O uso de culturas intercalares em lavouras de café mostra-se, diante das últimas geadas, uma boa alternativa para otimizar a ocupação das áreas atingidas e gerar renda aos produtores.
As geadas recentes de julho/21 causaram danos graves, com queimas de plantas em grandes áreas de cafezais em diferentes regiões de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Foi um problema, porém, ao promover maior abertura nas ruas das lavouras, devido à perda da folhagem e parte da ramagem, criam melhores condições, com mais área livre, para o cultivo intercalar de culturas anuais, como feijão, milho, arroz, soja e outras.
O cultivo intercalar nas lavouras de café era uma prática muito usual no passado. Atualmente, esse tipo de cultivo vem sendo pouco utilizado, sendo mais restrito a algumas regiões e, especialmente, a pequenos produtores. A redução no uso da prática se deve, principalmente, a dois fatores: o maior adensamento nos espaçamentos do cafezal e a dificuldade com a mecanização dos tratos da lavoura.
As características mais importantes na escolha das culturas, para sua adoção em cultivos intercalares, de modo a minimizar a concorrência com os cafeeiros, são: o ciclo curto e, de preferência, o porte baixo das plantas; serem pertencentes à família das leguminosas; serem plantadas no período chuvoso e convenientemente adubadas. Outra recomendação consiste em usar os cultivos intercalares quando existe boa área livre na lavoura, como ocorre em cafeeiros em formação, em lavouras podadas e/ou atingidas por geadas. Além disso, deve ser observada a aptidão de solo e clima para a cultura e a sua condição econômica (custo/preço e mercado).
Para superar as dificuldades impostas quanto à mecanização dos tratos, tanto dos cafeeiros, como das plantas intercaladas no cafezal, existem tecnologias adequadas. A primeira coisa é usar um número apropriado de linhas das plantas intercalares, de forma a ajustar o rodado (largura e altura) do trator. A segunda, muito importante, é contar com maquinário adaptado, de forma a facilitar o plantio das culturas, o controle de pragas, doenças e do mato e a colheita dos grãos produzidos.
No plantio, deve-se usar plantadeiras de 3-4 linhas, com acessórios (disco e facão) próprios para plantio direto. Nas pulverizações, pode-se adaptar uma barra traseira no pulverizador normal de cafeeiros. Na colheita, podem ser usados equipamentos normalmente empregados no recolhimento do café do chão, com modificação na sua “garganta”. Com isso, pode-se, facilmente, cultivar culturas de bom valor atual, como a soja e outras, com bom nível de mecanização. As pesquisas e as experiências mais recentes, em áreas comerciais, mostram que é possível colher cerca de 20 scs de soja/ha de cafezal em área onde se ocupa cerca de 1/3 de terreno. No caso de lavouras em formação, nas podadas ou nas atingidas por geadas, essa disponibilidade de área livre é maior e, portanto, podem ser obtidos maiores rendimentos.
As pesquisas com culturas intercalares mostram que a competição delas com o cafeeiro é muito pequena, dependendo, principalmente, das espécies e do número de linhas a serem plantadas por rua do cafezal.
No caso de áreas não mecanizáveis ou em pequenas propriedades, o cultivo intercalar pode ser realizado facilmente, mesmo com tratos manuais, pois as culturas como o feijão, o arroz e o milho se destinam ao consumo próprio ou ao comércio local.
Área de cafezal atingido por geada no Sul de MG, onde, com a desfolha e poda de esqueletamento a ser realizada, vai haver boa exposição da área nas ruas para aproveitamento com cultivo intercalar
Soja plantada intercalar ao cafezal. (Fazenda Botânica, Paulo Celso de Almeida) - Patrocínio (MG)
Pode-se ver o detalhe de máquina adaptada no trabalho de colheita de soja em cultivo intercalar. (Fazenda Botânica, Paulo Celso de Almeida) - Patrocínio (MG)