As geadas recentes mostraram, mais uma vez, que a arborização de lavouras de café oferece boa proteção contra a queima pelo frio, representando uma opção para uso nas áreas muito sujeitas a esse fenômeno climático adverso.
A arborização em cafezais é uma prática que visa formar uma sombra rala sobre a lavoura para amenizar as temperaturas, máximas e mínimas, no ambiente junto aos cafeeiros. Ela é pouco utilizada na cafeicultura brasileira devido às dificuldades ligadas à necessidade de implantação das árvores e pelos problemas de redução de produtividade dos cafeeiros e de impedimento parcial de tratos mecanizados.
Quanto ao efeito da arborização, em relação aos danos por geadas em cafeeiros, alguns estudos têm sido realizados. Na Fazenda Experimental de Varginha, no Sul de MG, foi avaliada, por ocasião da geada de julho de 1994, a proteção oferecida por árvores de Grevillea, na época com 15 anos de idade. Elas haviam sido plantadas em uma área de 1,7 ha, em diferentes espaçamentos, desde 10x8 m até 10x28 m, dentro de uma lavoura de café mundo novo. Nessa geada, a temperatura mínima verificada no posto meteorológico foi de -1ºC e ocorreu uma geada severa na área. As observações em seguida mostraram uma proteção total nas plantas de café sob arborização, sendo que na área vizinha, da mesma lavoura, porém sem arborização, os cafeeiros foram atingidos em folhas e ramos. A proteção foi obtida em um raio de aproximadamente 8 m a partir de cada árvore de Grevillea.
Para quantificar o efeito da arborização sobre a temperatura e, assim, explicar a proteção observada contra a geada, foram avaliados dados obtidos em termômetros de máxima e mínima instalados nas áreas, representando as condições de sombra (arborizada) e a peno sol. Verificou-se que houve um diferencial médio de 2ºC entre as duas áreas, sendo a menos na temperatura máxima e a mais na mínima, isso indicando que a queima por geada não ocorreu na área arborizada em função desse diferencial nas mínimas. As árvores, pela sua copa, funcionam como um efeito guarda-chuva, reduzindo, à noite, a perda de calor para o espaço.
Outras observações feitas ao longo do experimento em Varginha foram que na área sob arborização ocorre: a redução do ciclo bienal das safras nos cafeeiros; mais uniformidade na maturação dos frutos de café; e redução na infestação de bicho mineiro e na infecção por cercosporiose e leprose, com aumento na ferrugem. (Matiello, Miguel, Almeida, Camargo e Guimarães, In- Anais do 20º CBPC, Procafé, 1994, p. 4).
Na geada recente, de 20 de julho de 2021, em área de cafezal em propriedade no município de Varginha, arborizada com abacateiros, foi observada uma boa proteção nos cafeeiros próximos e sob a copa das árvores, diferentemente das áreas vizinhas que tiveram queima em folhas e ramos novos (ver fotos ilustrativas).
Os resultados de experimentos e as observações em lavouras comerciais arborizadas, em diferentes regiões, mostram que, apesar das dificuldades na implantação dessa prática, ela pode ser útil para cafezais em áreas mais baixas de terrenos, portanto, mais sujeitas a geadas. Dependendo das plantas de sombra usadas, os espaçamentos podem variar de 10-12 x 10-12 m, combinando as árvores dentro das linhas de cafeeiros, para minimizar problemas com tratos mecanizados. Ultimamente, tem sido usadas árvores como abacateiro, macadâmia e mogno africano, combinando efeito micro-climático com renda adicional (frutas e madeira). Deve-se prestar atenção para usar espécies de árvores que não perdem folhas no inverno.
Acima área de cafeeiros atingida pela geada de 20 de julho de 2021. Abaixo, em área vizinha, sem qualquer dano por estar protegida pela arborização com abacateiros. Varginha (MG) - julho/21