Observação em campo mostrou que o molhamento foliar no cafeeiro é essencial para a evolução de doenças na planta.
A evolução do ataque de uma doença, em plantas, depende da combinação de fatores, favoráveis ou desfavoráveis, relacionados a três componentes: o patógeno, a planta e o ambiente. O patógeno influi com sua espécie, raça/estirpe, virulência e modo de infecção. A planta afeta a evolução da doença pela sua maior ou menor susceptibilidade, ligada à variedade, ao espaçamento, sua carga de frutos, seu estado nutricional, etc. Já o ambiente influi condicionando os meios para a infecção, multiplicação e desenvolvimento do patógeno, afetando, também, a susceptibilidade da planta.
O cafeeiro é atacado por diversas doenças, sendo, as principais, a ferrugem, a cercosporiose e a Phoma. No caso da ferrugem e da Phoma, essas doenças são muito influenciadas pela condição climática, onde se destacam a temperatura e a umidade. Os fungos causadores infectam e se multiplicam com maior facilidade e dependem muito da umidade e do molhamento foliar. Quanto maior o molhamento, ou seja, quanto maior o tempo que a folhagem ou ramagem permanecem molhados, maior vai ser a infecção.
Sabe-se da importância do molhamento foliar através de estudos em laboratório, mas não se conhecia sua comprovação em condições de campo. Esta constatação foi feita, recentemente, em cafeeiro que ficou com parte da copa da planta protegida sob coberta de um barraco, construído no meio de uma lavoura de café, na localidade de Santa Maria do Marechal, na região de montanha, no Espírito Santo. Em junho de 2023, em visita de um grupo de técnicos em lavouras da região, foi verificado, em cafeeiros da variedade catuaí vermelho, o fato de parte da planta coberta apresentar folhas completamente livres, com infecção zerada de ferrugem, Phoma e cercosporiose. Na mesma planta, o outro lado da copa, que ficava exposta a chuvas e orvalho, ao contrário, se encontrava com nível elevado de infecção pela ferrugem e, também, com início de ataque de Phoma e cercosporiose. Esse aspecto diferencial de ataque de doenças foi verificado através de observações pelo grupo de técnicos e foi registrado, em fotos e vídeos, conforme ilustrações nas figuras 1, 2 e 3.
O fato do barraco ter sido construído para abrigar trabalhadores da lavoura das chuvas e do sol, outro fator que poderia estar envolvido seria a sombra, porém, sabe-se que lavouras sombreadas e mesmo a saia de cafeeiros, por terem mais sombra, são mais afetadas pela ferrugem.
Conclui-se que: o efeito do molhamento foliar é comprovadamente importante no desenvolvimento de doenças no cafeeiro, também em condições de campo. Assim, a presente nota técnica tem o objetivo de caráter científico, mas, também, de efeito prático, indicando que se deve adotar práticas para reduzir o molhamento foliar dos cafeeiros, tais como – maior abertura/arejamento das plantas, por espaçamento e podas e redução do mato.
Planta de café com metade da sua copa (foto da esquerda) sob uma barraca construída no meio da lavoura, e outra parte da mesma planta (foto da direita) que ficou fora da cobertura. Destaca-se o grande diferencial de ataque de doenças na folhagem - Santa Maria do Marechal (ES), jun/23
Detalhe da folhagem livre de doenças na parte do cafeeiro que ficou sob cobertura (esq.) e da outra parte da folhagem que ficou exposta ao molhamento, com forte ataque de doenças - Santa Maria do Marechal (ES), jun/23
Um dos técnicos do grupo avalia de perto a situação de doenças no cafeeiro, verificando, conforme detalhe ao lado, a ausência de doenças na parte da copa da planta protegida pela cobertura do barraco