Muitos produtores não vêm conduzindo de forma adequada as brotações em cafeeiros recepados, o que pode afetar a estruturação da copa das plantas e influir na sua produtividade futura.
A recepa é uma poda usada em lavouras de café do tipo mais drástico. Nela, é feito o corte do tronco na parte baixa da planta, e, assim, a brotação ortotrópica, que vai surgir, será responsável por formar uma nova copa da planta podada. Para que isso ocorra de forma apropriada, é preciso conduzir a brotação, significando que deve ser feita a desbrota do excesso de brotos, deixando apenas um número indicado de brotos ou hastes por planta. Esse número varia com o espaçamento.
O que tem sido visto em algumas lavouras, especialmente nas áreas que foram recepadas depois da geada de 2021, é que os produtores deixaram de fazer a condução da brotação conforme as recomendações normais. Os problemas ou erros, que têm sido observados no campo, são principalmente: a) Áreas que não receberam desbrota; b) Áreas onde as desbrotas foram tardias e, assim, as brotações ficaram estioladas e fracas, sujeitas a tombamento; c) Áreas onde foram deixados brotos extras, para reduzir riscos de quebras, mas que agora vêm sendo mantidos, sem a desbrota complementar, prevendo retirada só depois da próxima safra.
A falta de condução adequada da brotação no pós-recepa seria justificada, em parte, pelo grande volume de trabalho manual que a operação de desbrota necessita, exigindo, pelo menos, duas passadas na lavoura. Porém, quando se deixa um número excessivo de brotos, se perde uma das finalidades da poda, que consiste em reduzir a grande quantidade de hastes nas plantas da lavoura e, com a desbrota, mantendo somente um número apropriado de brotos, formar uma nova copa mais bem estruturada.
A desbrota das plantas recepadas deve ser feita quando os brotos estiverem com cerca de 15-20 cm e repetida 4-5 meses depois, para eliminar brotos novos que tenham surgido depois da 1ª desbrota. O número de brotos, a conduzir por planta, deve estar relacionado ao espaçamento entre plantas na linha. Nas lavouras mais modernas, onde o plantio foi feito com 0,5-0,7 m entre plantas, o indicado é deixar apenas um broto ou haste por planta. Em lavouras com 1 m entre plantas, pode-se deixar dois brotos por planta. Lavouras mais velhas, com plantios feitos com 1,5-2,0 m entre plantas, com 1-2 mudas por cova, pode-se conduzir 3-4 brotos por planta/cova. Mesmo caso não tenha sido feita a desbrota na época certa e os brotos ficaram maiores, indica-se fazer a desbrota. Os brotos ficam estiolados, com o caule fino, mas, com a volta de boa insolação, eles acabam engrossando. Haverá, logicamente, uma perda produtiva na primeira safra.
Outro cuidado na condução das plantas recepadas está ligado à morte de plantas após a poda. Como determinado pela pesquisa, com a recepa ocorre a perda de raízes (cerca de 50% delas morrem,) por falta de reservas que vinham da parte aérea, agora eliminada. Então, especialmente em recepas feitas em cafeeiros mais velhos, fracos ou estressados por carga alta, especialmente em espaçamentos mais largos entre plantas, haverá plantas que não brotam ou tem brotação muito fraca. Nesse caso vai ser preciso um replantio, usando mudas maiores.
Resta destacar que a poda por recepa deve ser usada só em último caso, quando efetivamente necessária, diante da perda completa de saia ou excesso de hastes, e também quando a geada atingir fortemente as plantas. A condução da brotação se aplica a todas essas condições que deram origem à necessidade da recepa.
Em cima, área recepada depois da geada de 2021, cuja desbrota ficou atrasada, e, em baixo, as mesmas plantas desbrotadas, tardiamente, ficando com brotos estiolados
À direita, planta de café recepada e sem condução da desbrota, formando um embatumado de brotos. À esquerda, planta com condução de 2 brotos por planta
Cafeeiros recepados com brotação conduzida na época e modo corretos, formando uma copa adequada