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Tempo seco pode antecipar colheita da próxima safra de café

ESPAÇO ABERTO

EM 21/03/2022

7 MIN DE LEITURA

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Por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro*

Nos últimos 30 dias o acumulado de chuva superou os 200 mm nos estados do Amazonas, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso. Em Minas Gerais, o acumulado variou desde 25 mm, no extremo Norte do Estado, até valores superiores a 150 mm na região da Zona da Mata Mineira. O calor, típico da estação, esteve presente mesmo nos dias de chuva.

O fenômeno ENOS

Considerando-se que os ventos alísios mantiveram-se acima do normal em fevereiro e as atividades convectivas abaixo do normal na região equatorial do Pacífico, próximo a 180º (linha de data), e que em março as anomalias negativas do calor (entre 0 e 300 metros de profundidade - Figura 1), persistem a Oeste entre 110 º e 170º, as condições de La Niña devem continuar até o final do outono com possibilidade de uma condição ENOS-neutro no inverno.


 

Variação longitudinal e temporal, das anomalias (em relação às temperaturas médias calculadas no período de 1991 a 2020) que ocorrem nas temperaturas dos primeiros 300 metros de profundidade dos oceanos ao longo do equador. Realizada em 09 de março de 2022. Fonte Centro de Previsão Climática do NOAA. 

O equinócio de outono

O outono teve início às 12h33m do dia  20 de março e terá duração de 92 dias, 17 horas, 40 minutos. Nesta data do equinócio de outono o dia e a noite têm, aproximadamente, 12 horas de duração. Apesar de que, na maior parte da Terra, no equinócio, a duração da luz solar é um pouco maior que 12 horas. De fato, a data em que o dia e a noite têm a mesma duração em número de horas ocorre um pouco depois do equinócio de outono e um pouco antes do equinócio de primavera, é o chamado Equilux. Nesta data tem início a “queda astronômica”, ou seja, a redução das horas de luz solar ao longo do dia, passando os dias a serem mais curtos do que a noite durante essa estação.

O clima de outono

A estação de transição entre o verão e o inverno que ocorre nos meses de abril, maio e junho, tem como característica, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, a chegada de frentes frias que passam a derrubar a temperatura do ar causando a redução gradual da temperatura e das chuvas e, consequentemente, da umidade relativa ao longo da estação. Nessa estação os nevoeiros passam a ser mais presentes, principalmente em regiões montanhosas.

As chuvas nos próximos meses

Em abril, há a probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média na área verde do mapa (Figura 2) a partir das mesorregiões do Sul da Bahia, Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas, Leste Goiano, Nordeste e Norte Mato-grossense. Chuvas abaixo da média são esperadas no Marajó e no Nordeste Paraense, bem como em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, especialmente nas mesorregiões Sudeste e Sudoeste desse estado.


 

Resumo da categoria mais provável de chuva para o mês de abril. Criada a partir dos dados de previsão sazonal do Centro Europeu para Previsões Meteorológicas de Médio Prazo. Verde: acima da média/ Marrom: abaixo da média/ Branco: dentro da média. Fonte: ecmwf.int. 

Em maio, a probabilidade de chuvas acima da média abrange a área verde (Figura 3) demarcada por uma faixa envolvendo as mesorregiões desde o Nordeste Baiano, passando pelo Sul Cearense, Centro Norte Piauiense, Centro Maranhense, Sudoeste Paraense e a porção oriental do Sul Amazonense até o Norte do Amazonas. Já chuvas abaixo da média, demarcada pela área em marrom, devem ocorrer em quase todo o estado de São Paulo e todo o Sul do Brasil, com exceção da mesorregião Sudeste Rio-grandense.


 

Resumo da categoria mais provável da chuva para o mês de maio. Criada a partir dos dados de previsão sazonal do Centro Europeu para Previsões Meteorológicas de Médio Prazo. Verde: acima da média/ Marrom: abaixo da média/ Branco: dentro da média. Fonte: ecmwf.int. 

Em junho somente nas áreas em verde (Figura 4) que abrangem a mesorregião do Marajó e do Nordeste Paraense, uma parte do Amazonas e Baixo Amazonas bem como em uma faixa mais litorânea do Nordeste do Brasil são esperadas chuvas acima da média. Nas demais regiões brasileiras é esperado que as chuvas ocorram dentro da média do mês.


 

Resumo da categoria mais provável da chuva para o mês de junho. Criada a partir dos dados de previsão sazonal do Centro Europeu para Previsões Meteorológicas de Médio Prazo. Verde: acima da média. Branco: dentro da média. Fonte: ecmwf.int. 

 

Umidade no solo em Minas Gerais

As microrregiões com maior disponibilidade de água no solo acima de 90%, são: Uberlândia, Patrocínio, Patos de Minas, Araxá e Manhuaçu; entre 80 e 90% estão as mesorregiões do Campo das Vertentes e das Matas de Minas, com exceção nessa última da microrregião de Cataguases, e as microrregiões de Pirapora, Paracatu e Unaí. As demais regiões do Estado variam com solo com umidade desde 30 a 60%, sendo que os municípios mais secos são: Três Pontas, Carmo da Cachoeira e Varginha, na microrregião de Varginha, e Senhora do Porto, na microrregião de Guanhães.

As temperaturas no próximo trimestre

Temperaturas mais amenas (pouco abaixo da média) no trimestre abril a junho são esperadas na área destacada em azul nas mesorregiões do Vale São-Franciscano da Bahia, São Francisco e Sertão Pernambucano, Sul Cearense, Sertão Paraibano, Central Mineira, Oeste de Minas, Metropolitana de Belo Horizonte, Campo das Vertentes, Zona da Mata e Sul/Sudoeste de Minas. E temperaturas pouco acima da média são esperadas nas mesorregiões do Pantanal Sul e Centro Sul Mato-grossense.


 

Resumo da categoria mais provável da temperatura para o trimestre abril/junho. Criada a partir dos dados de previsão sazonal do Centro Europeu para Previsões Meteorológicas de Médio Prazo. Azul: abaixo da média/ Laranja: acima da média/ Branco: dentro da média. Fonte: ecmwf.int. 

A chuva nas próximas semanas

Nas próximas duas semanas são esperadas poucas chuvas nas mesorregiões da Zona da Mata, Vale do Rio doce e Sul/Sudeste de Minas. As chuvas devem reduzir nas demais regiões de Minas e nos estados de Goiás e Bahia. Maiores volumes de chuva são esperados nos estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.

Café

O atual clima tem sido caracterizado por pancadas de chuvas isoladas e temperaturas elevadas. Todavia, com a expectativa de pouca chuva para os próximos meses poderá ocorrer o estímulo de antecipação da próxima safra. Diante da previsão, o produtor precisa cuidar mais da sua colheita para obter cafés de qualidade, pois nestes tempos de escassez do produto ele poderá conseguir bons preços com a atual safra. 

Como está muito próxima a época da colheita do café, o produtor deve verificar o funcionamento dos motores, a lubrificação e o engraxamento de derriçadeiras e de todos os equipamentos utilizados no processamento do café. Deve-se verificar também a disponibilidade de materiais de colheita como panos, sacarias, peneiras, lonas, barbantes, rodos, garrafas térmicas, entre outros.

Especial atenção deve ser dada aos tratos culturais das lavouras, incluindo a adubação dos solos e foliares, o controle de plantas espontâneas, das pragas e doenças e, principalmente, da cercosporiose que neste ano tem se apresentado de modo intenso, além das desbrotas devido ao elevado número de podas realizadas após a safra passada.

Considerando-se que as chuvas contribuíram com a fase de enchimento dos grãos e, consequentemente, com a recuperação das lavouras, apesar de no presente ano os cafezais não estarem carregados, na atual safra o produtor pode compensar a redução da produtividade com maior investimento na qualidade do café.

Com relação ao mercado do café, este tem se mantido com tendência de oscilação nos preços, sendo que o cafeicultor que possuir estoques deve ficar atento e aproveitar o momento certo para vender de acordo com sua necessidade.

Prognóstico

As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme) / CPTEC-Inpe.

O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.

*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. - williams.ferreira@embrapa.br .

*Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.

As informações são da Epamig.

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