Neste ano agrícola, de novembro de 2019 a fevereiro de 2020, tem sido observadas, na maioria das regiões cafeeiras, chuvas bem acima da média histórica. O suprimento de umidade no solo pelas chuvas é desejável, pois favorece os processos de crescimento e de produção nas lavouras de café. No entanto, o excesso pode ser prejudicial.
No caso dos novos plantios de café, deste ano agrícola (2019/2020), as chuvas constantes beneficiaram, pois melhoraram o pegamento das mudas plantadas e o desenvolvimento inicial das plantas. Também os cafeeiros plantados em 2018/2019 foram beneficiados, pois vinham desfolhados pelo período seco até set/out de 2019, e agora apresentam boa recuperação.
Andando pelas zonas cafeeiras, pode-se ver que não existem lavouras de café em formação ruim, só boas ou muito boas. Mas o excesso de chuvas não deixa de prejudicar. Em alguns casos, especialmente onde o plantio foi feito sobre áreas aradas e, ainda, devido ao alinhamento de plantio agora adotado, com linhas mais longas, não exatamente em nível, ocorrem problemas de enterrio ou de arranquio de mudas. Isso vem exigindo correções, como o desenterrio, seguido de lavagem das folhas, para evitar queimas e o replantio de mudas arrancadas. As principais causas desses problemas tem sido o escorrimento da água das chuvas ao longo da linha, dentro do sulco, e/ou a ruptura de caixas de retenção ou de carreadores.
As lavouras de café adultas, em produção, também vêm sendo beneficiadas pelo melhor regime hídrico. Nesse ano não foram observados veranicos, comuns em janeiro, que prejudicam a granação dos frutos. Por outro lado, o excesso de chuvas prejudica pela lavagem de nutrientes e sua lixiviação em profundidade, especialmente o nitrogênio, que fica na solução do solo e não se fixa nele. Com isso, cafeeiros com mais carga mostram um amarelecimento da folhagem e têm aumento no ataque de cercosporiose. A umidade excessiva aumenta o período de molhamento foliar e favorece a evolução de doenças, como a ferrugem, Phoma e mancha aureolada.
Os dados da Estação Meteorológica da Fundação Procafé, em Varginha (MG), mostram um exemplo do excesso de chuvas nesse período recente. Foi observada a seguinte precipitação: em nov/19 = 152 mm; em dez/19 = 274 mm; em jan/20 = 220 mm; e em fev/2020 = 503 mm, totalizando 1199 mm. A média histórica (últimos 44 anos), na mesma localidade, é de 878 mm, nesse mesmo período. Outro exemplo, na Fazenda Santa Helena, em Areado (MG), local de menor altitude e sempre menos chuvas, a precipitação entre novembro/19 e fevereiro/20 foi de 1132 mm.
Fazenda Experimental de Varginha, plantio em final de janeiro/2020. Foto em meados de fevereiro. Pode-se ver uniformidade de pegamento e desenvolvimento das mudas no campo
Porção da linha de plantio de mudas de café com acumulo de terra de enxurrada, por chuva excessiva, podendo-se ver algumas mudas já desenterradas (esquerda) e mudas arrancadas pelo forte escorrimento de águas de chuva pesada (direita). Foto no Sul de Minas, em fev/2020