Observações de campo em lavouras de café mostram que o frio e seus efeitos interagem e variam conforme as características das lavouras, principalmente com a variedade, o manejo adotado e a irrigação.
A cafeicultura brasileira, localizada mais ao sul do País, abrangendo os estados do Paraná, São Paulo e Regiões Sul e Triângulo de Minas, nessa época de inverno, fica sujeita ao efeito do frio que pode atingir os cafeeiros de duas formas: uma queima leve, restrita às folhas novas da ponta dos ramos, com temperaturas um pouco acima de 0°C, e a geada, onde ocorre queima mais severa do cafeeiro, podendo atingir a folhagem, os ramos e até o tronco das plantas, nesse caso com temperaturas negativas.
A influência da variedade sobre o efeito do frio varia devido ao porte das plantas. As de porte baixo são normalmente mais atingidas, seja pela maior proximidade do solo, onde o frio é depositado, seja pela sua maior tolerância ao stress hídrico, o que mantém a seiva das plantas mais aquosa, facilitando a queima dos tecidos. Comportamento semelhante ocorre com variedades mais tolerantes a déficits hídricos. Observa-se, ainda, que variedades da espécie C. canephora ou robusta toleram menos o frio em relação às de arábica.
Outro aspecto a considerar quanto às variedades é a necessidade, em áreas sujeitas a geadas, de situar variedades de maturação mais tardia nas partes mais altas do terreno, pois, especialmente em geadas mais cedo, os cafeeiros podem ter os frutos, ainda verdes, prejudicados pelo efeito do frio.
No manejo das lavouras, a principal interação do efeito do frio ocorre em relação à cobertura do solo. Solo coberto com vegetação (por mato ou cultivos intercalares), viva ou morta, reduz a incidência do sol e, consequentemente, o armazenamento de calor pelo terreno. Nesse mesmo sentido, lavouras com espaçamentos mais abertos tendem a ser menos afetadas por geadas. A adubação potássica adequada, de forma equilibrada, também tende a minimizar o efeito do frio, devido à maior concentração de sais na seiva das plantas.
Quanto ao aspecto da irrigação ou, da mesma forma, a ocorrência de chuvas no inverno, ao suprirem água aos tecidos dos cafeeiros, deixam as plantas mais hidratadas e sujeitas à queima pelo frio. Portanto, nos meses mais frios, a irrigação deve ser dispensada nas áreas sujeitas a geadas, o que já é uma prática usual, pois coincide com o período de colheita e repouso dos cafeeiros. Esse efeito de falta de água no solo sobre a ação do frio nas plantas pode ser verificado em campo, pois em manchas da lavoura com terreno mais arenoso ou com cascalho, com menor retenção de água, os cafeeiros sempre são menos queimados por geadas.
Figura 1 - Efeitos do frio em cafeeiros: queima leve por efeito de temperaturas pouco acima de zero grau ou então em partes mais altas do terreno em lavouras atingidas por geadas (esq.) e queima da folhagem por geada (dir.) por temperaturas negativas
Figura 2 - Contraste entre uma linha de cafeeiros de variedade menos tolerante à seca e menos atingida por geada (esq.) e outra mais tolerante e mais atingida (dir.). Área com cobertura de solo na rua mal conduzida, com mato alto, quando o ideal seria manter o solo exposto no período de inverno
Figura 3 - Cobertura do solo com vegetação, nas ruas do cafezal, condiciona maior gravidade da geada