Recentemente estive visitando o norte pioneiro do Paraná, região que possui Indicação de Procedência e é caracterizada por uma cafeicultura familiar. Fui a convite da Cocenpp conhecer o trabalho realizado pelo Sebrae/PR e as famílias de agricultores daquela região. Essas visitas são sempre uma grande experiência e nos fazem refletir e mudar, mas nessa em especial fui convidado a falar sobre um tema novo para mim: mercado e comercialização.
Com a baixa dos preços no mercado de cafés é natural que o tema que mais interesse ao cafeicultor é aquele relacionado a projeções da cotação, resumindo: o preço vai subir? Embora não trabalhe necessariamente no mercado do café, todo o trabalho feito com cafeicultores familiares tem como objetivo prepará-los para que possam acessar o mercado de forma mais positiva, porém ministrar uma palestra me ajudou a estudar ainda mais o mercado, as tendências e os desafios, o resultado compartilho aqui com vocês.
Primeiramente me apresentei ao público da palestra como um especialista em agricultura familiar, pois embora não tenha um curso voltado para essa área, minha carreira sempre foi em apoiar este seguimento, sempre me questionei sobre a possibilidade de trabalhar com grandes produtores e as vantagens que teria em direcionar minha carreira para esse segmento em detrimento da agricultura familiar, porém, por vocação, optei por continuar a fazer aquilo que me identifico.
E neste caso não se trata de ser contra grandes propriedades, grandes empresas do agronegócio, trata-se apenas de saber que também existe um seguimento gigantesco de pequenas propriedades, gerenciadas e conduzidas com mão de obra familiar e que esse público também tem um grande potencial.
Além disso, quem não acredita na agricultura familiar, um alerta! “Grandes produtores também quebram, e quando isso acontece o efeito é desastroso”. Dá mais trabalho ter que negociar com vários agricultores, mas diluir os riscos é sempre bom.
No caso da cafeicultura, dados do IBGE mostram que de 30 a 35% da produção é oriunda da cafeicultura familiar. Em termos de sacas, isso representa mais de 17 milhões de sacas (safra 2019). No quesito pessoal ocupado, são mais de 2 milhões de pessoas envolvidas e em regiões tradicionais movimentam a economia de pequenas e médias cidades, tais como as do Norte Pioneiro do Paraná.
Para esses cafeicultores e regiões afirmo que para se manter competitivo é fundamental:
Em primeiro lugar possuir produtividade com manejo, técnicas e investimento em lavouras que resultem em ganhos de produtividade por área, e não em aumento de área plantada.
Segundo, que possam trabalhar lotes especiais e buscar participar desse mercado que cresce exponencialmente, tanto no Brasil quanto em outros países, mas que é extremamente exigente.
Terceiro, e isso sempre digo aqui, que estejam organizados em associações/cooperativas, que estas sejam transparentes, democráticas e enxutas, para que os benefícios do ganho de escala sejam voltados ao produtor e não à organização.
E que tenham uma boa gestão do seu negócio, com planejamento de custos, vendas, estratégico, ou seja, saibam realmente gerenciar com eficiência e eficácia seu negócio. Não há espaço para amadores.
Finalmente, que tenham um diferencial, seja uma produção orgânica, agroecológica, uma marca, cafés premiados, ou seja, algo que agregue valor ao produto e saia da commodity.
Mas vão me perguntar: e quanto ao preço!!!
Sim, o preço quem condiciona é o mercado, pouco o produtor pode fazer nesse sentido, por isso acredito tanto no Fair Trade, por ver consumidores exigindo que compradores paguem um preço mais justo ao produtor. Porém, além disso, é hora do produtor pensar em comercializar seu próprio café, um negócio envolve muitas tarefas e o produtor é muito competente na grande maioria delas, porém deixar a tarefa da comercialização na mão de terceiros é um erro fatal e tem muita gente lucrando com essa “comodidade” do produtor.