Por Marcelo Fraga Moreira*
Mais uma semana (de 23 a 27 de agosto) “sem graça”, com pouca liquidez e atenção total nas previsões meteorológicas em busca das chuvas e ao acompanhamento diário nas condições das lavouras.
Apesar da amplitude dezembro/2021 em +1.415 pontos entre o “low e high” (180 – 194,15 centavos de dólar por libra-peso) o mercado conseguiu se sustentar, consolidar, e trabalhar acima dos suportes das médias móveis dos 17 e 9 dias (respectivamente em 183,30 e 186,30 centavos de dólar por libra-peso). Finalmente, na sexta-feira (27/08) o mercado acordou, engatou a terceira, a quarta, a quinta marcha e conseguiu romper a primeira resistência nos 190,50 centavos de dólar por libra-peso (chegou a negociar no “high” da semana em 194,15 centavos de dólar por libra-peso) e com o fechamento oficial em 192,20 centavos de dólar por libra-peso. A resistência psicológica dos 200 centavos de dólar por libra-peso segue pesando em todos os demais vencimentos, com o vencimento setembro/2023 fechando em 199,20 centavos de dólar por libra-peso!
Os volumes diários nos primeiros dias da semana foram muito baixos (+16.083 lotes na segunda-feira; +30.747 lotes na terça-feira (23/08); +28.275 lotes na quarta-feira; + 23.017 lotes na quinta-feira), e finalmente na sexta-feira (27/08) voltou a negociar +39.345 lotes.
A semana também começou “de lado” com os mercados globais aguardando o discurso do presidente do FED – Sr Jerome Powell – as 11.00 horas, horário de Brasília, na sexta-feira. Para a alegria de muitos o Banco Central americano indicou que irá seguir com cautela a redução/retirada dos estímulos financeiros que estão sendo injetados na economia desde o início da pandemia. Os mercados voltaram a subir com força e o petróleo tipo “brent” voltou a negociar acima dos 71,50 US$/barril e o tipo “WTI” acima dos 68,50 US$/barril (alta de quase +10% na semana).
Com a sinalização da manutenção dos juros americanos nos níveis atuais por mais alguns meses o Real voltou a negociar abaixo dos 5,20 R$/US$. A tendência continua sendo o Real voltar a trabalhar próximo/abaixo dos 5,00 R$/US$ até o final do ano. A expectativa da entrada de capital especulativo de curto prazo para aproveitar os spreads financeiros continua (claro, considerando “condições de temperatura e pressão normais” do lado político/fiscal em Brasília). Com a inflação fora do controle (o IPCA @ 8,99% e o IGPM @ 33,83% acumulados nos últimos 12 meses), o Banco Central não terá outra alternativa a não ser aumentar os juros internos até o final do ano. Alguns analistas/bancos já estão estimando que a taxa Selic deverá terminar o ano entre 8-9%.
Mercado interno segue firme, com os compradores (tradings/cooperativas e indústria) procurando comprar lotes para cobrir suas necessidades de curto/médio prazo e “sair do mercado rápido” para não “sustentar” os preços. Produtores continuam altistas, vendendo apenas o necessário para pagar as contas de curto prazo.
Dependendo da qualidade do café e do tamanho do lote o mercado continua negociando entre 950-1.150 R$/saca para café tipo arábica (mais prêmio entre 20-70 R$/saca para café certificado e para o tipo “cereja descascado”) e entre 550-700 R$/saca para o café canéfora (robusta). Ou seja, já tem café tipo arábica/produtor vendendo café de qualidade acima dos 1.200 R$/saca.
Outra notícia positiva para ajudar a sustentar os preços veio novamente do Vietnam com o governo local voltando a fechar a região produtora/exportadora da cidade de Ho Chi Minh. Com novos riscos para atrasos nos embarques, e com os fretes ainda muito acima dos preços normais, as cotações para o canéfora na bolsa de Londres voltou a negociar acima dos 2.000 US$/tonelada! Essa notícia ajudou a dar sustentação no mercado interno brasileiro com exportadoras/tradings buscando cobrir suas posições por aqui também.
Os valores dos fretes seguem nas alturas (com fretes antes na casa dos 1.500-2.000 US$/contêiner ainda acima dos 10-15.000 US$/container para o mesmo destino). Os números das exportações brasileiras para o mês de agosto serão anunciados na próxima semana, e deverão ficar novamente abaixo das 3 milhões de sacas.
As chuvas voltaram a cair nesse final de semana trazendo certo alívio para os produtores. Porém, para a recuperação “plena” das lavouras serão necessárias novas chuvas (volume acima dos 150-200 mm) e chuvas constantes durante as próximas semanas. A crise hídrica segue sendo uma das mais sérias dos últimos anos e tanto o governo federal e quanto alguns governos estaduais já começaram a aplicar planos de contingência/racionamento. Já é esperado novo aumento na conta de luz e claro, aumento nos custos de produção.
Mercado segue preocupado com os participantes de olho nas previsões climáticas, nos mapas de temperatura e chuvas, e nas previsões dos efeitos “la niña”/êl niño”.
Muitos produtores afetados pela geada já decidiram mudar de cultura, já passaram o trator em suas lavouras e já estão prontos para iniciar novas aventuras no mundo dos grãos. Para os produtores ainda na dúvida sobre o que fazer, e para os que tem condições para diversificar, a nossa recomendação é para diversificar mesmo e “não colocar todos os ovos na mesma cesta”.
Dependendo da intensidade das chuvas nesse final de semana e, caso as temperaturas voltem a subir na sequência, poderemos assistir a uma florada que não irá vingar. E aí, a safra 2022/2023 estará seriamente comprometida.
Os fundos+especuladores reduziram a posição no período em -285 lotes e continuam comprados em +35.320 lotes.
Segundo analista da trading Olam (em matéria publicada na Bloomberg na última quinta-feira) a próxima safra brasileira 22/23 deverá ter uma quebra ao redor dos 8-12 milhões de sacas com uma produção para o café tipo arábica estimada em 48 milhões de sacas. Para essa produção ocorrer o analista confirma a necessidade de “chuvas e não garoas” para os próximos 60 dias.
A safra 2021/2022 continua sendo uma incógnita, com a produção estimada ainda entre 40-57 milhões de sacas! Considerando a produção do café tipo robusta em 18 milhões de sacas então a produção do café arábica continua oscilando entre 22-39 milhões de sacas. Existe uma “Colômbia” de diferença nas estimativas da safra brasileira.
Também em relação a Olam, após o meu comentário da semana passada “Na semana saíram “notícias/rumores” de “brigas” entre produtores e a trading Olam. Segundo informações os produtores estavam buscando renegociar suas entregas para as próximas safras oferecendo garantias reais e a trading se recusando a aceitar. Com as famosas “travas” realizadas entre 450-700 R$/saca e um mercado spot sendo negociado acima dos 1.000 R$/saca essa “briga” promete!” eu conversei longamente com um trader da empresa e essa informação não procede. Segundo a fonte a empresa vem realizando rolagens/wash-outs e compondo com todos seus fornecedores. Então, Olam, aceitem nossa retratação aqui.
Próxima semana deverá ter novas e fortes emoções. Mercado deverá seguir atento aos problemas logísticos/abastecimento, avanço ou não de novos casos de Covid-19 e sua variante Delta, dados referentes ao crescimento das economias mundiais, atenção nas novas “jogadas” dos principais países (Estados Unidos/Rússia/China e alguns europeus) com a nova geopolítica no Oriente Médio, atenção ao término da colheita brasileira da safra 2021/2022 e aos preparativos para a manifestação programada para o próximo dia 07 de Setembro – dia da Independência do Brasil. E claro, atenção no movimento dos “fundos+especuladores”, com os suportes e resistências.
Para dezembro/2021 o mercado segue com importantes suportes nas médias móveis dos 9 e 17 dias em 186,30 e 183,30 centavos de dólar por libra-peso e resistência @ 206,50 centavos de dólar por libra-peso
“Sugestões da semana”:
Mercado Spot: Seguir vendendo apenas o necessário para pagar as contas do dia/semana, com preço mínimo 1.150 R$/saca para o café arábica e 1.250 R$/saca para “cereja descascado” e 700 R$/saca para o café canéfora (robusta).
Para produto com entrega a partir de 15 Set até dezembro/2021: precificar a venda contra o contrato dezembro/2021 buscando um desconto máximo em -20 pontos. Com base no fechamento da última sexta-feira em 192,20 centavos de dólar por libra-peso, um desconto de -20 pontos e um Real futuro 5,28 R$/US$ a liquidação para o produtor já está acima dos 1.200 R$/saca.
Analisar a compra da opção de venda “Put” strike 190 e vender a opção de compra “Call” strike 210. Essa operação terminou na sexta-feira com um custo aproximado de 31,00 R$/saca. Essa operação garante um preço mínimo ao produtor ao redor de 1,150 R$/saca (já considerando o custo da operação) e um preço máximo de 1.325 R$/saca (desde que dezembro/2021 feche acima dos 190 centavos de dólar por libra-peso e acima dos 210 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções do dezembro/2021, ao redor do dia 10-15 de novembro/2021.
Para a safra 2022/2023:
No setembro/2022 – Comprar a opção de venda “Put” strike 190 e vender estrutura “Call-Spread” strike -250 / + 300. Essa operação terminou na sexta-feira com um custo aproximado de 128 R$/saca (garantindo um preço mínimo ao produtor ao redor de 1,100 R$/saca – já considerando o custo da operação – e um preço máximo até 1.660 R$/saca e desde que o Set-22 feche acima dos 190 centavos de dólar por libra-peso e acima dos 250 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções do Set-22, ao redor do dia 10-15 de Agosto de 2022).
O produtor ficará exposto ao risco caso o mercado negocie no intervalo entre 250-300 centavos de dólar por libra-peso e estará protegido acima dos 300 centavos de dólar por libra-peso. Nesse caso, produtor terá um prejuízo limitado em até 361 R$/saca, realizando a venda final 1.299 R$/saca (1.660 R$/saca menos o prejuízo dos 361 R$/saca no caso do mercado subir e fechar acima dos 300 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções em Agosto-22).
Lembrem-se entre “hoje” até o início da próxima colheita em junho/2022 ainda teremos um mercado com muita volatilidade e incertezas. A crise hídrica será resolvida? As lavouras vão se recuperar? Outros países produtores irão aumentar ou reduzir suas safras? Teremos novas geadas? Como o Real irá se comportar com o clima das eleições já no ano que vem? Vai para 5,00 ou para 7,00 R$/US$? Muitas variáveis para serem analisadas, ponderadas, precificadas.
Ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.