Os terreiros de café podem ser utilizados como captadores das águas de chuva que caem sobre eles, e essa água pode ser utilizada para ajudar na economia da irrigação e, ainda, para outras atividades nas propriedades cafeeiras.
As instalações de preparo do café, pós-colheita, compreendem, em praticamente todas as propriedades, uma área de terreiros para uso exclusivo ou combinada a secadores mecânicos, visando a secagem dos frutos colhidos.
Os terreiros são utilizados na secagem de café por 3 a 4 meses, entre maio e agosto, no período normal de colheita. Nesse período, nas condições da cafeicultura do centro-sul do Brasil, o tempo é seco. As chuvas se concentram de outubro/novembro a março/abril. Então, durante o período chuvoso, os terreiros ficam limpos e podem, facilmente, servir de coletores das chuvas.
Num projeto de cafeicultura na região do Cerrado Mineiro, em Presidente Olegário (MG), foi conduzido um trabalho para avaliar as condições de captação e uso da água de chuva, oriunda dos terreiros de secagem de café. A propriedade possui 112 ha de lavouras de café irrigadas por gotejamento. O terreiro construído tem 16 mil metros quadrados.
O terreiro do projeto possui uma caída de 1%, das margens para o centro do terreiro, e, ao longo desse centro, existem ralos e, sob eles, uma tubulação de manilhas recolhe a água que escorre da superfície do terreiro. Daí, por gravidade, também conduzida por manilhas, a água vai ser depositada em um reservatório inferior e, deste, é bombeada até o reservatório central, base do sistema de bombeamento para a irrigação.
Verificou-se que, nesse projeto, no ano de 2022, foram coletados, pelo terreiro, 24 milhões de litros de água, o que representou 8% do total da água usada na irrigação dos 112 ha de lavouras no ano.
Conclui-se, assim, que, com pequenas adaptações, é viável aproveitar a água de chuvas através de captação no terreiro de café, representando economia de bombeamento de fontes mais distantes e, ainda, contribuindo para um melhor uso ambiental da água disponível na propriedade.
Observa-se, ainda, que, mesmo as propriedades que não irrigam as lavouras, podem utilizar o terreiro e um depósito de armazenamento de água de chuvas, e usar essa água para outros fins, como no processo de lavagem/separação de cafés, nas pulverizações, etc.
Vista geral do projeto em fazenda em Presidente Olegário (MG). Pode-se observar o terreiro de secagem, com 16 mil m2, onde a chuva é escoada, por gravidade, para um depósito inferior, e daí com recalque para o depósito central de onde sai o sistema de irrigação
Vista do setor central do terreiro, com um conjunto de ralos para coleta da água de chuva que escorre do terreiro. À direita, detalhe da grade, que permite a passagem de água e evita eventuais passagens de frutos de café e de outros resíduos. As setas indicam a caída do piso do terreiro