Por Rodrigo Costa*
A semana de 20 a 24 de abril deu duras lições com o contrato para entrega de maio do petróleo WTI inicialmente caindo 50% para, no fim do pregão da segunda-feira, perder 200%!
Isso mesmo, não se pode mais dizer que algo não pode perder mais do que cem porcento, haja visto que o barril de petróleo chegou ser negociado a - 40 dólares para o contrato mencionado acima, ou seja, o vendedor pagou para o comprador receber o produto.
O principal fator para isto acontecer foi a falta de espaço para armazenar o “ouro negro” dada a vertiginosa queda da demanda frente ao isolamento social forçado pela covid-19.
Na terça-feira (21) o contrato de junho cedeu 40%, refletindo também a rolagem de produtos indexados (como ETFs e ETNs) para outros meses futuros na tentativa de diminuir a exposição dos investidores a vencimentos curtos e uma eventual “quebra” de alguns destes fundos.
Gestores de risco foram forçados a reduzir suas exposições across the board e a curta onda esperançosa de otimismo foi (brevemente?) interrompida, levando o mercado acionário para baixo, na semana, e empurrando o CRB, no dia 21 de abril, para o menor patamar da história.
A cesta de commodities recuperou a maior parte das perdas nos dias seguintes, mas o café na sexta-feira tomou um tombo empurrado pela desvalorização do Real, com o câmbio atingindo R$ 5,7475 – nova mínima nominal. A moeda brasileira sofre influências negativas de todos os lados.
Como se já não bastasse o cenário econômico frágil por conta da pandemia, há também as constantes crises políticas prejudicando o andamento do governo. Por outro lado, Bolsonaro parece estar se aproximando (para o bem ou para o mal) das forças as quais ele era ferrenho crítico anteriormente – buscando governabilidade?
O começo da colheita no Brasil e uma moeda fraca fizeram os diferenciais de reposição abrirem mais e não demorou para os descontos serem repassados aos compradores internacionais. A demanda externa, entretanto, ainda tem se concentrado no curto-prazo, atendendo as reposições de estoques usados para abastecer os supermercados no destino.
Para o segundo semestre do ano, o tom é de cautela por parte da indústria, haja vista as incertezas do comportamento do consumo diante de um cenário onde o desaparecimento pode diminuir significativamente, segundo os mais pessimistas, ou ter um “crescimento nulo” – o último sendo o que no momento acredito ser o mais prudente considerarmos.
Bastante relevante para acompanharmos será a mudança do perfil das qualidades utilizadas ao consumidor, o qual pode eventualmente buscar alternativas mais baratas e assim beneficiar os cafés menos finos e o canéfora, em geral.
Londres não tem refletido ainda uma procura maior e assim o contrato de café negociado naquela bolsa foi buscar níveis que não víamos desde 2006. A entrada da safra do canéfora (conilon) pode ser responsável por isto, pois o terminal pode ser o maior “tomador” do excedente exportável depois dos problemas vividos no ano passado.
Os estoques certificados do “C” mantem a trajetória de queda estando agora em 1.8 milhões de sacas, mas os embarques brasileiros se mantendo acima de 3 milhões de sacas em abril e maio, e a perspectiva do aumento das exportações com o avançar da colheita, podem diminuir o ritmo da utilização e fazer a estrutura alargar novamente.
Tecnicamente Nova York precisa se manter acima de US$ 106.00 centavos por libra peso, caso contrário pode testar 101.40 e depois a mínima do ano, 99.70.
Uma ótima semana a todos com muita saúde.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting