Em outubro/novembro ocorreram chuvas de granizo em uma grande área cafeeira e, em seguida, observando a brotação das plantas atingidas, verificou-se um aspecto novo, um aumento na brotação da ramagem, porém, com folhas menores e mais deficientes.
A chuva de granizo, ou chuva de pedra, consiste em um tipo de precipitação atmosférica da água em seu estado sólido. Ela tem origem no interior de nuvens altas, de tempestade, chamadas cumulo-nimbus. As pedras são de cor translúcida e brancas, constituídas por várias camadas de gelo. Ao caírem sobre as plantas de café, dependendo do tamanho das pedras e da intensidade delas, podem danificar a folhagem, a ramagem, a frutificação e até o tronco do cafeeiro. Além desses danos mecânicos, o granizo abre feridas nos tecidos, que facilitam a entrada de patógenos, especialmente a bactéria Pseudomonas, causadora da mancha aureolada.
A chuva de granizo normalmente ocorre de forma localizada, ou seja, pode atingir de modo diferenciado, mesmo cafezais em áreas vizinhas. Algumas lavouras podem receber o granizo de forma mais intensa. Outras, pelo efeito de vento, podem ser mais danificadas de um lado das plantas. Já outras ficam livres do granizo. Neste ano, no entanto, o prejuízo do granizo foi observado em áreas mais amplas que o normal.
As práticas para recuperação de lavouras de café atingidas por granizo são bem conhecidas, iniciando pela proteção contra doenças através de aplicações de produtos cúpricos, isto nas áreas mais frias e onde a bacteriose é problemática. Em áreas mais quentes ou sem histórico dessa doença, essa pulverização não se torna necessária. Quando for preciso, seguem os trabalhos de poda, sendo que é mais comum aplicar um decote onde o ponteiro das plantas foi muito atingido, principalmente nas lavouras onde já seria preciso reduzir um pouco a altura das plantas. Em grande parte dos casos, a poda não se mostra necessária, em função de que a própria chuva de granizo já faz uma poda, tipo desponte, na ramagem lateral. Desbrotas, sim, são muito necessárias, pois a abertura da planta, a maior insolação do tronco da planta e os ferimentos provocam o aparecimento de grande quantidade de brotos ladrões.
Alguns técnicos e produtores receiam que a ramagem, ferida pelas pedras de gelo, não tenha condições de se recuperar, e logo pensam em cortá-la. Na realidade, o que acontece é que as feridas vão aos poucos “sarando”, fechando. Elas dificultam a circulação das reservas nos ramos, já prejudicadas pela desfolha, e, juntamente com a intensidade da nova brotação, condicionam uma vegetação deficiente, exigindo cuidados nutricionais, especialmente na correção de micronutrientes.
Pode-se observar que o lado da planta atingido pelo granizo (esq.) foi bastante danificado e já retoma a brotação. Do outro lado da linha de plantas (dir.), o granizo atingiu pouco e a vegetação se manteve melhor. Fotos em Rio Paranaíba (MG). Granizo ocorreu em 6 de novembro e as fotos são de 9 de dezembro de 2022. Lavoura de catuaí na 4ª safra
Detalhe da intensa brotação ao longo de toda a ramagem em função da chuva de granizo. Pode-se verificar folhas pequenas e deficientes, em razão dos ferimentos dos ramos e, ainda, da desfolha e da falta de reservas dessa ramagem, para atender muita brotação no curto prazo