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Lavouras de café mostram boa preservação ambiental

POR JOSÉ BRAZ MATIELLO

FOLHA PROCAFÉ

EM 16/07/2024

3 MIN DE LEITURA

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Muito se tem discutido quanto ao efeito de cultivos agrícolas e de criações sobre o meio ambiente. No caso da cultura cafeeira, tem-se mostrado muitas características favoráveis no aspecto de preservação ambiental. Trata-se de uma cultura perene, em boa parte conduzida com práticas manuais, portanto sem uso de muito combustível e onde o solo é bem preservado, seja pela ausência de revolvimento por arações, como nos cultivos de grãos, seja pela boa cobertura que os cafeeiros oferecem ao solo, semelhante ao que se identifica como ideal, uma cobertura parecida com uma floresta. 

No aspecto de sequestro de carbono, um estudo do Projeto Carbono, patrocinado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), realizado por levantamentos em 40 propriedades cafeeiras de Minas Gerais, mostrou que, mesmo utilizando as práticas tradicionais de produção, a cafeicultura sequestra mais carbono do que a emissão de gases do efeito estufa. O estudo avaliou as emissões e também os estoques, nas plantas e no solo. Verificou-se que houve o sequestro de 3,4 t de C equivalente por hectare e a emissão de 1,77 t, portanto, com um resultado negativo de 1, 63 t. O trabalho, que foi realizado pelo Imaflora, com a participação do Prof. Carlos Cerri, da ESALQ, concluiu, ainda, que implementadas boas práticas de manejo, o sequestro foi maior, com um balanço negativo de 10,5 t/há/ano. Como práticas mais importantes destacam-se o uso racional de fertilizantes, a manutenção de cobertura vegetal nas ruas da lavoura e o adensamento do plantio. 

A bioanálise é um instrumento que vem sendo adotado nos últimos anos, visando uma avaliação qualitativa do solo, quantificando os principais grupos de organismos biológicos que são bioindicadores da saúde do solo e estão relacionados ao potencial produtivo do terreno. 

Um estudo foi realizado, em 2022, na Fda Experimental de Varginha, visando comparar a população de micro-organismos, as bactérias e fungos presentes em solos de lavouras de café, em comparação com solo de uma área virgem de cerrado, buscando mostrar o efeito da cultura cafeeira, a longo prazo, sobre a biologia do solo. Foi feita amostragem de solo em três condições, sendo: o solo de cerrado, virgem, e os solos de duas lavouras de café, a primeira com 18 anos de idade conduzida em sistema adensado e outra com 40 anos, conduzida no sistema mecanizado. 

Os resultados sobre a população de fungos e bactérias estão colocados nas tabelas 1 e 2. Observa-se que a população total de fungos se mostrou elevada em todos os solos, sendo que foi até maior no solo cultivado com cafeeiros, no sistema adensado, quando havia um entendimento de que o uso continuado de fertilizantes químicos e defensivos poderia reduzir essa população. Ocorre que uma lavoura de café se comporta como uma manta, cobrindo bem o solo e reciclando folhagem e outros resíduos orgânicos constantemente. Com isso e mais a reciclagem do mato, ocorre um bom aporte de matéria orgânica para suporte aos micro-organismos no solo. Dentre as espécies de fungos, a que ocorreu em maior escala foi a Penicillium spp, sendo que as espécies dos gêneros Trichoderma e Metharizium, consideradas muito benéficas, estiveram mais presentes nas lavouras de café do que no solo virgem do cerrado. Com relação às bactérias, tanto o número total como as do gênero Bacillus estiveram mais populosas nas lavouras de café do que na área de cerrado, com solo virgem. 

Nesse estudo conclui-se que: o cultivo de lavouras de café mantém, e até aumenta, a população de micro-organismos, fungos e bactérias no solo, quando em comparação com solo virgem, de cerrado. Esse efeito de manutenção da microbiologia do solo ocorre em função, provavelmente, da reciclagem de material orgânico oriundo do ambiente do cafezal. 

Tabela 1- População de oito espécies de fungos em amostras de solo, no cerrado virgem e em dois tipos de lavouras de café - Fazenda Experimental de Varginha (MG), 2023

Tabela 2- População de bactérias, totais e Bacillus, em amostras de solo no cerrado virgem e em dois tipos de lavouras de café - Fazenda Experimental de Varginha (MG), 2023


Lavoura de café e área de cerrado, na Fazenda Experimental de Varginha, onde foram feitas as amostragens de solo para comparação das populações de fungos e bactérias

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