Por Ulisses Ferreira
Nasce um novo e importante projeto para a cafeicultura familiar brasileira: a união das pequenas organizações de agricultores familiares, localizadas nos municípios de Botelhos, Andradas, Caconde, Ouro Fino, Divinolândia e Poços de Caldas, que fazem parte do movimento FairTrade, no sul de Minas Gerais. Esta união representa mais de 600 famílias de agricultores e uma produção de mais de 110 mil sacas de café.
A união teve início em dezembro de 2018 quando as organizações se reuniram em Botelhos – MG para discutir as dificuldades de acesso ao mercado FairTrade e a falta de visibilidade das organizações no cenário nacional e internacional de café.
Como proposta para superar estes desafios foi apresentada a necessidade de união das pequenas organizações para realizações de trabalhos conjuntos e fortalecimento do movimento. Mas faltava um nome para este grupo que representasse a região onde estão localizados, os objetivos e os princípios desse projeto. Foi proposto então o nome Caminho da Fé.
O roteiro “Caminho da Fé” é percorrido anualmente por milhares de pessoas que buscam a renovação da fé e o autoconhecimento passando por cidades da região em peregrinação ao Santuário Nacional de Aparecida. Por passar por todos os municípios participantes do projeto, consideramos que essa seria a melhor forma de caracterizar a união dessas organizações que, em maioria, tiveram início em projetos da igreja, com reuniões iniciais em igrejas rurais, além de estarem inseridas em municípios onde o roteiro é realizado com forte presença de peregrinos às margens de propriedades certificadas FairTrade.
Foi consolidada uma parceria com a Associação dos Amigos do Caminho da Fé – AACF, e o grupo propôs a realização de um Concurso de Qualidade de Cafés, como uma primeira ação em conjunto.
No dia 20 de julho, a primeira edição do Concurso de Qualidades dos Cafés FairTrade Caminho da Fé será oficialmente lançada e contará com a participação de produtores representantes das associações ACAFEG, ASSOFÉ, AABGC, ASSOPRO, APROD e ASSODANTAS, apoiadores do movimento FairTrade no Brasil, cafeterias, exportadores, lideranças locais e regionais e instituições parceiras.
O objetivo do concurso é incentivar os cafeicultores a produzirem cafés de qualidade superior, com maior valor agregado, para atingir novos mercados, mostrando o potencial da região e das pequenas organizações FairTrade da região na produção de cafés especiais. Cada município fará seu concurso local e, em uma segunda etapa, será realizada a final regional com os melhores cafés de cada associação.
O desafio dessas famílias de agricultores é imenso, com geadas, chuvas em época de colheita, secas, furto em propriedades, cafeicultura de montanhas com uso intensivo de mão-de-obra, mercados cada vez mais exigentes e baixa sucessão familiar. Porém o resultado que essas organizações estão obtendo individualmente já pode ser considerado um oásis em uma região carente de inovação e avessa a mudanças. Agora, com a união, o grupo pretende dar saltos cada vez maiores.