Mas porque nossas próprias cafeterias não apoiam a agricultura familiar, sendo necessário cafeterias da Europa, EUA e do Japão e até da Austrália desembarcarem em solos tupiniquins para se relacionarem com a cafeicultura familiar brasileira?
Bom, talvez seja porque as cafeterias não foram devidamente apresentadas à agricultura familiar, ou o contrário, a agricultura familiar não vislumbrou todo o potencial do mercado nacional de cafés de qualidade, em franca expansão.
Com o papel de contribuir no site com informações sobre o mercado de comércio justo, neste artigo faço a devida apresentação da cafeicultura familiar à cafeterias brasileiras. A missão de apresentar as oportunidades do cenário nacional de consumo de café à agricultura familiar deixo para outros especialistas do site que possuem dados mais concretos que eu.
Quando se fala em cafés de qualidade, aqueles situados regiões montanhosas com altitude entre 800 e 1100 metros, a cafeicultura familiar representa mais de 71% dos estabelecimentos, nessa região a média das propriedades é de aproximadamente 21ha e a área com cultivo de café não ultrapassa 10ha/propriedade.
Falar em cafeicultura, consumo interno, e sustentabilidade desse setor, sem antes ter um olhar diferenciado para os pequenos produtores é algo que não pode ser admitido. Da mesma forma, pensar a expansão das cafeterias sem ter uma estratégia de atuação dessas junto à agricultura familiar seria caminhar na contramão dos principais conceitos de cadeia produtivas sustentáveis.
É certo que negociar com grandes produtores tem suas vantagens e a segurança na garantia de fornecimento e padrão de qualidade, algo difícil de ser oferecido pela agricultura familiar individualizada. Neste aspecto que surge a certificação FairTrade. Ao obrigar essas pequenas propriedades a se organizarem em associação, a certificação possibilita ganho de escala e ainda acesso a mercados internacionais que já perceberam que não é interessante colocar todas as suas fichas em um único fornecedor, quanto mais pulverizado a carteira de produtores e fornecedores melhor para cafeterias e torrefações.
Hoje está em alta os coffee hunters, as cafeterias que buscam oferecer produtos de qualidade e ainda uma história a mais para seus clientes, há um esforço significativo da cadeia produtiva em valorizar a cafeicultura e o cafeicultor, vide Espaço Café Brasil e Revista Espresso. Bom, creio que chegou a hora de incluir a agricultura familiar nesse processo, tirando atravessadores e aproveitando a oportunidade que a certificação FairTrade proporciona para essas cafeterias.
Essa deve ser uma opção estratégica, baseada em princípios, e não apenas uma jogada de marketing, mas com certeza alinhar a empresa a um movimento que busca preços mais justos ao cafeicultor familiar, relações de longo prazo, melhoria contínua, investimento em qualidade, investimentos sociais e ambientais e o desenvolvimento de comunidades tradicionais deve ser o sonho de qualquer cafeteria que deseja expansão nesse mercado que está em alta.
As cafeterias precisam quebrar paradigmas, derrubar pré-conceitos e aproveitar as oportunidades que surgem. Nada melhor do que começar essas mudanças no Ano Internacional da Agricultura Familiar, que é celebrado em 2014. Falta pouco, mas ainda dá tempo.