Por Marcelo Fraga Moreira*
A semana (19 a 23/04) foi positiva para o mercado, com setembro/2021 negociando e fechando em alta todos os dias, “subindo um degrau por dia” (apesar do volume diário ter ficado abaixo das médias, negociando 39.777, 44.814, 31.725, 25.974, e na sexta-feira 50.503 lotes). O contrato setembro/2021 negociou com uma amplitude de 905 pontos, com o fechamento/mínima/máxima a 140,40, 133,05, e 142,10 centavos de dólar por libra-peso respectivamente.
Apesar do mercado ter alcançado na quarta-feira (22/04) a máxima da semana passada em 137,25 centavos de dólar por libra-peso, essa resistência só foi superada no dia seguinte. Quinta-feira (23/04) foi um dia tenso pois o mercado voltou a cair na abertura (negociando na mínima do dia em 134,10 centavos de dólar por libra-peso), o volume foi um dos menores do ano com apenas 25.974 lotes negociados, e o temor durante todo o dia foi “com baixo volume será que os fundos perderam o apetite e vão voltar a vender buscando os 131 centavos de dólar por libra-peso – o suporte da média-móvel dos 72 dias”? Felizmente as compras voltaram e o dia fechou com alta de 205 pontos a 138,15 centavos de dólar por libra-peso. Esse fechamento contribuiu para a sexta-feira (24/04) ter sido o melhor dia do ano (até agora), com setembro/2021 chegando a negociar em 142,10 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 405 pontos e fechou em 140,40 centavos de dólar por libra-peso.
A próxima importante resistência continua sendo o topo da média-móvel dos 50 dias das “linhas de Bollinger” com 142,50 centavos de dólar por libra peso. Rompendo essa resistência o mercado tem espaço para seguir subindo para “buscar” os 152,05 centavos de dólar por libra-peso (high do contrato que ocorreu em 17 de dezembro de 2019), os próximos suportes agora ficaram “longe” com 134,60, 133,90, 131,00, 126,10 e 123,70 centavos de dólar por libra-peso (respectivamente as médias móveis dos 17, 9, 72, 100 e 200 dias).
O mercado tem sido colocado em xeque e vêm sendo alertado pelos produtores brasileiros há meses. Alguns grupos independentes (como a ACB – Associação dos Cafeicultores do Brasil, alguns “lobos solitários” e alguns analistas e produtores) estão alertando sobre os estragos causados pela estiagem prolongada entre março e novembro de 2020 e pela nova estiagem iniciada em março e abril de 2021 (que prejudicaram os frutos nas árvores e o crescimento vegetativo para a florada na primavera). Apesar das previsões da safra recorde de 2020/2021 ter sido ao redor dos 70 milhões de sacas e a safra atual 2021/2022 prevista com um intervalo “de erro” enorme (entre 43-57 milhões de sacas), as informações de campo do início dessa colheita continuam muito desfavoráveis. Há produtores reportando, dentro da própria propriedade, alguns talhões com previsão para colher 40/45 sacas por hectare e outros talhões com previsão para colher apenas 10/15 sacas por hectare. No canéfora (robusta - onde a colheita já está mais avançada), produtores falam de problemas com o tamanho dos grãos, problemas com o rendimento, com grãos defeituosos, e com a falta de chuvas prejudicando as lavouras para a safra 2022/2023.
Na semana, ao mesmo tempo em que tivemos notícias da cooperativa Cocafé informando um consumo firme e problemas na safra 2021/2022 do outro lado a trading Neumann Kaffee Gruppe informou no seu relatório uma expectativa na queda da demanda em função da Covid-19. Por outro lado, a Nestlé divulgou números recordes no seu resultado, com as vendas de café sendo um dos seus principais resultados!
Os fundos e especuladores voltaram a comprar e agora estão comprados em +22,226 lotes x +16.817 lotes na semana passada.
As peças no tabuleiro começam a se movimentar e a ficar mais claras. Acredito que o próximo movimento estará nas mãos dos fundos. Se o mercado conseguir romper os 142,50 centavos de dólar por libra-peso na próxima semana o mercado será colocado novamente a prova. Poderemos ver novos stops sendo acionados, as famosas operações estruturadas (que dobram, aparecem, desaparecem) sendo disparadas, empresas e produtores necessitando “estopar” as posições, e aí sim “XEQUE-MATE”! Quem ainda tem posição para dar liquidez para esse mercado contra a tela de julho/2021 e/ou setembro/2021 a não serem os fundos e os especuladores? Fiquem atentos pois poderá ser uma excelente janela de oportunidades para fixar a safra 2022/2023 e 2023/2024.
Meu receio será a repetição do que ocorreu em dezembro/2019, quando o mercado subiu mais de 3.000 pontos, vários stops foram acionados, e depois do estrago e enormes prejuízos, o mercado voltou para os 110/100 centavos de dólar por libra-peso em 3-5 dias. Lembrem-se: “O mercado sobe em degraus e desce de elevador”.
Nossa recomendação segue sendo cautela. Produtores NÃO vendam mais nada para a safra 2021/2022 enquanto não passar o inverno brasileiro e não tiverem o seu café colhido. Aproveitem essa corrida de curto prazo para travar preços mínimos para safra 2022/2023 e 2023/2024 negociando a compra de “Put-Spread” contra o setembro/22 e/ou já vendendo parte da produção para entrega agosto/setembro-2022 em R$/saca acima dos 850 R$/saca. Ao realizar essa venda simultaneamente comprem proteção/seguro contra novas quebras/altas, contra eventual disparada dos preços através da compra da estrutura de “Call-Spread” no Set-22 (uma vez que contra o setembro/2023-2024 a liquidez é muito baixa, praticamente inexistente).
Já existem cooperativas/tradings dispostas a pagar 810/830 R$/saca para entregas em setembro/2022 -2023! Esses preços, apesar de atraentes, poderão virar um “pesadelo” (como vimos nesse ano onde as vendas “excelentes” entre 550-650 r$/saca agora estão virando uma grande dor de cabeça)!
Como diz o ditado popular “melhor um pássaro na mão do que dois voando”. Se venderem o físico a preços fixos “atraentes” como dito acima, comprem a “Call-Spread” como proteção.
Nossa sugestão é para a compra da “Call-Spread” no setembro/2022 strike + 150/-200. Esta operação fechou a sexta-feira ao redor de 90 R$/saca. Vendendo agora a 850 R$/saca para entrega agosto/setembro-2022, e, se o mercado for negociado acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso, pagando agora os 90 R$/saca o produtor estará protegido entre 150-200 centavos de dólar por libra-peso (recebendo bruto +377 R$/saca e líquido, descontando o valor do custo de entrada, +287 r$/saca). Caso o mercado caia, então a venda inicial @ 850 R$/saca será na realidade 760 R$/saca (descontando o custo de entrada do seguro contra a alta), o que representa hoje um setembro/2022 com 130 centavos de dólar por libra-peso.
Como sempre, sejam prudentes. Protejam-se! O inverno e os riscos das geadas ainda não começaram.
Ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda