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Respostas científicas e gerenciais para incidentes traumáticos que afetam o café

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

P&A MARKETING E EQUIPE

EM 17/05/2016

4 MIN DE LEITURA

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Em recente cerimônia de graduação do Programa Especial de Estudos Urbanos e Regionais em Países em Desenvolvimento (SPURS), programa que me levou originalmente ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), me deparei com trabalhos sobre os desafios de aprender na prática, no caso aplicados aos esforços de planejamento público. Assim como tantas vezes aconteceu em meus trabalhos anteriores, adaptei tais experiências e abordagens a outras situações, outros campos, para ajudar-me a entender melhor o nosso mundo do café. Neste caso específico foi como os produtores de café, seus países e instituições nacionais e internacionais reagem aos incidentes que chamo de traumáticos, como a epidemia recente de ferrugem, a mudança climática e o avanço da broca em muitos países.

Foto: Divulgação/WBC - Amanda Wilson


Os incidentes traumáticos acima têm causado perdas substanciais de produção em anos recentes e gerado respostas científicas em diversos níveis. A epidemia de ferrugem na América Central, México e Peru estimulou a procura por novas variedades resistentes, a infestação de broca na Colômbia trouxe grande ênfase em formas de controle biológico, e a mitigação das mudanças climáticas é o foco de muitos programas nacionais e internacionais que incluem não apenas pesquisa, mas também recomendações práticas para produtores de café, para mencionar apenas alguns exemplos.

Visitando áreas afetadas no México, América Central e Colômbia, assim como áreas que sofreram com as recentes secas no Brasil, foi impressionante ver como as áreas de café mais jovens e vigorosas resistiram de maneira muito melhor e/ou se recuperaram muito mais rápido. Não é segredo para agrônomos e especialistas e óbvio mesmo para leigos como eu, que plantas de café mais jovens, assim como aquelas com nutrição apropriada e sujeitas à prevenção de pragas e doenças comuns, têm chance muito maior de resistir a incidentes traumáticos como aqueles que mencionei.

A recuperação da produção na Colômbia, devido à renovação, e em Honduras, onde a média de idade das plantações é provavelmente a menor da América Central, além do modo como muitas plantações de arábica no Brasil se recuperaram da seca confirmam a necessidade de agregar respostas gerenciais ou de manejo às respostas científicas para prevenir ou minimizar o impacto dos incidentes traumáticos. Por gerenciamento quero dizer, primeiro, utilizar nutrição e procedimentos de proteção da cultura adequados e, segundo, renovar as áreas cafeeiras quando ficam velhas e improdutivas. Apesar de óbvio, isto não vem sendo feito em muitos países produtores assim causando perdas que podem, teoricamente, ser ao menos evitadas. Em casos onde tais medidas de manejo estão totalmente ausentes, a produção de café pode se tornar um exercício de extração da produção de plantas existentes enquanto elas durarem. Este pode não ter sido o caso da maioria das áreas atingidas mais drasticamente, mas é evidente que uma ou várias medidas de manejo fizeram falta.

Sei que as medidas que sugiro são algumas das Boas Práticas Agrícolas que derivam de trabalhos científicos e deveriam ser usadas pelos produtores de café. No entanto, prefiro listá-las como respostas gerenciais, porque a ciência já foi incorporada a estas práticas e o que está faltando é seu uso generalizado devido a gerenciamento deficiente, micro ou macro, dentro ou fora da porteira, respectivamente. Em outras palavras, os produtores de café mais afetados podem ter restringido o uso de tais Boas Práticas Agrícolas por estarem usando seus recursos em outras áreas e conscientemente negligenciando seu café ou porque não têm tais recursos e não existem sistemas eficientes fora da porteira para provê-los, como por exemplo, serviços financeiros e de extensão, mercados futuros ativos ou sistemas de troca, entre outros.

Em resumo, existe um problema de gerenciamento que é composto por falta de recursos em muitos dos países que mais sofrem com incidentes traumáticos. A menos que esses problemas sejam propriamente abordados, o trabalho científico que busca novas variedades e soluções para o câmbio climático, por exemplo, pode ter um impacto limitado nestes países e será utilizado mais efetivamente para melhorar a competitividade do café naqueles países onde o agronegócio está mais organizado e tecnificado, como o Brasil. Como quebrar este círculo vicioso?

A solução está claramente além do produtor e provavelmente além do setor cafeeiro em si. Ela está nas prioridades governamentais, no sistema econômico, em aspectos culturais, no poder relativo das instituições ligadas café, etc. Por exemplo, os governos de países mais afetados terão que decidir se aumentam o apoio ao agronegócio café e isto dependerá de suas prioridades, inclusive geração de moeda forte e de empregos, entre outros benefícios que o café pode proporcionar. Pode ser argumentado que o sistema de cotas que existiu no passado criou um certo nível de suporte de preços e transferência de renda de consumidores para produtores em países que pertenciam ao sistema. Mas o sistema de cotas foi eventualmente destruído pelas distorções de mercado que ele mesmo criou. Na falta do suporte governamental ou de outro apoio, uma alternativa seria focar na produção de cafés de qualidade mais alta, microlotes, comércio justo (fair trade), comércio direto (direct trade), etc., mas a possibilidade de sustentar todo o setor cafeeiro com tais ações é limitada.

Voltando à analogia inicial sobre planejamento, se eu constatei que o desafio lá é aprender na prática, concluí neste artigo que aqui podemos aprender na prática, mas o desafio é como reagir a aquilo que aprendemos.

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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