As ervas daninhas que crescem no meio das lavouras de café concorrem em água, nutrientes e luz, reduzindo o desenvolvimento e a produtividade dos cafeeiros. No controle dessas ervas, é importante o conhecimento das condições de sua ocorrência e de suas características, de crescimento e de reprodução.
A presente nota técnica objetiva relatar, pela primeira vez, a ocorrência, de forma significativa, da infestação da erva Azevém em cafezais.
A Azevém (Lolium multiflorum) é uma planta daninha que apresenta problemas de concorrência em culturas de soja e trigo na região Sul do Brasil, em condições de clima temperado, mais propício ao seu desenvolvimento. Ele serve, ainda, como pastagem e como planta de cobertura para formação de palhada para plantio direto. A espécie é anual, de fácil dispersão de sementes.
Nos últimos anos, vinha sendo observada, de forma esporádica, em manchas, infestação em lavouras de café de uma erva daninha que chamava a atenção, nas visitas em campo, por sua semelhança com as plantas de trigo. Neste ano agrícola, a infestação desta erva, identificada como Azevém, vem ocorrendo de forma mais grave, ocupando vastas áreas de lavouras e, em certos casos, de forma dominante.
As zonas de ocorrência mais problemáticas da Azevém, em cafezais, foram observadas como sendo aquelas de altitudes mais elevadas, acima de 1000 m, de clima mais frio, talvez por terem condições mais próximas daquelas do Sul do País. Essas verificações recentes foram feitas na região de Poços de Caldas e Botelhos, em Minas Gerais, e em São Sebastião do Grama, em São Paulo. A constatação foi feita no período de inverno, em agosto/setembro. A Azevém, uma planta da família das Poáceas (ex-gramíneas), tem folhas finas, forma touceiras e cobre as áreas no meio da rua e junto às linhas de cafeeiros (figura 1). Sua identificação é facilitada pela verificação de sua panícula, semelhante àquela da planta de trigo (figura 2). Em um caso, verificou-se que ela, ao cobrir o solo, parecia evitar o desenvolvimento de outras ervas.
Em infestações em anos anteriores, a Azevém mostrou que tem um ciclo de vida bem definido, entrando em senescência, e, até o momento, nas condições em cafezais, a erva se mostra bem controlada com o uso de Glifosato. Ocorre que já foram observados, a partir de 2003, biótipos da erva resistentes a esse herbicida, em áreas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Nas lavouras de café, ao cobrir o solo no inverno, o azevém, além da concorrência com os cafeeiros, pode trazer dificuldades nos trabalhos de colheita e, também, tornar a área mais sujeita às geadas.
Figura 1- Área de lavoura de café com infestação da erva Azevém, cobrindo toda a área, e detalhe da touceira jovem da erva crescendo junto aos cafeeiros - Poços de Caldas (MG), set/23
Figura 2- Aspectos da folhagem da erva Azevém crescendo junto a cafeeiros e detalhe das panículas da Azevém, que facilitam sua identificação - São Sebastião do Grama (SP), set/23