Por Ulisses Ferreira
Dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 mostram que regiões cafeeiras com predominância da agricultura familiar praticam em sua grande maioria a monocultura do café. Dados analisados mostram um percentual alarmante com mais de 90% das propriedades declarando não possuir outra atividade agrícola que não seja a produção de café, números irrisórios de produtores que têm a pecuária e dados ainda menores de propriedades que têm outros cultivos como hortaliças, frutas ou legumes.
Em tempos de tecnologia avançada no setor cafeeiro, a produção do grão concentra a mão de obra em determinadas épocas, sendo que a colheita está sendo realizada cada vez mais rápida, tratos culturais, como capina, estão sendo semi mecanizados, ou totalmente mecanizados e assim a dedicação do produtor à cultura do café têm reduzido sua demanda por tempo.
Vale lembrar que em período de colheita a dedicação ao produto é essencial e muitas vezes consome todo o tempo do agricultor, principalmente aquele que não conta com funcionários permanentes em sua produção. Sendo essa uma das principais justificativas dos cafeicultores para a monocultura do café.
Entretanto é importante conscientizar agricultores familiares que devido a baixa remuneração do café é preciso buscar outras fontes de renda na propriedade, encontrar formas de diversificação, seja com plantios consorciados, pecuária, agregação de valor a produtos típicos tradicionais, apicultura, horticultura, fruticultura, floricultura, ou seja, alternativas de renda para a manutenção da família no campo com qualidade de vida.
Neste aspecto destaco o papel das associações e cooperativas da agricultura familiar, principalmente àquelas certificadas Fair Trade, é necessário que o cafeicultor tenha orientação e suporte na hora da diversificação. É preciso utilizar o papel organizador e mercadológico da organização e buscar ainda abrir mercados também para o produto da diversificação.
É fato que muitos desses produtos não trazem renda para a organização, mas fazem a diferença para o orçamento das famílias associadas e, afinal, o objetivo dessas organizações não é a melhoria da qualidade de vida de sua comunidade?
Esses dados precisam e devem ser estudados para o planejamento das atividades no campo, certamente são dados que mostram potencialidades e necessidades na cafeicultura familiar e um retrato da competitividade dos municípios.
Regiões tradicionalmente onde a diversidade acontece como Venda Nova do Imigrante ES e Andradas MG o desenvolvimento do município é medido em um PIB per capta elevado, e conhecendo esses município sabemos que são realmente localidades onde há melhor qualidade de vida, mesmo a diversificação não acontece em todas as propriedades, muito longe disto.
Ainda vale ressaltar que a competitividade das atividades secundárias é muito baixa, em muitos casos, beirando uma produção de subsistência, o que demonstra a lacuna da cafeicultura nesta direção e serve de alerta para técnicos e instituições de fomento.
Sei que a diversificação deve ser pensada em conjunto com o mercado, pois produzir todo produtor consegue e o produtor Brasileiro produz com qualidade e eficiência, porém acessar o mercado é o grande gargalo da diversificação, fica assim a dica!