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Os Pioneiros de Rochdale

POR ULISSES FERREIRA DE OLIVEIRA

ULISSES FERREIRA

EM 19/11/2018

4 MIN DE LEITURA

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Há vinte anos fui apresentado aos princípios do cooperativismo, sua simbologia, benefícios e formas de atuação. Foi no primeiro ano do curso técnico em agropecuária na Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho (hoje Instituto Federal de Educação, Ciência Tecnologia do Sul de Minas, campus Muzambinho). A matéria ministrada pelo professor Wilson Passos me chamou a atenção, por mais que fosse muito bom nas áreas técnicas, as disciplinas ministradas pelo professor Wilson guiaram minha carreira (prof. Wilson também ministrou a disciplina administração rural).

Para mim fazia todo o sentido o cooperativismo, unir forças, ser solidário ao próximo, criatividade, fraternidade, co-responsabilidade, valores democráticos de igualdade e participação, o desejo de crescer juntos. Afinal falamos de 1998 e naquela época pequenos negócios, pequenos agricultores não tinham muito mais o que fazer do que um ajudar o outro.

Anos depois, lendo o editorial de uma das revistas mais importantes da horticultura no Brasil a Revista HF Brasil do excelente Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da ESALQ, me deparo com a seguinte frase “o produtor do futuro será de grande escala, isso será uma verdade a não ser que o agricultor familiar não perceba que pode obter ganho de escala se organizando em associações ou cooperativas”. Essa frase passou de forma ainda mais ativa a guiar meu trabalho em busca de ser aquele que acredita e viabiliza a união dos pequenos agricultores.

Participei ativamente da criação e fortalecimento de diversas associações e cooperativas, posso me considerar um especialista no assunto, comunidades que antes os próprios produtores juravam ser impossível ter uma união, hoje são fortes comunidades econômica e socialmente. No Sul de Minas esse objetivo é ainda mais difícil dada a cultura voltada mais para o individualismo do que para a união. Ainda tivemos diversos problemas de cooperativas que deram enormes prejuízos a produtores o que torna a missão ainda mais árdua.

Um pouco mais recente em 2011 juntamente com outros grandes profissionais da cafeicultura (atualmente todos especialistas em cafeicultura sustentável), visitei a Fazenda Santa Helena às margens da represa de furnas, a visita à propriedade tinha como objetivo apresentar técnicas novas de cultivo irrigado com alta tecnologia, produção 100% mecanizada, inovadores processos de secagem, diversificação da produção com o cultivo da banana (que começou com o objetivo de solucionar o problema ambiental do resíduo do despolpador do café e se tornou um importante produto na Fazenda), mas para um administrador o que me chamou atenção foram as planilhas e gráficos espalhados em toda a sala de reunião, na fala do gestor da Fazenda Santa Helena o alerta: “O pequeno produtor precisa se unir em associações, cooperativas ou então estará acabado, e não apenas o pequeno, o médio também, e essas associações de pequenos produtores precisam de unir, buscando sempre o aumento de sua competitividade”. Infelizmente não me lembro o nome do gestor, mas muitos o devem conhecer, pessoa altamente competente e que simplesmente deu uma aula de café e gestão.

Atualmente tenho me alegrado, quando vou em eventos, quando visito cidades da região, quando vou em outros estados e vejo algo de interessante e inovador, algo que realmente está mobilizando e transformando o setor agropecuário, sempre tem por trás uma organização de agricultores familiares, sejam associações ou cooperativas, pequenas ou grandes, capitalizadas ou não. A força que move o agronegócio em regiões tradicionais são as organizações da agricultura familiar.

Movidos pela melhoria na venda, pelo acesso ao mercado institucional, por projetos socioambientais, por uma afinidade cultural, não importa o motivo, essas organizações estão presente no cenário nacional e precisam ter voz e sua representatividade reconhecida.

Acredito que o sucesso dessas organizações de agricultores familiares se deve ao fato de se aproximarem muito dos princípios Básicos dos Pioneiros de Rochdale (um grupo com 32 alfaiates, carpinteiros, e trabalhadores braçais que em 1844, na cidade de Rochdale, na Inglaterra, criaram a primeira cooperativa oficialmente registrada como friendly society), que pregavam: a livre adesão e a livre saída dos associados; a igualdade de direitos e deveres, compras e vendas a vista na cooperativa; retorno proporcional; juro limitado ao capital investido, operação com terceiros; formação intelectual dos associados e devolução desinteressada dos ativos líquidos.

Neste sentido faço duas contribuições, acredito que as organizações da cafeicultura familiar que mais se aproximam desses princípios são as que mais estão tendo sucesso, e tenho comigo uma regra básica, empírica e nada comprovada, mas que me norteia, acredito que o tamanho de uma associação/cooperativa deva ser limitado ao número máximo de sócios cujo presidente possa conhecer pessoalmente, ou seja, conhecer mesmo, saber seu nome, seus problemas, suas potencialidades, como está a saúde de sua família, etc. Cooperativas maiores que isso correm o risco de se perderem e deixar de seguir os princípios básicos do cooperativismo.

Finalmente e isso é tema para a próxima evolução do setor, é possível crescer, ganhar escala e competitividade criando redes de organizações, cada uma mantendo a sua originalidade, mas juntas naquilo que o mercado exigir maior escalabilidade.

ULISSES FERREIRA DE OLIVEIRA

Administrador, especialista em cafeicultura sustentável, Diretor do Departamento de Desenvolvimento e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Botelhos e consultor de associações e certificações agrícolas.

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