Presente no lançamento oficial do FairTrade Brasil percebi que muitas pessoas não estavam entendendo o porquê da cerimônia, já que a certificação está presente no território tupiniquim ha mais de 15 anos.
Como sei que essa dúvida está na cabeça de muitas pessoas o artigo de hoje busca explicar passo a passo o que muda com o evento realizado no dia 25 de março de 2015, na cidade do Rio de Janeiro. Diga-se de passagem, um dia histórico.
Bom uma coisa já mudou mesmo antes do FairTrade ser lançado oficialmente no país, a agricultura familiar no Brasil já tem seu lugar e importância reconhecido, uma conquista para mais de 4 milhões de famílias que hoje têm acesso a credito, a assistência técnica e ao mercado, graças a diversos programas governamentais e iniciativas paragovernamentais, tais como a certificação FairTrade.
Atualmente são 40 organizações da agricultura familiar certificadas dentro do sistema de comércio justo, representando mais de 27 mil famílias, sendo dessas 22 no setor cafeeiro. Essas organizações (cooperativas e associações) se destacam dentro do setor agrícola por estarem altamente organizadas, com boa gestão e acesso a mercado e com uma boa capacidade de investimento para a realização de projetos de desenvolvimento, graças ao prêmio.
Mas todo esse movimento era destinado à exportação, não existia uma organização de pessoas engajadas para promover o mercado dos produtos da agricultura familiar no Brasil. Existiam casos pioneiros, com empresas de café, sorveterias, organizações de produtores e o caso mais emblemático que é a cidade de Poços de Caldas (MG) que promove desde 2012 o consumo de produtos de comércio justo.
Agora o que muda é que o consumidor brasileiro será conscientizado da importância da agricultura familiar e terá a oportunidade de contribuir com todo esse movimento, buscando e identificando os produtos com o selo FairTrade.
Para as organizações da cafeicultura familiar FairTrade cria-se um novo mercado (além da exportação), com duas possibilidades: a primeira já debatemos bastante nesta coluna que é a agregação de valor com industrialização do produto. Outra oportunidade é o mercado de produto in natura (ex. café cru) para a indústria nacional que logo estará lançando marcas com o selo do comércio justo.
O varejo nacional, ganha um reforço, principalmente aquelas empresas que já trabalham com o comércio justo ou tenham em seu DNA a ética nos negócios, a certificação FairTrade é um reforço, pois trás uma comunicação forte, fácil e impactante, que diz, essa empresa tem uma preocupação social garantida por um sistema auditado e transparente.
Mas a mudança que realmente importa é que cada vez mais organizações terão a oportunidade de obter a certificação FairTrade, aumentando o impacto e mudando vidas de comunidades que antes estavam à margem do comércio convencional.
Rio de Janeiro inicia processo para ser uma FairTradeTown
No mesmo dia do lançamento do FairTrade Brasil, a cidade do Rio de Janeiro deu o primeiro passo para ser uma cidade de comércio justo e solidário. Reunidos no Museu das Artes, representantes de organizações comunitárias, do comércio, de restaurantes, da prefeitura, do Sebrae e de produtores foram apresentado ao conceito de FairTradeTown (cidade de comércio Justo).
Com o objetivo de promover no mercado local o consumo de produtos com o selo FairTrade a campanha está sendo preparada e os representantes do comitê gestor do Movimento Rio de Janeiro Cidade de Comércio Justo e solidário esperam atingir mais de 100 estabelecimentos disponibilizando produtos de comércio justo. A Meta do Comitê é obter a certificação de FairTradeTown em novembro de 2015.
Certamente o impacto dessa decisão do Rio de Janeiro será gigantesco e a exemplo da cidade de Poços de Caldas, existem muitas pessoas e empresários entusiasmados com a possibilidade de desenvolver um comércio mais justo, direto com o produtor. Para quem ainda desconfia do movimento de comércio justo no Brasil, abre o olho ou vai ficar para trás.