Nem tudo que parece é. Vale esse dito popular quando se trata de diagnosticar problemas que aparecem nas lavouras de café. O diagnóstico correto, visando identificar a causa real do problema, deve considerar os vários aspectos ligados à ocorrência.
Os problemas na lavoura cafeeira podem ser agrupados de acordo com quatro origens, sendo: a) de natureza física ou mecânica; b) de origem química; c) de origem biológica; e d) de natureza fisiológica. Como se conhece, cientificamente, são os chamados fatores bióticos e abióticos.
O diagnóstico de problemas nos cafezais deve ser feito, inicialmente, pela observação visual das plantas e das suas partes, verificando os sintomas ou sinais que aparecem. Essa verificação deve começar pela lavoura como um todo, depois passando ao exame das plantas e de suas partes: folhas, ramos, frutos e raízes.
A visão geral permite identificar o modo como o problema vem ocorrendo: se em toda a lavoura, se em todas as plantas, em reboleiras de plantas ou, então, ao acaso. Esse modo de ocorrência já dá uma pista sobre o problema. Assim, por exemplo, doenças no geral evoluem em reboleiras. Queima por adubos aparecem mais em algumas plantas salteadas.
Nessa observação inicial, deve-se procurar a correlação dos problemas com a condição local, manchas de solo, situação de relevo, face da lavoura e das plantas, etc. Deve-se, também, levantar os produtos e as práticas de manejo que foram utilizados recentemente, pois eles podem estar correlacionados com sua ocorrência. No mesmo sentido, devem ser obtidos os dados de clima e problemas climáticos registrados em período próximo passado.
A diagnose visual deve, sempre que necessário, ser complementada por análises de materiais coletados das plantas ou do solo, que são enviados aos laboratórios para exame fitopatológico ou análise química, dando base mais segura ao diagnóstico final e, em seguida, dará origem às recomendações para a superação dos problemas através do emprego de práticas adequadas.
Recentemente, três problemas ocorreram e são exemplos da necessidade de um diagnóstico correto. Primeiro foram botões enegrecidos que podem ter sido identificados como causados por ataque de fungos, como a Phoma. Ocorre que o período vinha muito seco e quente, portanto, não propicio à evolução dessa doença, cujo ataque deveria também estar presente nas folhas. Então, a causa real pode ter sido falta de água.
Segundo, o que ocorre todos os anos, consiste numa queda de frutos maiores e menores, que é associada ao ataque de fungos, quando, na realidade, é um problema fisiológico ligado às reservas da planta. Nesses frutos caídos, lesões escuras que aparecem especialmente na região onde o fruto se desprendeu do ramo são provocadas por fungos secundários, saprófitas.
Terceiro, são queimas de folhas e ramos que aparecem como se fosse uma bacteriose e, quando se verifica mais detalhadamente, podem estar ligados a uma causa física/química, por exemplo, um excesso de sais por adubação ou por aplicação de defensivos.
Exemplos de botões mumificados por falta de água, não por Phoma
Exemplo de frutos caídos e que apresentam lesões escuras na região de onde se desprenderam dos ramos. Causa fisiológica, não por ataque de fungos
Exemplo de plantas com folhas queimadas causadas por excesso de sais por adubações pesadas com pouca umidade no solo