Por Rodrigo Costa*
As bolsas de ações ao redor do mundo sofreram perdas em alguns casos de até 20% na semana, sendo que nos Estados Unidos a última quinta-feira teve a maior queda do mercado desde a fatídica “black-Monday”, em 1987.
A Organização Mundial da Saúde declarou pandemia do COVID-19 após o vírus ter se espalhado por todos os continentes e atingido 114 países.
O crescimento exponencial do contágio coloca em risco os sistemas de saúde, já que uma enxurrada de casos pode exceder o número de vagas nos hospitais e de equipamentos necessários para as situações mais críticas de pacientes.
Os governos de países responsáveis estão agindo rápido para tentar diluir a incidência da gripe, com escolas suspendendo as aulas, eventos com grandes aglomerações sendo cancelados e a imposição de restrições às viagens.
Bancos Centrais têm injetado mais liquidez nas economias para tentar amenizar o impacto, entretanto, é inevitável a diminuição do crescimento econômico – a dimensão dependerá de quanto tempo as pessoas terão de ficar em casa.
Assumindo os números divulgados pela China, temos ao menos sessenta dias para a taxa de contaminação cair, tempo que o país asiático levou para conter o surto.
Os três principais índices de commodities foram nocauteados, com o S&PGSCI atingindo o ponto mais baixo desde fevereiro de 2016, o BCOM buscando a mínima de julho de 1986 e o CRB negociando nos patamares de novembro de 2002.
O café em Nova Iorque tentou se segurar, ensaiou uma alta, mas sucumbiu à pressão generalizada, parcialmente influenciado também pelo dólar americano negociado acima de R$ 5.
A movimentação no físico teve pontuais melhoras, mas nas origens a disponibilidade reduzida em nada altera os firmes diferenciais e, no destino, os estoques vão sendo utilizados para reabastecer a estocagem momentânea feita por consumidores assustados e forçados a ficar em casa.
É difícil imaginar que o consumo não seja afetado de forma global, já que em mercados maduros e tradicionais, como a Itália, por exemplo, as cafeterias e restaurantes tem uma contribuição representativa do desaparecimento de café.
Os mais otimistas creem que o consumo doméstico compensará as perdas do consumo fora-de-casa, mas parece improvável que se dê da ordem de um para um.
O fluxo de exportações caindo, por outro lado, seja por diminuição na frequência das rotas marítimas ou de disponibilidade de equipamento, pode acelerar os estoques carregados fora das origens, provocando, inclusive, uma queda dos certificados e um aperto ainda maior dos spreads.
Não é fácil prever o que acontecerá, dado que o evento é novo e não há paralelo recente para servir de comparação.
As medidas adotadas por Donald Trump, anunciadas nos últimos trinta minutos de negociação das ações americanas, foram bem recebidas e a coordenação junto com a iniciativa privada parece que dará o dinamismo necessário para logo passarmos por este baita susto. Espero que o mesmo aconteça no Brasil e que todos saiamos mais fortes e conscientes deste episódio.
Se o otimismo vivido pelo rápido ganho do S&P500 na última hora – e também das cotações do petróleo com a divulgação de compras para a reserva do governo americano – se espalhar para os outros mercados, talvez o café continue sustentando acima de US$ 1 por libra.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting