Como o Brasil tem esse papel importante na formação do preço do café, vale a pena investigar se outros assuntos internos do Brasil, como o cenário eleitoral, também teriam alguma influência no preço internacional da commodity.
Esta correlação é cristalina no mercado de ações brasileiras. Desde junho, toda pesquisa eleitoral que sinaliza alguma chance de vitória da oposição, mesmo que pequena, provoca um impacto positivo no preço das ações. Algo que foi se intensificando, conforme as chances da oposição foram se tornando cada vez maiores, em especial nas últimas semanas com a ascensão da candidata Marina Silva. A mensagem é clara: o mercado acredita que a rentabilidade de longo prazo das empresas listadas em bolsa será melhor com o PT fora do Planalto.
O Gráfico 1 mostra que o índice de ações da Bolsa de São Paulo (IBOVESPA) teve ganhos no dia anterior e/ou no dia da divulgação de todas as pesquisas eleitorais realizadas desde junho. Foram 10 pesquisas do IBOPE ou DATAFOLHA desde então.
Gráfico 1 – Evolução do IBOVESPA desde junho/14 (em pontos). As datas de divulgação das pesquisas eleitorais estão representadas pelas barras que cruzam o gráfico
Já para o mercado de café, esta correlação é inexistente ou aleatória. O Gráfico 2 mostra que os preços do café tiveram altas em 7 dos 10 dias que antecederam ou em que foi divulgada uma pesquisa. Somente no dia da divulgação da pesquisa, os preços do café subiram apenas em 5 ocasiões (contra 8 vezes no caso das ações).
Dado o histórico pouco amistoso de Marina com o setor agropecuário, estas elevações do preço do café podem sinalizar preocupações dos agentes do mercado em relação a futura oferta de café pelo Brasil poder ser afetada por alguma intervenção governamental ou regulatória.
É uma amostra pequena e mais pesquisas eleitorais serão divulgadas até o final das eleições para testar esta hipótese. Eu particularmente considero que seja uma mera coincidência. Em minha opinião, alguns fatores contribuem para a hipótese de falta de correlação entre as eleições brasileiras e o preço do café. São elas:
- A agricultura brasileira tem tido historicamente uma boa performance e altos ganhos de produtividade. E tudo apesar da agenda política do governante de plantão.
- Os agentes formadores de preço no mercado de café (e no de commodities, em geral) trabalham com um horizonte de mais curto-prazo. A colheita atual, a colheita do próximo ano, o consumo atual e as mudanças no nível dos estoques são fatores mais importantes na formação do preço do café do que mudanças (e não rupturas) de governo no Brasil, que podem ter um impacto indireto na oferta do produto somente no médio para o longo-prazo.
- Especificamente no caso de Marina Silva, a pauta ambientalista e de sustentabilidade não deve impactar a oferta de café brasileiro. As fazendas e os métodos de processamento de café no Brasil são considerados de baixo impacto ambiental. Existe margem para aumentar ainda mais a produtividade e a maior parte das potenciais novas áreas de produção não ameaçam a vegetação nativa ou comunidades indígenas.