Estudos recentes mostram que o fósforo total do solo em lavouras de café atinge níveis muito altos e este reservatório do nutriente deve contribuir para a falta de respostas, de adubações fosfatadas, sobre a produtividade de cafeeiros.
Na fase de formação da lavoura de café, o fósforo tem sido um nutriente essencial, sendo aplicado através de adubos fosfatados, incorporados nos sulcos ou covas de plantio. Porém, na fase adulta, as pesquisas efetuadas, em grande número, não mostram resultados de aumentos de produção em cafeeiros pelo uso de fósforo nas adubações anuais.
Ao se observar a dinâmica de fósforo no solo, conforme figura 1, pode-se verificar que as formas do nutriente variam sua solubilidade e, portanto, sua disponibilidade para as plantas num processo constante de fixação e de liberação, com dupla direção. Deste modo, existindo um nível alto de P no solo, ele poderá dar origem a, também, um adequado teor disponível.
Dois estudos recentes avaliaram o nível de fósforo total e aquele determinado por análise usual de solo. Na Zona da Mata de Minas verificou-se, na média de 16 amostras, um nível de 336 ppm de P total, contra 6,9 ppm pela análise com o extrator Mehlich, presumidamente o P solúvel. Em Franca (SP), foram avaliados dois solos com cafezais, uma área de plantio mais recente, com lavoura aos 2,5 anos de idade, e outra com lavoura de 23 anos de cultivo. A tabela 1 mostra os teores de P encontrados em amostras de 0-20 cm, nas duas condições de lavouras.
Verifica-se que os teores de P total encontrados são bastante altos nas duas condições de solo. A lavoura cultivada por 23 anos mostra solo com P total de 1495 ppm. Considerado o volume/peso do solo, na camada amostrada (0-20 cm) teríamos cerca de 20 mil toneladas de solo por há e o P total contido nessa área seria o equivalente a 2,99 t . Pode-se ver o contraste dessa grande quantidade diante da necessidade anual de cerca de 18 Kg de P por hectare/ano, para uma produção de 30 scs de café/ha. Sabe-se que o cafeeiro também explora camadas mais profundas, o que amplia mais essa quantidade de P.
A disponibilização de fósforo para seu aproveitamento é ativada pela produção de ácidos orgânicos, pelas raízes do cafeeiro e pela sua associação com micorrizas. Na tabela 2, pode-se observar o efeito positivo da inoculação de micorrizas sobre o peso seco das plantas e sobre os teores foliares de P.
Pode-se verificar o grande acréscimo, no crescimento e no teor foliar de P, por efeito de micorrizas, seja com inoculação de espécies selecionadas (Glomus e Gigaspora sp) seja por micorrizas obtidas de solo em cafezal velho, com efeito ligeiramente inferior na inoculação pouco antes do plantio.
Finalmente, a tabela 3 mostra os resultados de ensaios com aplicação de doses crescentes de P2O5 em cafeeiros em duas regiões típicas de cafeicultura. Verifica-se que não foram obtidas respostas de aumento de produtividade, mesmo os solos originais tendo níveis baixos de P, pela análise usual e, ainda, mesmo com avaliação em elevado número de safras, onde foram repetidas, anualmente, aplicações das doses testadas.
A análise aqui efetuada indica que não existem justificativas para continuar aplicando adubos fosfatados em condições onde os solos das lavouras de café já possuem bom nível de P, quem dirá doses muito elevadas, como alguns chegam a recomendar.