Por Marcelo Fraga Moreira*
Apesar da semana (15 a 19 de fevereiro) ter sido “mais curta” com o Carnaval e com o feriado do “Dia do Presidente” na segunda-feira nos Estados Unidos, setembro/2021 oscilou entre a mínima e a máxima 126,80 e 133,85 centavos de dólar por libra-peso respectivamente, encerrando a sexta-feira (19/02) 132,90 centavos de dólar por libra-peso. Já setembro/2022 oscilou entre a mínima e a máxima 134,15 e 138,15 centavos de dólar por libra-peso respectivamente, encerrando a sexta-feira em 136,95 centavos de dólar por libra-peso. Esses patamares de preços continuam proporcionando aos produtores travas via operações de compra de “Put-Spread com venda de Call ou venda de Call-Spreads” para a safra 2021/2022 e 22/23 bem interessantes para os produtores brasileiros.
Na semana o mercado atingiu seus objetivos técnicos de curto prazo com o setembro/2021 “beliscando” a importante resistência de 134,40 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão a 137,60 e 152,05 centavos de dólar por libra-peso (esta última atingida em 17 de dezembro de 2019)! No curto prazo não vemos motivos para as cotações voltarem para 120/110 centavos de dólar por libra-peso.
Mesmo com todas as notícias políticas e econômicas vindas de Brasília o Real seguiu a semana estável, fechando o spot 5,38 R$/US$. Tivemos chuvas muito fortes em algumas zonas produtoras (nos Estados de Minas Gerais e Vitória), com os estragos ainda sendo levantados. Por outro lado, a colheita do canéfora (robusta) já começou em algumas regiões e por enquanto as informações referentes a produtividade e a qualidade seguem positivas. A grande preocupação do mercado é a real quebra na produção do arábica. Novos levantamentos continuam sendo realizados in loco, e as informações indicam quebras de até 80% em algumas lavouras visitadas nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. As “perguntas de 1 e 2 Milhões de dólares” continuam em aberto.
Mesmo sem saber qual será a produção para a safra 2021/2022 muitos produtores e analistas já estão querendo adivinhar e prever qual será o tamanho da próxima safra 2022/2023 e 2023/2024. Não será um pouco cedo para já começar a “numerologia” e a começar a discutir “o sexo dos anjos”?
Alguns analistas “baixistas” questionaram nossos números da semana passada onde mostramos que a OIC (Organização Mundial do Café) prevê um estoque de passagem ao redor de 5 milhões de sacas. Alguns estão estimando o estoque brasileiro ao redor de 10 milhões de sacas para a safra 2020/2021. Ora, ao nosso ver, o que interessa realmente é o estoque global de passagem e não apenas o estoque brasileiro. Qual o tamanho real da quebra do Vietnã? Indonésia? Colômbia? Honduras? Países africanos? Quem souber, tiver números atualizados e puder compartilhar desde já agradecemos. Afinal, informações corretas e fidedignas são e serão sempre bem-vindas.
O Brasil realmente teve uma safra recorde em 2020/2021 (entre 65-72 milhões de sacas – será este número também confiável?). Então, claro que para a safra 2020/2021 o Brasil realmente tem produto disponível (tanto que o Brasil vem exportando 3-4 milhões de sacas por mês). Esse café brasileiro tem sido o grande responsável pelo aumento dos estoques de “café certificado”. Se não fosse pela reposição dos estoques certificados com café brasileiro onde estariam as cotações em Nova York hoje? 200-300 centavos de dólar por libra-peso?
O mercado interno segue com poucos negócios sendo realizados/reportados, com produtores extremamente cautelosos em realizar novas vendas para entrega spot. Preços continuam firmes já atingindo 750 r$/saca para algumas qualidades e regiões. Na média, café segue com suporte nos 700 r$/saca. Para entregas futuras, para agosto-dezembro-21 negócios praticamente parados pois produtores estão aguardando o início da colheita, atravessar o período do inverno e ver realmente quanto irão colher e como será a qualidade das suas lavouras.
Na semana a grande preocupação nos mercados mundiais voltou a ser a volta da inflação, ou, da REFLAÇÃO (Política macroeconômica que faz uso de estímulos fiscais ou monetários para fomentar a produção e aquecer o mercado de consumo do país, como combate às crises econômicas). Essa “Reflação” poderá levar a falta/aumento dos preços dos produtos e ao temível aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. Este aumento de juros nos Estados Unidos, como sabemos, trabalham como vasos comunicantes em todas as economias globais. O aumento nos juros americanos significa a valorização do US$ frente às demais moedas globais (os juros americanos já passaram de 0,90% ao ano para 1,30% ao ano na semana). Nesse caso, para onde irá o real? Começamos o ano com mercado estimando o R$/US$ voltando a negociar abaixo dos 5,00 R$/US$. E agora? Poderemos ver o R$ desvalorizando novamente indo buscar os 6,00 R$/usd ou o R$ seguir valorizando (com o avanço das reformas fiscal e tributária) e voltar a negociar abaixo dos 5,00 R$/US$? Façam suas apostas!
As principais economias do mundo continuam vacinando sua população (os Estados Unidos estão prevendo vacinar toda sua população até final de Maio/2021) e em breve a vida deverá voltar ao normal nos principais centros consumidores. Números divulgados nessa semana indicam que o consumidor americano nunca poupou tanto e nunca teve tanto dinheiro disponível para ir as compras, ir para o consumo. Com o início da pandemia, com os pacotes americanos direcionando ajuda financeira para sua população, muitos economizaram e pouparam temendo dias piores! Desta forma, com a retomada da “vida normal”, o mercado aguarda uma retomada no consumo com grandes riscos na volta da inflação e do desabastecimento no curto prazo.
No Brasil, mesmo com a taxa de juros interbancária ainda nos 2% ao ano, o IGPM referente o mês de Janeiro/2021 veio em +2,58% (nos últimos 12 meses já acumula alta em +25,31%). Estamos vendo aumentos em todos os setores da economia: transporte, alimentos, serviços, insumos, fertilizantes, planos de saúde, medicamentos, automóveis, materiais de construção, etc. Só em 2021, nos últimos 40 dias, o combustível subiu +34%! Soja e milho subiram mais de 80% no último ano refletindo no aumento dos preços da carne e de seus derivados!
O Brasil segue sendo o “celeiro do mundo” mas segue sem políticas internas para manter os preços internos sobre controle (alegando ser uma economia de livre-mercado). O Brasil não tem mais estoques reguladores, e por incrível que pareça, estamos sendo forçados a importar soja, milho, arroz para tentar segurar os preços internos, para reduzir a inflação. O que vale alimentar outros países do mundo e deixar seu povo passar fome? Longe de sermos “socialistas”, contra o lucro das empresas, sobre a dinâmica dos mercados. Mas tudo tem um limite, e para evitar o empobrecimento da sua nação, uma eventual “guerra civil” nossos governantes precisam rever nossas políticas de abastecimento, estoques estratégicos para a manutenção da estabilidade dos preços no médio e longo prazo! E não apenas do combustível! Será que ainda vamos ver o Brasil importando café?
Para evitar o desabastecimento será que vamos ter que voltar a ter “quotas de exportação”? Quem se lembra da CACEX (CARTEIRA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BANCO DO BRASIL) / CONAB / ARMAZENS GERAIS?
Acreditamos que vale a “reflexão”!
Com relação ao nosso café, seguimos altistas para o médio prazo. O clima segue “maluco”, com neve no Texas-EUA, chuvas e veranico nas regiões sudeste/centro-oeste e geadas no sul do Brasil! Como será nosso próximo inverno? O grande risco segue sendo eventual geada. E se a geada ocorrer o mercado explode. Nesse sentido, chegou a hora para o produtor comprar seguro, comprar “Calls” fora do dinheiro para o setembro/2021 (calls de 180/200 centavos de dólar por libra-peso).
Para os produtores que ainda não fixaram suas produções, caso o mercado siga subindo comprem “Put” ou “Put Spread” para o setembro/2021, setembro/2022 e quem sabe até mesmo Set-23. Aguardem para vender “Calls” mais para frente, em maio/junho (quando o frio começar a chegar)! Como sabemos e já assistimos inúmeras vezes “da mesma forma que o mercado sobe o mesmo derrete”. E já ouvimos e vimos várias vezes a expressão “O Mercado sobe de escada e desce de elevador”.
Sugerimos a proteção, a garantia para o preço mínimo de remuneração pra o produtor acima dos 600/700 R$/saca.
Para setembro/2021, com a alta desta semana, sugerimos a compra do “Put-Spread” strike +130 x -110 centavos de dólar por libra-peso E travando o R$ - esta operação garante um preço mínimo ao redor dos @ 750,00 R$/saca – DESDE QUE O CONTRATO SET/2021, NO DIA DO VENCIMENTO DAS OPÇÕES FECHE ACIMA DOS 110 centavos de dólar por libra-peso E VENDENDO O REAL @ 5,40 R$/US$;
* AGUARDAR PARA VENDER A “CALL” PARA TRAVAR/FINANCIAR A OPERAÇÃO;
Para o setembro/2022, com a alta desta semana, sugerimos a compra do “Put-Spread” strike +135 x -110 centavos de dólar por libra-peso E travando o R$ - esta operação garante um preço mínimo ao redor dos @ 800,00 R$/saca – DESDE QUE O CONTRATO SETEMBRO/2022, NO DIA DO VENCIMENTO DAS OPÇÕES FECHE ACIMA DOS 110 centavos de dólar por libra-peso E VENDENDO O REAL @ 5,50 R$/US$;
ATENÇÃO com as operações “estruturadas” tanto para produto quanto para a taxa de câmbio. Não coloquem riscos desnecessários nos livros e não se comprometam com vendas acima dos 50% da sua produção anual futura por enquanto.
Quem puder, recomendamos assistir ao último vídeo do Pablo Spyder.
Uma ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
As informações são da Archer Consulting