos ao fungo. Também, verificou-se maior ocorrência deste parasitismo em lavouras onde são usadas poucas pulverizações com fungicidas para controle da ferrugem. Por fim, nos vários ciclos de observação, efetuadas nos últimos 6 anos, observou-se que o parasitismo aparece na medida em que o ataque da broca avança, sendo mais presente depois do início de maturação dos frutos, coincidindo nos meses mais frios do ano. O ideal seria a situação do parasitismo ocorrer no início da infestação da broca, assim, reduzindo sua multiplicação. De todo modo, verificou-se que o parasitismo natural não tem sido suficiente para o controle, pois em duas áreas onde ocorreu esse parasitismo a infestação de broca, nos grãos beneficiados, das lavouras dessas áreas, tem sido na faixa de 15-25%, uma infestação considerada severa em cafés arábicas.
Frutos de café aparecendo na coroa, pontos brancos, evidenciando o parasitismo natural do fungo Beauveria sobre as brocas